Entrevista | 26-06-2019 12:30

O homem que já mudou duzentos pneus num fim-de-semana

O homem que já mudou duzentos pneus num fim-de-semana
IDENTIDADE PROFISSIONAL

Rogério Martins, 53 anos, trabalha actualmente numa oficina em Almeirim.

É um homem dos sete ofícios que já teve diversas profissões ao longo da vida. Começou a trabalhar na agricultura, passou pela construção civil, foi bombeiro e auxiliar num hospital e acabou por se dedicar aos pneus, aquelas peças sem as quais um automóvel não vai longe.

Rogério Martins conta já com vários momentos trágicos na sua vida, como a morte do pai quando ainda era criança ou quando um incêndio lhe destruiu a casa há 19 anos, mas nunca foi homem de baixar os braços. Conhecido como um homem dos sete ofícios, Rogério já foi operacional nos Bombeiros Voluntários e nos Bombeiros Municipais de Santarém, foi auxiliar nos Hospitais da Universidade de Coimbra, trabalhou na construção civil e na agricultura, mas foi na área dos pneus que se especializou. Actualmente, a residir em Santarém e a trabalhar numa oficina em Almeirim, divide o seu dia-a-dia entre a manutenção de pneus, a Associação de Pais da Escola Básica do 1º Ciclo do Mergulhão, em Santarém, onde é vice-presidente, e a sua família.

Nascido em São Vicente do Paúl, concelho de Santarém, Rogério Martins sempre foi uma criança feliz e pouco exigente. Com mais sete irmãos, conta que, como não tinha muito tempo para brincar, a parte lúdica acabava por ser mesmo os próprios momentos em que trabalhava para ajudar em casa. E porque a vida de Rogério não foi um mar de rosas, foi logo na infância que teve o primeiro desgosto ao ver o seu pai morrer ainda jovem. Entretanto, e porque a mãe não tinha condições de cuidar sozinha de todos os filhos, Rogério acabou por ser adoptado pelos padrinhos de um dos irmãos, que viviam em Abrã, concelho de Santarém.

O ex-bombeiro ainda residiu com o casal até aos 14 anos, mas um pedido da mãe fez com que mudasse novamente de residência, desta vez para ir viver com ela. “Voltei para casa, mas nunca deixei o casal que me adoptou todos aqueles anos. Eles ficaram no meu coração”, confessa Rogério, referindo que começou a trabalhar, primeiro, na agricultura e, mais tarde, na construção civil. Foi nessa altura, inclusive, que foi bombeiro nos Voluntários e, anos depois, nos Municipais de Santarém até ir trabalhar para os Hospitais da Universidade da Coimbra. “Foi maravilhoso o tempo que lá estive. Trabalhar com idosos não é fácil, mas é muito gratificante”, admite Rogério, adiantando que dois anos depois voltou para Santarém, desta vez para trabalhar na manutenção de pneus, área em que trabalha até hoje.

“Ainda fiz a manutenção dos carros de três pilotos irlandeses que participavam no campeonato de drifting (técnica de deslizar o carro de forma que as rodas dianteiras estejam sempre numa direcção oposta à curva)”, conta Rogério, referindo ter batido mesmo o seu recorde ao mudar 200 pneus num fim-de-semana. E porque sempre teve uma grande ligação à comunidade e ao associativismo, o ex-bombeiro faz questão, apesar de ter uma vida profissional activa, de pertencer a várias colectividades locais, como a Associação de Vale de Estacas e a Associação de Pais da Escola Básica do 1.º Ciclo do Mergulhão.

Casado e com filhos, Rogério Martins passa o seu dia entre pneus, reuniões com pais e a ajudar em casa nas tarefas domésticas. O seu dia começa cedo, pelas sete da manhã, altura em que se senta à frente da televisão antes de levar os filhos à escola e ir trabalhar. Sem hora de saída fixa do emprego, Rogério tenta estar sempre disponível a partir das sete horas da tarde, momento em que está com os filhos e passa na escola todos os dias ou para reuniões com pais ou com empresas que irão ajudar nas actividades que a associação organiza.

Um fogo que lhe marcou a vida

Entre alegrias e tristezas, histórias é o que não falta a Rogério, que chegou a fazer parte da equipa que construiu o edifício do Hospital de Santarém. “Houve muitos momentos que me marcaram, mas o pior foi mesmo quando a minha casa ardeu totalmente há 19 anos. Em meia hora perdi tudo o que tinha trabalhado durante 13 anos”, conta Rogério, desabafando que os meses seguintes foram terríveis, pois vivia numa residencial com a família e tinha de ir a um restaurante fazer as refeições. Mas conseguiu superar a desdita e recomeçar tudo do zero graças ao trabalho e dedicação de todos.

Rogério Martins não tem dúvidas que o maior problema que as associações de pais têm neste momento é a falta de empenho de muitos dos seus elementos. É que, afirma, isto tudo necessita de trabalho e muitos pais querem fazer parte das associações e depois desinteressam-se disso. “Costumo sempre dizer quando entram que, quando há uma actividade, basta estarem uma hora a ajudar que é o suficiente”, garante Rogério, acreditando que, hoje, os pais não são mais queixosos, o ensino é que está mais exigente.

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