Entrevista | 04-05-2019 15:00

Um técnico de anatomia que lidera a banda Kwantta

Um técnico de anatomia que lidera a banda Kwantta

Marco Pereira trabalha no IPO e nos tempos livres dedica-se à música

Marco Pereira foi viver para Abrantes com três anos e por lá ficou até aos 18 anos, altura em que foi estudar para Lisboa. É técnico de anatomia patológica no IPO de Lisboa e nas horas livres é músico. Em 2001 criou a banda Kwantta com alguns amigos, quando ainda estudava em Abrantes. O tempo passou, a vida mudou mas o músico faz questão de manter este projecto musical que considera ser a menina dos seus olhos. Pondera regressar a Abrantes para viver mas quando souber que não fica sem trabalho.

Marco Pereira trabalha há nove anos no Instituto Português de Oncologia (IPO) de Lisboa mas ainda não teve coragem de ir ao piso da Pediatria. “É muito pesado e depois que fui pai ainda mexe mais comigo. Ver crianças, algumas tão pequeninas, com cancro e a lutarem contra a doença é complicado, mexe muito com as emoções”, confessa a O MIRANTE. Marco Pereira tem 32 anos, é técnico de anatomia patológica e trabalha nos laboratórios do IPO. O seu trabalho é analisar os exames dos pacientes e entregar os resultados aos médicos.

Nasceu em Coimbra e foi viver para Abrantes aos três anos, onde ficou até aos 18, altura em que foi estudar para Lisboa. Esteve quase para cursar medicina, mas a procura de tempo para a actividade musical mudou-lhe as ideias.

Começou a aprender música aos dez anos, mas lá em casa sempre se ouviu música. O seu pai, apesar de não ser músico, tocava flauta de bisel e cantava. Queria tocar violino, mas na altura não havia muitas escolas de música em Abrantes e tinha que se pagar para ter aulas particulares. O pai conseguiu convencê-lo a ir para a Sociedade de Instrução Musical Rossiense, em Rossio ao Sul do Tejo, onde aprendeu música e escolheu um instrumento. “Eu queria violino mas numa filarmónica não havia esse instrumento. Escolhi o bombardino. Não gostava muito, mas aguentei-me durante quatro anos, porque o que queria era aprender música”, recorda.

Foi quando ingressou no Conservatório Regional de Tomar que se apaixonou verdadeiramente pela música e descobriu o saxofone. “É o meu instrumento de eleição. Hoje toco vários instrumentos, mas o saxofone continua a ser o meu preferido. Foi uma grande mudança para mim”, explica. Ficou na Filarmónica de Rossio ao Sul do Tejo até ir para Lisboa e ainda conseguiu conciliar os ensaios e actuações com os estudos. Só quando terminou o curso é que teve que deixar a sua primeira escola de música. Em 2001, juntamente com amigos de Abrantes, formou os Kwantta, que em 2013 lançaram o seu primeiro álbum. Em Abril deste ano lançaram um EP, dando continuidade ao trabalho musical iniciado na escola secundária.

“Sou mais feliz porque faço música”

Actividade profissional dá-lhe estabilidade financeira para se dedicar à paixão pela música

A actuação dos Kwantta na Queima das Fitas de Coimbra é um dos momentos que Marco Pereira guarda com maior carinho. A banda de Abrantes ia tocar antes dos ingleses James, principal atracção do último dia dos festejos académicos. “Eles foram muito simpáticos e convidaram-nos para ir ao camarim deles e estivemos à conversa. O melhor foi quando eles nos pediram se podiam actuar antes de nós porque tinham que viajar cedo para irem para outro concerto. Costumamos brincar e dizer que os James fizeram a nossa primeira parte e que nós fomos os convidados principais. Foi uma noite memorável porque o recinto estava cheio”, recorda.

O vocalista dos Kwantta admite não conseguir viver sem música e sente falta de tempo para se dedicar a essa arte e à composição, que é o que mais gosta de fazer. “Tenho duas filhas, com um e quatro anos de idade. Elas requerem muita atenção e faço questão de estar com elas, mas isso tira-me tempo para a música. Às vezes refugio-me para poder compor e com organização tudo se consegue”, afirma.

A sua actividade profissional dá-lhe a estabilidade financeira para poder fazer música nos tempos livres. “Sou mais feliz porque faço música e consigo abstrair-me de tudo enquanto estou concentrado na música”, admite. Um dos seus sonhos é actuar num grande palco em Portugal mas também gostava que os Kwantta tivessem a oportunidade de se internacionalizar em festivais europeus. “Um dos meus sonhos era fazer uma Tour pela Europa a mostrar a música dos Kwantta”, confessa. Queen, Elis Fitzgerald, Frank Sinatra e David Bowie são algumas das suas referências musicais e onde se tenta inspirar para compor.

Faz falta a Abrantes tornar-se uma referência a nível musical
Apesar de não viver em Abrantes desde os 18 anos, visita a cidade, onde vive a sua família, todos os meses. Os Kwantta já tocaram várias vezes nas Festas da Cidade e sentem o apoio da câmara municipal no seu projecto. Marco Pereira considera que faz falta em Abrantes os artistas locais criarem sinergias para dinamizar a cena musical na cidade. “Faz falta a Abrantes tornar-se uma referência a nível musical, onde todas as bandas actuem com frequência num espaço”, afirma.

O músico lamenta que muitas vezes a sua banda tenha que se sujeitar às condições do mercado e das salas para conseguir vender o seu trabalho. “Por vezes percebemos que vendemos o nosso trabalho abaixo do custo de mercado pelo simples facto de ainda não sermos uma banda com projecção nacional. Apesar de sabermos que apresentamos um espectáculo com qualidade, ao mesmo nível das bandas de projecção nacional”, refere.

Marco Pereira considera que se os elementos que compõem os Kwantta vivessem todos em Lisboa a banda não teria mais reconhecimento nacional. Poderia ser mais fácil ensaiarem mais vezes mas a capital está lotada de bandas e não há mercado para todas.

Estilo de vida sedentário e alimentação são factores de risco para o cancro

“As estatísticas parecem dizer que existe um aumento do número de cancros no nosso país, mas os casos de cancro sempre foram os mesmos. O que mudou nos últimos anos é que existem mais programas de rastreios e esta doença detecta-se mais precocemente”. Marco Pereira considera também que há 30 anos não se falava de cancro como se fala hoje, que é a doença do século. O técnico de anatomia patológica diz que o tipo de alimentação, o estilo de vida mais sedentária, com menos exercício físico, o tabaco, álcool e uma alimentação menos cuidada são factores que provocam as doenças. O músico gosta de correr e é adepto de um estilo de alimentação saudável, que tenta incutir às filhas. “Ou tomamos cuidado com a nossa saúde ou sabemos que temos mais hipóteses de vivermos menos tempo”, alerta.

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