Arquivo | 21-05-2009 11:44

Hortas em ambiente urbano inspiram exposição contemporânea

Hortas em ambiente urbano inspiram exposição contemporânea

As hortas na cidade são o tema de uma exposição de arte contemporânea no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira. Batatas e feijão plantados à borda da auto-estrada.

Mora no centro de Lisboa, mas durante uma temporada pegou no carro, colocou protector solar e partiu de carro para a horta. Ao lado dos utensílios de agricultora – por força da arte [contemporânea] – Ângela Ferreira levava a máquina fotográfica que utilizou para fixar as hortas em meio urbano. “Vivi uma espécie de umas férias”, descreve a artista plástica e professor universitária que no sábado à tarde inaugurou a exposição de arte contemporânea “The Return of the Real – 7”, no Museu do Neo-Realismo, em Vila Franca de Xira. A exposição poderá ser vista até Julho de 2009.O projecto, que começou a nascer há alguns anos, embora muitas das imagens sejam de 2009, é perfeito para ser apresentado no museu do neo-realismo, na perspectiva da artista. Passei muito tempo no museu a tentar perceber o que era o neo-realismo português e fiquei surpreendida pelas afinidades que senti nos escritores, mas também nos grafismos que acompanham alguns livros na tentativa política que há de retratar o trabalhador e a relação com a terra”, justifica.Ângela Ferreira deixou-se conduzir pela curiosidade sobre como as pessoas se apoderam de terras para tirar proveito e desenvolver a agricultura que serve para a alimentação. “São terras de ninguém. Espaços intermédios. Nem para construir, nem para serem habitados. São perigosos devido à dificuldade de atravessar as grandes vias”, descreve.Enquanto que em outros países se ajardinam os espaços neutros com relva ou uma palmeira em Portugal são deixados bravos. O trabalho foi desenvolvido sobretudo no “Nó da Damaia”, um dos grandes cruzamentos de auto-estradas, mas a artista já se deparou com hortas no concelho de Vila Franca de Xira. Aqui o contraste não é tão chocante porque a ruralidade toca o urbano. “A necessidade é muito semelhante. São pessoas que por um lado gostam da terra, mas por outro querem complementar o seu orçamento familiar”, justifica.Numa das séries de fotografias apresentadas surge um espaço com três alfaces, que na sequência seguinte desaparecem. “Não é porque as alfaces tenham sido roubadas. Foram levadas nesse dia para o jantar”. São sobretudo batatas, cebolas, feijão, alfaces, tomates, alho francês e milho que povoam as hortas de agricultores saudosos da aldeia, mas também de pessoas que querem equilibrar o orçamento em época de crise, uma ideia que faz mais sentido nos dias que se atravessam, ressalva o curador da exposição e director do Museu do Neo-Realimo, David Santos. No trabalho da artista há o lado documental das hortas, sem “documentar humanamente” os trabalhadores. É a artista que surge nas obras de arte. A intenção de Ângela Ferreira é colocar as pessoas a pensar nas hortas de forma diferente. Trabalhar com assuntos acessíveis a todos tem sido uma premissa do seu trabalho. Deixa a interpretação livremente para o seu público. “Já Voltarie dizia que se deveria trabalhar a horta, metaforicamente, para atingir a felicidade”, lembra.

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