Arquivo | 07-12-2013 11:22

Viver seis meses a correr e a pedalar sem gravidade

Paolo Nespoli esteve seis meses fora do planeta, agora está em Lisboa para contar como se vive como um "extraterrestre", como um astronauta finta a "gravidade zero" a correr, a pedalar ou a pegar em pesos de cem quilos.O astronauta, italiano, de 56 anos, que acredita que o homem chegará a Marte dentro de 20 anos, dá hoje uma conferência, no Cinema São Jorge, onde relatará a sua experiência."Foram seis meses verdadeiramente intensos", resumiu, numa curta entrevista à agência Lusa.Seis meses, preparados com três anos de antecedência, na Estação Espacial Internacional, onde esteve com mais cinco astronautas - três russos e dois norte-americanos, incluindo uma mulher.Nespoli, astronauta da Agência Espacial Europeia há 15 anos, embarcou, em finais de 2010, na missão MagISStra, a sua mais longa no espaço, com o sentimento de estar a ser "muito útil" à humanidade, por "fazer coisas importantes".Engenheiro de voo, fez trabalhos de manutenção, mas também "experiências novas", tanto científicas como pedagógicas. E fez também fotos, muitas fotos, da Terra, captando as suas tempestades, os seus desertos, as suas cidades iluminadas à noite.Testou alterações na visão e no cérebro, quando se muda de meio ambiente, assim como a perda de cálcio nos ossos - sintoma comum nos astronautas em órbita.Ligado ao mundo, apesar de fora dele, por meio de satélite, Internet ou, mesmo, telefone, Paolo Nespoli testou com as escolas, designadamente portuguesas, o crescimento de pequenas plantas, comparando os resultados obtidos na estação espacial com os conseguidos em Terra: em órbita, as plantas cresceram consoante a orientação da luz artificial, que substituía a do Sol.Aos miúdos, lembrou-lhes que é importante fazerem exercício físico, para combater a obesidade, demonstrando que a falta de gravidade no espaço não é obstáculo. Todos os dias, durante duas horas, Paolo e os companheiros pedalavam ou corriam. Como? Andavam numa "bicicleta" só com pedais e com um cinto que os mantinha presos à parede, corriam num pequeno tapete rolante com um gancho que os segurava."Não é fácil superar a falta de gravidade, as coisas tendem a voar", assinala, sustentando que a melhor arma para ultrapassar a dificuldade é ser como um "extraterrestre"."Fazer as coisas nas primeiras semanas como um terrestre não funciona, as coisas partem-se, fazem-se erros. Quando se percebe que o ambiente é diferente e se começa a pensar como um extraterrestre, as coisas funcionam", defendeu, acrescentando que, depois, acaba por ser mais fácil "trabalhar na parede" ou "pegar num peso de cem quilos e arrastá-lo".Num "lugar confinado" como a Estação Espacial Internacional geriu rotinas e temperamentos. Os astronautas, sublinhou, "sabem o melhor e o pior" uns dos outros, até porque, antes de seguirem numa missão, "conhecem-se a fundo" e, juntos, partilham "experiências de sobrevivência".Mensalmente, os seis astronautas recebiam, através de uma nave de abastecimento, uma encomenda muito especial, das famílias. Lá dentro mimos, além dos que trocavam habitualmente por telefone ou por correio electrónico."Fotos da filha, bilhetes, chocolates ou pipocas", contou o italiano, reconhecendo que as ausências representam um "esforço muito grande" para a família, apesar de a mulher e a filha "terem consciência" do trabalho que faz.No entanto, sustentou com humildade, são ausências nada comparáveis com as dos emigrantes que mandavam, por carta, dinheiro aos familiares, porque não podiam estar com eles."Somos afortunados", advoga Paolo Nespoli, muito embora a comida a bordo, vigiada por nutricionistas, tivesse de ser pré-confeccionada, uma vez que na estação espacial não se pode cozinhar."Mas está bem, é comida de campanha", disse, conformado. Não faltaram iogurtes, sumos, massa, arroz, carne e fruta seca.Sem nova missão planeada, garantiu, todavia, que "está pronto para voar". Mantém-se em forma, com treinos diários, testa experiências, acompanha projectos e envolve-se em actividades com crianças e jovens.O astronauta, que antes de o ser era militar do Exército, observou que ainda não existe apoio político e financeiro suficiente, por parte da Europa, para uma missão humana em Marte."Veremos...", afirmou, evasivo, apesar de convicto de que, "nos próximos 20 anos", o homem pisará solo marciano.Quanto a vida fora da Terra, atira: "Uma vez resolvido o problema de como viajar eficazmente no Espaço, encontraremos".

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