Entrevista | 22-06-2017 11:20

Lembro-me de andar a tocar na região a troco de quase nada

Lembro-me de andar a tocar na região a troco de quase nada

Pedro Abrunhosa esteve em Abrantes na abertura das festas da cidade para participar num concerto com Áurea e a Abrantes Big Band. No final falou com O MIRANTE.

Pedro Abrunhosa esteve em Abrantes na abertura das festas da cidade, para participar num concerto com Áurea e a Abrantes Big Band. No final falou com O MIRANTE e recordou os tempos em que ainda não era famoso e tocava na região como músico de jazz a troco de pouco mais que uma sanduíche. Elogiou o investimento das autarquias na recuperação das salas de espectáculos mas lembrou que o investimento em cultura é mais do que fazer obras e comprar equipamentos. Defendeu políticas culturais coerentes que não sejam feitas em função de calendários eleitorais nem determinada pelas marés dos artistas que estão na moda.

A última vez que passou pela região foi em 2014/2015 com a banda "Comité Caviar", na digressão "Contramão" e as salas esgotaram muito antes dos dias concertos. Já estamos em 2017 e não há concertos agendados para estas bandas. Só aceita tocar nos mesmos locais de dois em dois ou de três em três anos?!

É uma questão de itinerário da digressão. A digressão tem que ter um itinerário racional e aqui lembro-me que foram várias noites e só não foram mais porque tínhamos outros compromissos. Dois anos é o período mínimo para voltarmos a fazer o mesmo local mas agora, com o novo disco, está na altura de regressarmos.

Algumas cidades do distrito de Santarém remodelaram velhas salas de espectáculos, tendo gasto milhões de euros mas não têm qualquer programação regular de qualidade. Foi dinheiro mal gasto?

O investimento que foi feito foi fundamental mas há que investir numa programação cultural com alguma coerência. A agenda cultural não pode ser feita em função de calendários eleitorais nem determinada pelas marés dos artistas que estão na moda. Tem que haver um director artístico que assuma a gestão do teatro, do auditório, se não, Lisboa é que vai centralizar a escolha dos artistas que vão fazer itinerâncias. Isso já aconteceu no Estado Novo. Os artistas que tinham itinerância eram os artistas do regime. Os outros que não tinham nada. Daí que se tenha instituído pela província o Teatro de Revista. Não havia mais nada.

De um modo geral o que se apresenta como investimento na cultura é a obra de remodelação.

É preciso que as autarquias percebam o papel fundamental que a cultura tem no desenvolvimento regional. A cultura já não é uma coisa externa à política mas uma coisa intrínseca à política. Ela está na origem do que é hoje o paradigma do crescimento nacional. Este crescimento actual dá-se à volta de um paradigma de turismo cultural. Dá-se à volta do património. Dá-se à volta da visita que uma certa elite turística vem fazer ao país à procura de cultura, património. Praia há muito e em muito lado. Mas património cultural e património humano há pouco. É preciso que o governo e as câmaras entendam o papel fundamental que a cultura tem tido nesta retoma económica.

Consegue visitar a maior parte das terras onde vai tocar?

Por vezes consigo visitar. Por exemplo, hoje (14 de Junho), consegui visitar Abrantes. Infelizmente a maior parte das vezes não tenho tempo porque venho de um espectáculo e vou para outro mas tenho muitas saudades de quando chegava via, visitava os museus, os cafés, contactava com pessoas. Mais tarde, no concerto, sentia um espelhar disso porque falava dessas realidades. Por vezes falar das freguesias, do café, das personagens da terra que as pessoas conheciam, tinha um impacto muito grande.

Já lhe aconteceu ficar decepcionado com a plateia ou por ser reduzida ou por não corresponder ao seu entusiasmo e ao dos músicos?

É raro mas acontece. O meu percurso musical não começa quando eu começo a editar discos. Há um período antes do "Viagens" (álbum de estreia saído em 1994, gravado com os Bandemónio, com êxitos como 'Tudo o que eu te dou' e 'Não posso mais'). Nessa altura há uma mudança na cena musical portuguesa e a minha vida também muda. Mas esse disco não chega por acaso. Já havia um processo de trabalho científico. De investimento humano.

Tocou em muitos lados antes de ter êxito e grande visibilidade.

Há bocado estava-me a lembrar de ter estado aqui em Abrantes como músico de Jazz, nos anos 70 e 80. E toquei aqui na região em sítios esconsos, escuros, por uma recompensa que era pouco mais que uma sanduíche. É aí que aprendemos a dar valor ao que o público nos dá.

* Entrevista completa na edição semanal de O MIRANTE.

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