Entrevista | 29-03-2012 10:58

“Tenho condições para ser o candidato natural do PSD à Câmara de Tomar”

“Tenho condições para ser o candidato natural do PSD à Câmara de Tomar”

Perdeu recentemente as eleições para a concelhia do PSD de Tomar mas, apesar desse revés Carlos Carrão mantém a intenção de ser, em 2013, o candidato do seu partido à presidência do município nabantino. Nesta entrevista, o autarca assume que o PSD pressionou o anterior presidente, Corvêlo de Sousa, a deixar o cargo, revela que tentou negociar um acordo com os vereadores independentes e critica a postura da oposição socialista.

Em 2008 classificava-se como o candidato natural do PSD à Câmara de Tomar, mas nas autárquicas de 2009 o partido preferiu o independente Corvêlo de Sousa. Ainda se considera o candidato natural à Câmara de Tomar?Sim. O candidato natural no sentido em que há um longo caminho percorrido quer do ponto de vista partidário quer da gestão autárquica. Sentia e sinto que tenho condições para ser o candidato natural do PSD à Câmara de Tomar. Se na altura já me sentia preparado, hoje mantenho essa posição apesar da conjuntura ser extremamente desfavorável.E se o partido voltar a não optar por si para cabeça de lista?Se em 2009, tendo o apoio da concelhia do PSD, não fui candidato, hoje essa situação pode voltar a colocar-se. Sendo que a posição partidária deve ter em consideração o que as pessoas pensam relativamente ao desempenho das funções autárquicas. É sempre possível que o partido tenha outra opção, mas farei tudo para estar em condições de ser eu o candidato.Será um ano e meio para mostrar o que vale?Será um período muito difícil em que tenho de trabalhar para justificar aquilo que foi sempre o meu desejo, que é ser presidente da Câmara de Tomar. Tenho de mostrar ao partido e ao concelho que tenho condições para gerir os destinos do município. Se daqui a ano e meio reconhecer que as coisas não me correram bem, e considerar que é o momento de saída, não terei problemas em fazê-lo.Depois de ter perdido as eleições internas para a concelhia do PSD essa decisão não está nas suas mãos. Isso pode ser um óbice aos seus anseios?Não. O vencedor das eleições e os elementos que o acompanham têm dito que não há uma decisão tomada e nenhum deles ainda afirmou que teriam outras opções. Aliás, eles vão um bocado na linha do que atrás disse, de que se o trabalho for positivo até final do mandato também não vêem razões para não ser eu o candidato. Em 2009 tinha o apoio da concelhia e não fui eu o candidato. Sendo importante, o apoio da concelhia do partido não é determinante. Há um conjunto de condicionantes que determina a opção final do partido, que deve procurar ter a solução ganhadora.O facto de ter concorrido contra a lista de continuidade da concelhia não poderá ter efeitos nessa decisão?Procurei uma lista de consenso, com o pressuposto, que entendi ser normal, de ser o número um dessa lista. E foi aí que não houve acordo, aparecendo duas listas. É a democracia partidária a funcionar. Muitas das pessoas que estão na nova comissão política trabalharam comigo. O próprio presidente João Tenreiro foi presidente da JSD concelhia quando eu era o presidente do partido em Tomar e tivemos uma relação óptima.Avançou porquê?Havia algumas posições nas quais não me revia. E tendo em conta a dificuldade que é gerir a câmara com a oposição que tenho, não gostaria de ter também dificuldades de relacionamento com algumas pessoas do meu partido. Entendi que a sintonia perfeita seria eu estar também como presidente da concelhia. Mas não é um contratempo grave. Há uma vontade de parte a parte de fazer um trabalho conjunto e articulado.Inicialmente disse que não se queria candidatar à liderança da concelhia. Depois mudou de ideias. Quis saber quanto valia no partido?Não propriamente. A partir de determinado momento percebi que havia algumas movimentações…Que tipo de movimentações?Pessoas que estão a trabalhar em cenários distintos, independentemente de não se saber como vão correr as coisas até final do mandato. Não acho isso correcto. Mesmo na vida política deve haver alguma justiça e as pessoas não devem procurar objectivos sem olhar a meios para lá chegar. Senti que devia aparecer como alternativa.Quer dizer que no PSD de Tomar há pessoas que gostavam de o ver fora da câmara?Sim. Não tenho dúvidas. Portanto entendi dar oportunidade aos militantes do PSD de escolherem. Não gostaria de ser acusado por omissão, por não me ter apresentado como alternativa.No cenário de o PSD não o escolher admite avançar com uma lista independente?Hoje não há condições para responder a uma pergunta dessas. Esse cenário a colocar-se seria mais próximo das eleições, mas estou convicto que o trabalho vai ser positivo até final do mandato e que o PSD vai optar pela minha candidatura. Estamos todos, à partida, a trabalhar com os mesmos objectivos, que é manter o PSD como o maior partido a nível autárquico em Tomar.A reorganização do Centro Hospitalar do Médio Tejo, com perda de algumas valências no Hospital de Tomar, acentuou essas divisões no seio do PSD local?Há um conjunto de situações difíceis, como essa e a da reforma administrativa, mas o estado do país obriga necessariamente a este tipo de reestruturações, a nível central e local, bem como nas empresas e nas próprias famílias. Algo tinha que ser feito. Essa reestruturação do Hospital de Tomar foi difícil de gerir, numa área muito sensível, e isso reflectiu-se na relação que houve entre a câmara e o PSD. Houve pessoas ligadas ao PSD que tomaram posições públicas na comunicação social para lá do razoável.Essas clivagens públicas prejudicam o partido perante o eleitorado.Sim, porque a determinada altura já se questionava quem é que falava. Se era o PSD que estava na câmara ou o PSD concelhio. Também tenho consciência que perante a população fiquei fragilizado, mas acho que não é grave pois as pessoas conhecem-me há muitos anos e percebem que esta situação não podia deixar de acontecer, embora considere que esta reestruturação podia ter sido diferente. Objectivamente, esta reestruturação prejudicou a prestação de cuidados de saúde no Hospital de Tomar.“Houve pressão do partido para o anterior presidente abandonar funções”Foi o PSD a pressionar o anterior presidente da câmara, o independente Corvêlo de Sousa, a deixar o cargo?As posições públicas que as pessoas da comissão política de então assumiram demonstram de facto que o PSD estava nessa posição. Foi público e notório que houve alguma pressão no sentido de o anterior presidente abandonar funções, no pressuposto de um eventual acordo que existia.Tinha conhecimento desse acordo?Houve conversas entre as pessoas, após eu próprio ter assumido a possibilidade de ser candidato nas anteriores autárquicas. Houve alguns entendimentos, designadamente entre mim e o dr. Corvêlo de Sousa, sobre como as coisas iam ser no futuro. Mas nunca houve nenhum documento.Ficou acertada a possibilidade de saída do dr. Corvêlo de Sousa antes do fim do mandato?Ficou a eventualidade das coisas acontecerem nesse sentido. Mas se não acontecessem não alterava minimamente a relação que tinha com ele.Estava preparado para ser vice-presidente até final do mandato?Exactamente. O dr. Corvêlo, para todos os efeitos, tinha sido eleito para 4 anos. Se ele entendesse não sair não haveria qualquer problema da minha parte. Aliás, e contrariamente àquilo que é dito, a saída dele não teve a ver só com essa questão política e partidária. Ele está de facto com problemas de saúde.“Aliança com o PS era contra-natura”Nunca foi um grande entusiasta da coligação com o PS.Apesar de ter estado no início dessa coligação sempre a achei como uma solução contra-natura.Então porque se persistiu tanto tempo nessa aliança?Ela dependia dos partidos, pois nasceu do acordo das comissões políticas do PSD e do PS de então. Era aos partidos que, em primeira instância, cabia terminarem aquilo que tinham iniciado. Obviamente, o presidente da câmara também teria uma palavra importante a dizer caso a coligação não estivesse a cumprir os seus objectivos. E houve motivos mais do que suficientes para ter acabado antes. Acabou por suceder nesse momento de transição do anterior presidente da câmara para mim.Foi só coincidência ou houve mão sua para precipitar esse desfecho?Eu disse publicamente que se fosse presidente de câmara há mais tempo a coligação tinha acabado antes. Aconteceu acabar quando assumi a presidência da câmara e sofri as consequências dessa situação. Basta ver que ainda durante a coligação foi aprovado pela câmara, com os votos do PS, a revisão orçamental que incluía o pagamento da dívida à ParqT e alguns dias depois, como já não havia coligação, o PS na assembleia municipal votou contra essa proposta e chumbou-a. Isso demonstra o espírito com que estavam nessa coligação.Como foi trabalhar num executivo onde os socialistas também faziam parte da maioria e onde um dos vereadores do PS (Luís Ferreira) sistematicamente provocava os parceiros de coligação?Essa era uma das situações anómalas que não vimos acontecer em mais lado nenhum. De facto a coligação era contra-natura, por ser composta por dois partidos que são alternativa entre si e era difícil conciliar os interesses de cada um. Mas para além disso ainda havia uma situação mais complicada que era os protagonistas da coligação. As coisas tornaram-se mais difíceis pois a coligação tinha um vereador como Luís Ferreira, que não tem nada a ver com o outro vereador do PS, o arquitecto José Vitorino. É evidente que tinha consciência que o fim da coligação ia ter custos, que foram logo imediatos e continuam a verificar-se. Basta ver como as coisas estão a acontecer, apesar de eu, estruturalmente, ser uma pessoa de consensos e de diálogo que procura entendimentos.Embora por vezes também se irrite.Esse conjunto de atitudes levou a que eu próprio vá um pouco ao choque quando isso não tem muito a ver com a minha personalidade. Há certas atitudes que são incompreensíveis. A oposição deve existir e é útil, mas quando ultrapassa certos limites também somos quase empurrados para os ultrapassar. E isso não pode acontecer, porque descredibiliza toda a gente. Se houver condições para haver entendimentos dentro do executivo camarário não tenho nenhum problema em fazê-los.Tentou negociar um entendimento com os vereadores independentes, mas não correu bem. Porquê?Houve conversas no sentido de haver algum entendimento que viabilizasse a gestão da câmara até final do mandato. O município de Tomar tem três ou quatro problemas cuja resolução deve avançar com alguma urgência e que pressupõem um entendimento dessa natureza. Fomos tentando conversar e não houve de facto esse entendimento.Não lhes ofereceu pelouros?Pus todas as hipóteses mas não foi possível chegar a entendimento. Houve essa abertura para alargar a equipa, mesmo com pessoas a tempo inteiro.Porque nomeou vice-presidente o vereador que está na câmara há menos tempo, em detrimento da vereadora que trabalha consigo há muitos anos?Não houve nenhuma razão especial. Determinado tipo de funções que propus ao engenheiro Perfeito, por um lado, e por outro o conhecimento dessas áreas e a disponibilidade que ele tem levaram a essa escolha. Foi um acto de gestão mas relaciono-me perfeitamente também com a vereadora.Um autarca nascido na rua da Casa das RatasCarlos Manuel de Oliveira Carrão, 55 anos, nasceu na Rua Dr. Joaquim Jacinto, em Tomar, a 21 de Agosto de 1956. O proprietário da emblemática Casa das Ratas, localizada nessa rua, José Matreno (já falecido) foi seu padrinho de baptismo e casamento. O autarca é casado e tem dois filhos. É o militante n.º 11755 do Partido Social Democrata e vota na freguesia de Santa Maria dos Olivais.É o irmão do meio de três rapazes. Tinha apenas 12 anos quando o pai faleceu. A mãe era doméstica. Com 16 anos começou a trabalhar como empregado de escritório na extinta serração “Manuel Freitas Lopes” numa altura em que esta era uma das maiores empresas exportadoras de madeira. Foi funcionário da firma durante mais de 20 anos, tendo chegado a chefe da secção de contabilidade.Técnico Oficial de Contas, chegou a frequentar o curso de Economia na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra que interrompeu no 4.º ano. “As minhas férias eram tiradas durante a semana para poder ir às aulas”, recorda. Pensou em retomar os estudos mas até hoje tal não aconteceu.Carlos Carrão iniciou-se no associativismo em 1986, como secretário da Direcção da Associação Cultural e Recreativa do Centro de Freguesia de Casais, terra de onde a esposa é natural. Entrou na política em 1989, presidindo à comissão política do PSD de Tomar durante seis anos. Paralelamente, começou a colaborar com o jornal “Cidade de Tomar”, coordenando o espaço “o Concelho e a Sua Gente”, sendo convidado, mais tarde, para ocupar o cargo de chefe de redacção.É associado de várias instituições e colectividades de Tomar. Faz parte do clube de não fumadores. É vereador da Câmara de Tomar desde 15 de Janeiro de 1998, tendo subido a vice-presidente em Fevereiro de 2008. Com a renúncia de mandato de Fernando Corvêlo de Sousa, assumiu a presidência da autarquia a 23 de Fevereiro de 2012.

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