Arquivo | 01-12-2013 10:52

Bairro Alto: Moradores e freguesia juntos pelo fim do álcool na rua

Numa altura em que o Bairro Alto, em Lisboa, celebra 500 anos, moradores e junta de freguesia são unânimes em pedir legislação nacional que proíba o consumo de álcool na rua, habitual naquela zona histórica.Numa sexta-feira à noite, das mais frias deste outono, passa da meia-noite. No Bairro Alto, cada vez mais jovens se juntam de copo na mão à porta de vários bares, apesar de os espaços não estarem cheios.Esta é a imagem habitual do bairro quando a hora vai avançada: a noite passa enquanto se consome álcool na rua. A maioria dos copos são de plástico, a bebida é normalmente cerveja e não custa mais de um euro. Nos bares há promoções para um litro de caipirinha ou meio de sangria e há também quem traga de casa a sua própria ‘litrosa’ ou quem a compre numa loja de conveniência do bairro.A noite avança, a multidão cresce e, com ela, o barulho. A PSP diz que recebe “centenas de queixas de ruído” de moradores do Bairro Alto.Numa nota enviada à agência Lusa, o Comando Metropolitano de Lisboa admite que esta problemática “é difícil de contornar”, porque “não existem mecanismos legais que permitam à polícia eliminar o ruído provocado pelo aglomerado de pessoas na via pública”.O conflito entre moradores e o ‘mundo da noite’ é antigo e tem-se agravado nos últimos anos, mas ambas as partes criticam a Câmara de Lisboa por não resolver o problema, apesar das medidas que tem tomado, nomeadamente quanto à limitação dos horários de funcionamento das lojas de conveniência.Uma das propostas da associação de moradores, liderada por Luís Paisana, é apresentar na Assembleia da República uma iniciativa legislativa popular para proibir o consumo de álcool na via pública.“Já começámos a recolher assinaturas, mas precisamos de 36.000 assinaturas, pode demorar alguns meses”, diz Luís Paisana, que admite recorrer ao apoio dos partidos com assento parlamentar e de associações espalhadas pelo país.“Sabemos que este é um problema de outras zonas históricas do país, que são zonas residenciais e ao mesmo tempo de animação nocturna, e pode ser uma solução também para eles”, afirma.Para já, os moradores têm o apoio da recém-eleita presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, Carla Madeira, que também defende o fim do consumo de álcool na via pública.A autarca defende mais sensibilização para a problemática do ruído e do lixo, a par de um aumento da fiscalização pela Polícia Municipal, mas associa-se aos moradores: “Facilitava muito se existisse uma legislação a nível nacional”.Por outro lado, Luís Paisana concorda com aquela que foi a proposta do coordenador do BE, João Semedo (aquando da sua candidatura à presidência da câmara): tentar fazer com que a noite comece e acabe mais cedo. Talvez como acontecia na década de 1980, quando a discoteca Frágil fez do Bairro Alto um local de culto da noite lisboeta.“Era uma noite diferente. Começava às 22:00 e acabava às 02:00 e não se fazia barulho. As pessoas iam para se verem umas às outras, para conversar, para partilhar ideias e criar movimentos”, descreve Margarida Martins, que foi porteira daquela discoteca.“Hoje qualquer um leva uma garrafa [de álcool] para beber na rua. Isso traz muita insegurança, além do barulho”, lamenta.Mas para a associação de comerciantes, liderada por Hilário Castro, há soluções antes de se criar nova legislação: uma efectiva fiscalização das normas já existentes.“O ‘botellón’ não é benéfico para ninguém. Por causa de espaços que cometem essas falhas todos os outros têm a pagar”, diz Hilário Castro.Contactado pela Lusa, o vereador que tem acompanhado este tema, José Sá Fernandes, sugere a limitação do tamanho dos bares (até aos 50 metros quadrados) ou a proibição, a partir de certa hora, de venda de álcool para a rua.Quanto à proibição de consumo de álcool na via pública, o autarca deixa uma questão: “E beber nas esplanadas, também seria proibido?”.

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