Arquivo | 01-03-2006 11:45

Duas caixas de papelão e talento

Um sonoro “có-có-ró-có-có” acompanha o nascer do dia que interrompe a escuridão que inundava o palco. A luz artificial do sol põe a descoberto duas caixas de papelão alinhadas. Depois de uns instantes de suspense surgem delas dois seres bastante peculiares: o Cominhos e o Barto. Perdão, o Bartolomeu.Os dois são as personagens principais da nova peça do Cegada – Grupo de Teatro. “Kikerikste” é a aposta do grupo para a II Amostra de Teatro de Alverca.Na sua caixa, o Cominhos, com o seu casaco roto e velho, começa o dia com a ginástica. Ao lado, o polido Bartolomeu, com um casaco igualmente roto, escova os dentes, penteia-se e limpa os seus sapatos. Refira-se, sempre com a mesma escova. Realizadas as rotineiras actividades matinais, Cominhos e Bartolomeu iniciam uma outra rotina: provocarem-se. O desleixado e inocente Cominhos diverte-se a chamar Barto ao Bartolomeu, o que este detesta. Na paga Bartolomeu chama Cominhos de porco. Ofendidos um com o outro num momento, no outro a seguir só pensam na brincadeira que vão fazer. E assim passam os dias. Cantam, brincam com as suas “casas”, as caixas, ou qualquer outra coisa que lhes passe pela cabeça. Até que um dia esta convivência harmoniosa é posta em causa com a chegada de um Músico, um tocador de caixa. Uma figura “certinha” com uma farda brilhante que vem afastar os dois amigos de sempre. Cominhos e Bartolomeu querem ser como o Músico, marchar como o Músico e por isso aceitam todas as regras que este lhes impõe. No final, enganados pelo Músico, percebem que nunca quiseram ser “certinhos”. E a harmonia volta a reinar entre os dois habitantes das caixas. Rui Sirgado vestiu a pele de Cominhos e Ricardo Cupertino de Bartolomeu e ambos dizem estar a adorar a experiência. Rui Sirgado descreve o Cominhos como um “homem jovem e inocente” que tem como ambição ser feliz e isso passa, sobretudo, pela brincadeira. Já o Bartolomeu é uma pessoa mais cuidada, e as suas brincadeiras têm sempre alguma malícia. “Uma necessidade que tem para se sentir bem”, explica Ricardo Cupertino. A peça é dirigida aos mais novos, mas as mensagens destinam-se a todos. Escrita pelo alemão Paul Maar, “Kikerikste”, que significa literalmente “có-có-ró-có-có”, foi feita para palhaços alemães. José Teles, o encenador do Cegada que a adaptou para o grupo, decidiu passá-la para os “habitantes dos caixotes”, os sem abrigo. Um projecto pessoal do encenador que pretende mostrar às crianças que os sem abrigo “são homens que brincam, que têm emoções como os que moram em moradias”. José Teles quer com esta peça que crianças e adultos deixem e olhar com um “olhar estranho para os sem abrigo”. O cenário da peça reduz-se aos dois caixotes, já que, como refere o encenador e também presidente do grupo, os recursos do Cegada são limitados. “Se tivéssemos mais dinheiro poderíamos construir uma ponte no palco, por exemplo”, refere. Não sendo possível, recorrem às luzes e ao som para recriar o ambiente debaixo de uma ponte, como o som de carros a passar. A ser ensaiada desde Setembro do ano passado, duas ou três vezes por semana, “Kikerikste” está pronta para ser vista por todos, miúdos e graúdos. A estreia é amanhã, 2 de Março, às 21h30, no Amostra Auditório, no Espaço Cegada, em Alverca.

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