Crónicas do Brasil | 09-04-2018 10:10

Paulo Symões: Secretas Geometrias

Publicitário e programador visual de jornais, revistas e livros desde os anos 60, nesse ofício Paulo Symões conseguiu aperfeiçoar domínio técnico e essa extraordinária pulsão estrutural que impõe ao suporte.

Publicitário e programador visual de jornais, revistas e livros desde os anos 60, nesse ofício Paulo Symões conseguiu aperfeiçoar domínio técnico e essa extraordinária pulsão estrutural que impõe ao suporte.

Seja em pintura, desenho ou gravura, em tudo que seu ânimo explora, é artista que sabe camuflar tendências figurativas e os meios com os quais alcança a abstração. Aquela abstração que, ao ferir imagens arquetípicas, provoca no espectador a emoção da figura. Daí certos críticos encontrarem um fundo lírico nessas suas sugestões de frutos, flores, sementes ou raízes aéreas. Elementos mais remotos como memória de infância ou contato com arte indígena igualmente contam nessas elaborações. Um atavismo já anunciado numa de suas conversas com Antonio Bento sobre a absorção de elementos que combinam redes de pesca indígena e ladrilhos, grades barrocas e os jardins da sua meninice em Minas Gerais.

Tudo converge para uma terceira margem que em seguida se resolve em linha e cor, em sombra e luz, em camadas imaginativas de um temperamento introvertido. Symões parece dizer diante de um quadro terminado: isto não é uma folha, ou isto não é um fruto. Sim, enxergamos detalhes de plantas ou frutos onde atuam linhas e cores, frestas de luz, sombras oscilantes, estranhos jogos cinéticos de signos ou lâminas, o que o nosso olhar distraído não percebe mas o pintor contorna obsessivamente à procura. Espectros de lâmina, secretas geometrias superpostas em ritmos ou formas sonhadas que ora se transmutam em improvável anatomia humana, ora se insinuam em helicoides ou em calotas quase arquitetônicas.

O corpo humano é de fato pouco frequente nestas paisagens, embora de imprevista gravidade quando vagamente sugerido. Seriam essas imagens, oriundas às vezes de superposição de planos, um sequestro do lúdico e por consequência do lírico nessa pintura? Ou uma febre involuntária do artista, ponto de instabilidade nesse universo tão coeso? O artista não explica, o artista pinta. Porque nessa catarse do que vê e sente, de quadro em quadro, confronta cores e epifanias quase como um pacto fáustico.

(A exposição “Paul Symões: Geometria Secreta” ocupou ampla galeria do Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro, entre novembro de 2017 e fevereiro de 2018)

andrea nestrea
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