Economia | 27-04-2006 17:06

Fábrica de automóveis pode fechar na Azambuja

A possibilidade do encerramento da General Motors paira sobre a vila de Azambuja. Quem não trabalhou na fábrica tem pelo menos um familiar próximo que ali garante o seu sustento.É difícil percorrer as ruas de Azambuja sem encontrar um ex-trabalhador da fábrica de montagem de automóveis da General Motors, que na década de 60 se implantou na zona industrial da vila, à beira da Estrada Nacional 3.Na altura a possibilidade de trabalhar na multinacional instalada no concelho era aliciante. “O sonho de qualquer jovem da altura era ir trabalhar para aquela fábrica”, garante Joaquim Abreu, 55 anos, recepcionista e ex-trabalhador da GM.A fábrica que hoje corre o risco de encerrar (ver caixa) representava então uma oportunidade de emprego estável para quem queria começar a vida. O ordenado pago aos funcionários situava-se acima da média. Joaquim Abreu, à semelhança de muitos outros funcionários, trabalhava quase sempre de noite. Ao sábado era pago um suplemento. No final do mês recebia o correspondente a quase dois ordenados. A fábrica laborava em dois turnos. Das 8h00 às 17h00 e das 22h00 às 8h00. A ambição de Joaquim Abreu fê-lo deixar a fábrica e embarcar na aventura da emigração, mas o ex-funcionário da GM, residente em Aveiras de Cima, nunca mais esquecerá os anos em que trabalhou na linha de montagem automóvel.O dia mais negro foi aquele em que assistiu à morte de um colega de trabalho durante um incêndio. Tudo começou com uma faísca na linha de montagem. “Tinha a roupa com diluente e sofreu queimaduras que acabaram por lhe provocar a morte”, recorda Joaquim Abreu.Mas nem só más memórias guarda da fábrica de automóveis. Lá criavam-se amizades que se mantinham para lá do portão. Grupos de amigos organizavam jantares, festas e combinavam saídas para a Feira de Maio de Azambuja.“O turno da noite era muito desgastante. Ter que comer refeições pesadas a altas horas não era fácil. Só mesmo quando se tem vinte e tal anos…”, recorda.As refeições típicas servidas na fábrica da Azambuja marcaram muitos dos trabalhadores que por lá passaram. Como Rogério Mascata, 54, residente em Azambuja, funcionário das oficinas municipais.O mecânico passou pelo portão da multinacional pela primeira vez aos 14 anos. Foi trabalhar nas obras de alargamento das instalações da fábrica. Tinham cerca de 30 pessoas só na cozinha. Servia-se cozido à portuguesa, bacalhau cozido com batatas e peixe assado no forno. “Um autêntico restaurante”, recorda o antigo trabalhador, que lamenta que depois a comida de plástico se tenha implantado. Alguns começaram a levar comida de casa. Rogério Mascata voltou à fábrica da GM mais tarde, já como mecânico. Foi convidado para arranjar uma remessa de motores Datson com defeito. Apesar dos boatos está confiante quanto ao futuro da fábrica. Acredita que mesmo no pior dos cenários os trabalhadores saberão ultrapassar os momentos difíceis.O tema também não sai da boca dos anciãos reformados que passam os dias nos bancos do jardim de Azambuja. “Se aquilo fecha temos um problema grave…”José Rodrigues Mendes, filho adoptado de Azambuja, sabe como ninguém o que sente quem ainda está do lado de lá do portão. Trabalhou na vizinha fábrica da Ford, perto da GM. Está reformado há 12 anos, mas tem os 33 anos de serviço na fábrica de montagem de automóveis bem marcados na perna magoada que o precipitou para a reforma.Trabalhava-se de dia porque à época ainda não havia o turno da noite. Ao fim de semana era a desforra. Os jovens operários iam passear para o campo e para a praia. À segunda-feira todos estavam preparados para fazer andar a engrenagem. Porque a linha de montagem tinha que voltar a girar.

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