Entrevista | 09-05-2012 10:36

Ainda não se conseguiu afirmar o cavalo lusitano como património do Ribatejo e do país

Ainda não se conseguiu afirmar o cavalo lusitano como património do Ribatejo e do país

Gonçalo Ornellas tomou conta da coudelaria do pai em 2003. Nos últimos anos tem conseguido obter alguns prémios e promover o cavalo lusitano. O criador de Salvaterra de Magos diz que tem sido à custa dos criadores que se tem conseguido salvaguardar um património importante e que “ainda não sabemos vender a nossa imagem” num produto de excelência da região e do país.

A Ferrari é uma imagem de marca de Itália, como o cavalo lusitano podia ser a imagem de Portugal. Um carro desta marca demora menos tempo a fazer que leva a nascer um animal que é um símbolo e um património do país e que este não tem sabido promover. Gonçalo Ornellas é um dos mais jovens criadores do Ribatejo, coração deste cavalo conhecido pelas suas características multifacetadas que o tornam excelente para a tauromaquia ou para o hipismo. Gonçalo, 37 anos, confessa que os estrangeiros têm feito mais por esta raça que o próprio país. Em França, diz, há uma revista dedicada a este cavalo. Em Portugal este produto não tem sido usado como uma das coisas boas que se fazem por cá. O responsável pela coudelaria d’Ornellas e Vasconcellos desde 2003 nunca foi convidado para integrar uma comitiva de empresários ao estrangeiro nem nunca acompanhou uma daquelas visitas dos governantes que servem também para promover e abrir portas a negócios no estrangeiro. “O problema é que não fomos educados a vender e a preferir o que é nacional. Continuamos a achar que o que é estrangeiro é melhor. Não sabemos vender a nossa imagem”, salienta o criador de Salvaterra de Magos. “Os espanhóis sabem vender o cavalo melhor que nós. Eles têm uma raça que é a Andaluz, que é pior em termos de qualidade que o Lusitano, mas conseguem vendê-los dez vezes mais caros”. E conseguem isso “à custa do marketing e do saber vender”.O que tem sido feito tem sido à custa dos criadores. Se existe um património genético isso deve-se ao esforço dos criadores que não vendem os exemplares de excelência para o estrangeiro para garantirem que o apuramento e domínio da raça se mantenham no Ribatejo, no país. Senão, era como vender os Jerónimos aos pedaços para o estrangeiro, diz. Gonçalo Ornellas reconhece que tem sido feito um grande esforço para proteger o cavalo lusitano por parte dos criadores. “Há pessoas que fazem das tripas coração para manterem as coudelarias”, refere. “É uma actividade de paixão”, diz recusando queixumes mas admitindo que “quem é rico pode ter cavalos mas quem tem cavalos não fica rico”. O cavalo, sublinha, é um produto feito para em média ser vendido ao fim de sete anos “numa sociedade que cada vez mais está formatada para o consumo imediato”. Reforça que “ainda não nos conseguimos afirmar como tendo um produto de excelência”.Nem para o turismo o cavalo símbolo da região tem sido aproveitado. Tirando a Feira do Cavalo na Golegã não há na região mais nenhuma actividade que promova a raça. Não há uma máquina turística que leve estrangeiros às quintas, às coudelarias. Em grande parte porque não há estruturas montadas para o efeito, porque as instalações não estão preparadas. Um dos problemas pode ser a falta de apoios estatais para o desenvolvimento deste negócio que trazia mais-valias para o país potenciando outros negócios como a restauração, o alojamento. “Devia existir uma protecção do Estado a este produto que é o cavalo lusitano”, sugere. Os criadores não conseguem dedicar-se exclusivamente ao negócio dos cavalos porque é difícil obter uma rentabilidade a curto prazo. Quem cria o lusitano dedica-se a outras actividades, a outros negócios que permitem manter as coudelarias. Porque um animal destes pode ser vendido ao fim de alguns anos ou nunca ser vendido, continuando a ser alimentado e tratado pelo empresário. * Entrevista completa na edição semanal de O MIRANTE.

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