Entrevista | 08-09-2010 12:57

“Para ser investigador em Portugal é preciso ser maluco ou ter pais com dinheiro”

“Para ser investigador em Portugal é preciso ser maluco ou ter pais com dinheiro”
César Garcia é investigador na área da biologia, especializado em ecologia. Natural de Santarém, onde continua a residir por amor à sua terra, o biólogo trabalha num minúsculo gabinete no Jardim Botânico de Lisboa onde vai alargando o conhecimento da flora de Portugal e de África que ainda não constam da informação científica. Nascido em 2 de Outubro de 1974, César Garcia ficou conhecido quando descobriu há dois anos em Caldas da Rainha uma planta que se pensava estar extinta. Licenciou-se em Biologia na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa em 1999. É doutorado em Floresta Portuguesa e está actualmente a fazer um pós-doutoramento em biodiversidade da floresta virgem de S. Tomé e Príncipe. Nesta entrevista que pode ler na íntegra na edição em papel desta quinta-feira, o cientista fala das dificuldades de se ser investigador em Portugal, da região e do concelho de Santarém onde diz que foi feita uma má requalificação dos jardins da cidade. Qual foi o momento mais marcante na sua carreira de investigador?Foi a descrição de uma espécie nova que encontrei em Barrancos e à qual dei o nome de “Zygodon catarinoi” em homenagem a um professor que tive, que se chama Catarino. E neste momento estou a descrever para a ciência mais duas espécies novas de S. Tomé e Príncipe. É fácil ser investigador em Portugal?Muito difícil. Porque a actividade funciona com verbas tipo subsídio para se fazer um trabalho. Findo esse trabalho, acabou. Nem eu nem ninguém tem um vínculo laboral como investigador. Neste momento trabalho no Jardim Botânico de Lisboa com uma bolsa de investigação de pós-doutoramento concedida pela Fundação da Ciência e Tecnologia. E quando acabar a bolsa?Tenho que concorrer a outro trabalho, que vai a um painel de avaliadores. Não há um quadro de pessoal e nem sequer temos direito a subsídio de desemprego. Para ser investigador em Portugal é preciso ser maluco ou ter pais com dinheiro. Essa precariedade não o afecta no seu trabalho?Claro que afecta e muito. É uma situação terrível para mim e para os meus colegas e para as pessoas que nos formam, porque vêem que formar dá trabalho e depois corre-se o risco das pessoas irem para os Estados Unidos da América, por exemploNunca pensou também ir para o estrangeiro trabalhar na sua área?Não, porque gosto muito da minha terra e não tenho espírito de emigrante. Sou muito ligado às raízes. Não quer dizer que não aconteça um dia a hipótese de emigrar, mas nunca pensei nem penso nisso. A saída de investigadores para outros países em que medida é que afecta o país?Não é só em Biologia, é também na Física, na Química e noutras áreas. Isso é mau para a própria sustentabilidade das universidades portuguesas, porque deixa de haver massa crítica, pessoas com experiência para ensinar os outros. Um bom professor tem que ter sempre um assistente que tenha experiência com ele. Se os que são bons se vão embora começam a surgir os que estão mais abaixo e menos experientes.

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