Entrevista | 05-06-2019 18:00

Ser funcionário numa escola é uma correria constante

Ser funcionário numa escola é uma correria constante
IDENTIDADE PROFISSIONAL

Maria do Carmo Macedo é encarregada da equipa de funcionários do Agrupamento de Escolas de Forte da Casa.

S er funcionário de uma escola nunca foi tarefa fácil. Há que gerir blocos de salas de aula, fazer os primeiros socorros ao aluno que cai no recreio, limpar corredores, salas, refeitório e casas-de-banho. Ir substituir a colega da reprografia e atender o pedido do professor. “E tapar buracos, seja da colega que faltou, ou da que está de baixa. É uma correria contante”. A visão é de Maria do Carmo Macedo, funcionária há 32 anos na Escola Secundária de Forte da Casa, e encarregada dos funcionários do agrupamento há 10 anos.

“Diz-se que os funcionários da escola não trabalham, quando é precisamente o oposto. Aguentamos este trabalho por amor à camisola. Principalmente agora, que o número de funcionários caiu drasticamente. Temos de fechar serviços temporariamente, para ir acudir a outro porque não chegamos para as encomendas”, conta.

Nesse agrupamento de escolas trabalham 58 funcionários, dos quais 18 só fazem três horas e meia diárias e 10 estão de baixa prolongada. Sobram 30 a trabalhar a tempo inteiro em três escolas - EB1 Professor Romeu Gil; EB 2,3 Padre José Rota; e Secundária de Forte da Casa - com um universo de 2.400 alunos. No concurso que está a decorrer a nível do país para a entrada de novos funcionários para o quadro, estima-se que esse agrupamento fique com seis. “Não vão chegar, para colmatar todas as falhas”, diz.

Na sua perspectiva, a actualização salarial a cerca de 10 mil assistentes que recebem o salário mínimo nacional é uma medida “justa e de incentivo”. “Tenho colegas que estão há 22 anos a receber o ordenado mínimo”, desabafa, acrescentando que há 10 anos que não é aumentada.

São a autoridade e a psicologia de corredor

Apaixonada pela sua profissão, já perdeu a conta aos alunos que viu passar pelos corredores e assegura que já nem ouve o toque da campainha, de tão “entranhado que está na cabeça”. Considera que as gerações de alunos são muito diferentes e agora menos carinhosas e de trato mais difícil.

“Dantes chegavam à escola e vinham sentar-se ao pé de mim, desabafavam, estudavam, riam e choravam. Havia uma ligação mais forte entre alunos e funcionários. Agora, não é tanto assim”, diz. Fez muitas vezes o papel de autoridade para impor ordem nos corredores e recreio e de psicóloga de ocasião.

Lembra um episódio que a marcou: depois de abordar um aluno que lhe “parecia triste”, este tirou a camisola e mostrou-lhe marcas da violência que sofria em casa. “Não é fácil para nós lidar com estas situações, mas fazemos o melhor que conseguimos”, diz, defendendo que seria importante terem acesso a mais horas de formação para saber como agir nos casos com que têm de lidar diariamente.

Maria do Carmo recorda ainda, emocionada, o tempo em que os alunos a abraçavam e a chamavam pelas iniciais do nome: “MC, já toda a gente me conhecia assim. Pais de actuais alunos que aqui estudaram, ainda mantêm amizade comigo. É o melhor que levo desta profissão”.

Natural de Idanha-a-Nova, depois de concluir o curso profissional de administração e comércio ficou a trabalhar na secretaria de uma escola na Covilhã. “Sabia que o meu futuro passaria sempre por continuar a trabalhar junto dos estudantes e assim foi”, afirma. Aos 64 anos, Maria do Carmo já pensa na reforma, mas olha-a desconfiada. “Quando chegar a altura não sei se me vai agradar ficar parada em casa. Vou ter de ir para o voluntariado ou arranjar outra actividade, porque parada não me imagino”, diz.

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