Arquivo | 21-11-2013 15:13

Quase um quarto das pessoas infectadas com VIH foram excluídas da família

Quase um quarto das pessoas infectadas com VIH inquiridas num estudo disseram ter sido excluídas da família e metade dos participantes foi forçada a mudar de casa e perdeu uma oportunidade de trabalho por “viver com vírus”.O ‘Stigma Index Portugal’, que analisa pela primeira vez o estigma que existe no país relativamente às pessoas infectadas com VIH, inquiriu 1.474 pessoas com VIH de vários grupos vulneráveis.“O objectivo do estudo foi identificar e caracterizar uma situação que todos falamos como prioritária para resolver, mas que não conhecíamos os seus contornos, consequências e causas em Portugal, que é a discriminação pelo facto de se viver com VIH/Sida”, disse hoje à agência Lusa o coordenador do estudo e director do Centro Anti-Discriminação, Pedro Silvério Marques.Questionados sobre os tipos de exclusão que sofreram, 24,7% dos inquiridos disseram ter sido afastados de “actividades com familiares”, 23,3% de “actividades religiosas ou dos lugares de culto” e 20,1% de “encontros ou actividades sociais”.Para Pedro Silvério Marques, é “muito chocante ver que o principal meio de exclusão [destas pessoas] é o ambiente familiar, mais do que os ambientes sociais”.Sobre as consequências da discriminação nos últimos 12 meses, 25% dos participantes foram forçados a mudar o local de residência ou impedidos de arrendar casa e 25% foi-lhes recusado ou negado uma oportunidade de trabalho.O estudo, que é apresentado hoje na III Conferência VIH Portugal, indica que foi negado a 22,9% dos inquiridos a prestação de cuidados de saúde, como tratamento dos dentes, enquanto a 14,4% mudaram-lhe as tarefas no trabalho.Já 5,7% dos inquiridos disseram que lhes recusaram o atendimento no planeamento familiar, 3,4% contaram que lhe foi negado um serviço na área da saúde sexual e reprodutiva e 0,5 contaram que os filhos foram despedidos, suspensos ou proibidos de frequentar uma instituição de ensino.Sobre a situação laboral, a maioria dos inquiridos (608) está desempregada, 318 estão empregados a tempo inteiro por conta de outrem, 233 estão reformados, 175 fazem “biscates ou trabalhos precários por conta própria”, 58 são empregados a tempo inteiro por conta própria, 52 empregado e part-time por conta de outrem e 30 são estudantes.Nos últimos 12 anos foram registadas perto de 2.000 situações de discriminação nos últimos 12 anos, a maior parte (cerca de 700) por falarem mal da pessoa infectada VIH, seguindo-se o insulto (cerca de 400), as ameaças (cerca de 300) e as agressões físicas (cerca de 200).O coordenador do estudo apontou que os grupos em que existe uma maior incidência de situações de discriminação são os utilizadores de droga injectável e os imigrantes ilegais.Salientou ainda a importância deste estudo para saber a realidade portuguesa sobre esta situação: “Apesar de ser prioritário, não havia acção nenhuma no sentido de combater o estigma e a discriminação. Só palavras”.Os dados servirão para “direccionar as acções e os esforços, quer na formação das pessoas na área da ética dos direitos dos cidadãos, quer para criar condições e ultrapassar os obstáculos que, neste momento, existem para que não haja situações de estigma e discriminação”, frisou.O estudo é um projecto internacional e em Portugal foi coordenado pelo Centro Anti Discriminação, com a SER+ e o GAT, tendo sido financiado pelo Programa ADIS/SIDA.Os locais de entrevistas foram os hospitais e centros hospitalares de Lisboa, Porto, Setúbal e Faro, os distritos em que a prevalência dos casos notificados até 31 de Dezembro de 2011 era superior a 5%.

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