Arquivo | 08-11-2013 16:14

Artista portuguesa recupera retrato de mulher que mudou o curso da ciência

A artista portuguesa Joana Ricou recuperou os dois retratos danificados de Henrietta Lacks, a americana cujas células estão por trás de alguns dos maiores desenvolvimentos médicos dos últimos 50 anos.Joana Ricou, de 31 anos, vive em Nova Iorque, onde é produtora de televisão e artista plástica, explorando a fronteira entre arte e ciência.Henrietta Lacks morreu em Baltimore, em 1951, vitima de um cancro do útero, e a sua biopsia deu origem à primeira linhagem de células humanas cultivadas em laboratório, a primeira linhagem imortal de células humanas.“Estas células estão por trás dos maiores desenvolvimentos médicos dos últimos 50 anos, incluindo a vacina da Polio, de HPV [vírus do papiloma humano], tratamentos de fertilização in vitro e visualização biológica”, explica Joana Ricou à agência Lusa.A história está contada em centenas de artigos científicos e no livro “A Vida Imortal de Henrietta Lacks”, de Rebecca Skloot, publicado em Portugal em 2009, pela Casa das Letras.Joana cruzou-se pela primeira vez com as células da cidadã afro-americana, numa conferência na Universidade de Carnegie Mellon, em Pittsburgh, onde estudava ciência e arte, e começou uma série de quadros abstractos sobre o tema.Mais tarde, percebeu que apenas havia dois retratos muito degradados da norte-americana, o que aumentou ainda mais a sua curiosidade.“Henrietta só deixou dois retratos e eu achei que faltava no mundo o seu retrato restaurado”, diz.A portuguesa acredita que “o retrato é uma forma tradicional de imortalizar alguém, uma forma de codificar a importância e respeito” e pergunta: “Quantas pessoas de origem africana e/ou pobres foram imortalizadas e honradas através da arte, em comparação com os quilos de retratos de gente branca e rica?”Para a artista, o projecto “permite uma reflexão sobre a fragilidade da memória e a fragilidade da memória tecnológica". "Na era da internet, parece que a memória tecnológica não terá limites, mas será mesmo verdade?”Joana Ricou diz que, na história de Henrietta, “se reflectem temas não só da história da ciência, mas também de desigualdade social, direito do indivíduo sobre os seus resíduos [amostras médicas] e questões mais filosóficas como a relação entre a identidade de um indivíduo e o seu corpo, o desejo de imortalidade, o medo de mortalidade.”O projecto continua o tema da história científica que a portuguesa tem explorado, e demonstra as muitas semelhanças entre arte e ciência.“Os dois campos têm muitos interesses em comum, como a definição de identidade, a efemeridade da vida, a procura da imortalidade; e também têm muitas limitações em comum, porque são igualmente afectadas pela desigualdade social e económica”, conclui Joana Ricou.

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