Entrevista | 01-05-2019 18:00

Um encarregado geral que começou como jardineiro

Um encarregado geral que começou como jardineiro
IDENTIDADE PROFISSIONAL

João Paulo Silva tem 50 anos e trabalha na Junta de Freguesia de Alverca e Sobralinho.

João Paulo Silva diz que na vida se deve começar por baixo e ir subindo os degraus até se chegar onde se quer. Para o funcionário público, hoje há mais trabalho para fazer e menos trabalhadores. É, por isso, fundamental que a população aprenda a preservar o espaço que é de todos.

O número de funcionários numa junta de freguesia é cada vez mais escasso para as competências que essas autarquias têm vindo a acumular. Grande parte do pessoal é contratado através de programas de apoio ao emprego do Instituto do Emprego e Formação Profissional. O problema? Quando aprendem a fazer bem o seu trabalho, o contrato acaba e são substituídos por outros.

Esta é a perspectiva de João Paulo Silva, 50 anos, encarregado geral na Junta de Freguesia de Alverca e Sobralinho. Natural de Mação, mudou-se aos seis anos para o Forte da Casa, onde ainda hoje reside, mas é em Alverca que trabalha há 12 anos como funcionário daquela autarquia.

João Paulo Silva refere que em qualquer profissão, seja ela no sector público ou privado, se deve “começar por baixo” e ir desbravando caminho até cargos de maior relevo, levando na bagagem os ensinamentos e experiência que se adquire ao longo do percurso profissional. Como exemplo, dá o seu próprio percurso: “Entrei para a junta como jardineiro e fui subindo de posto. Se não tivesse sentido na pele o esforço do trabalho de rua, não seria o encarregado que sou hoje”, diz.

A sua identidade profissional começou a desenhar-se muito antes de ser funcionário público. No Forte da Casa, com 14 anos, começou a trabalhar na construção civil, durante o período de férias escolares. Aos 17 interrompeu os estudos e foi trabalhar para uma fábrica de peças, onde esteve dois anos. Foi ainda serralheiro, empregado de escritório numa empresa de construção civil e até teve a sua própria empresa de reparação de interiores. “Foi por passar por todas estas áreas que hoje sei fazer um pouco de tudo. Hoje, se for preciso soldar, eu soldo, se for preciso pintar, eu pinto”, afirma.

Entre um e outro trabalho fez a paragem para cumprir o serviço militar. Tinha 21 anos. Fez a recruta na Base Aérea de Tancos e ficou colocado no Museu do Ar, em Alverca do Ribatejo. “Foram 18 meses de férias”, diz entre risos. “A vida militar não se identifica comigo, sabia que aquele nunca seria o meu caminho”, vinca.

João Paulo Silva é homem desenrascado que faz e não espera ver fazer. Embora agora já faça menos, porque a idade vai pesando. “Mas ainda subo a um escadote. Há 18 anos, quando entrei para a junta como jardineiro, a primeira coisa que fiz foi pintar. Na verdade, fazia tanta coisa que jardinagem pouca fiz”, lembra.

Temos de fazer mais com menos

Embora a União de Freguesias de Alverca e Sobralinho tenha crescido em população, o que se verifica é que na junta o número de funcionários tem diminuído, refere, lembrando que quando entrou a autarquia tinha mais de uma centena de funcionários só no quadro. Hoje tem 63 no total e 29 trabalham por contrato do fundo de desemprego.

“Trabalham ao sol e à chuva para receber mais uma centena de euros no final do mês. Não é motivação que chegue”, afirma, dizendo que, enquanto encarregado geral, todos os dias sai à rua para lhes dar apoio, ensinar e motivar para fazerem bem o seu trabalho. Como encarregado está ainda responsável pelas obras, cemitério e coordenador das festas da freguesia - organizadas pela Sociedade Filarmónica Recreio Alverquense - que decorrem em Junho.

“Os funcionários de uma autarquia local trabalham para que a população tenha maior qualidade de vida, infelizmente a falta de civismo de algumas pessoas dificulta o nosso trabalho. Não é fácil arranjar e manter limpo, quando outros se divertem a destruir. É preciso as pessoas saberem preservar o espaço público”, diz.

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