Opinião | 21-12-2011 16:38

Horas extraordinárias na saúde

“Sindicatos médicos ameaçam com greve às horas extraordinárias”. A notícia parece de outro mundo mas não é. Os médicos são a única classe profissional em Portugal que está protegida por um escudo invisível. Só é médico quem as organizações profissionais querem. E o acesso à profissão é controlado como se controlam os membros admitidos nas sociedades secretas, como é o caso da Maçonaria e da Opus Dei.Numa época em que o mercado de trabalho está em mudança, em que nada voltará a ser como dantes, seria lógico ver o Governo português a abrir as universidades aos jovens que aspiram chegar ao curso de medicina. Bem ao contrário os médicos são uma classe profissional à parte e ameaçam parar as urgências iniciando uma greve às horas extraordinárias.Para as horas extra, no trabalho dos médicos, servirem para convocar uma greve, que pode paralisar o sistema, imagine-se o que elas representam no horário laboral destes profissionais da saúde. E o Ministro da tutela vai continuar a assobiar para o lado no que respeita ao acesso de mais estudantes aos cursos de medicina. Pois claro! Quem manda são os interesses instalados.Na inauguração do Hospital Privado de Santarém conversei com um médico amigo que me contou esta história extraordinária. Nos últimos dias esteve no concelho de Coruche a realizar consultas e uma das doentes desfez-se de tal forma em agradecimentos e gratidões que o meu amigo perguntou-lhe porque estava tão comovida e agradecida uma vez que a consulta até tinha corrido bem e não havia muito para agradecer. A resposta chegou de forma surpreendente: o senhor doutor foi tão bom! nem precisou de ralhar e de ofender.É extraordinário como a crise de profissionais da saúde está a afectar a relação entre médico e paciente principalmente nas aldeias mais distantes e junto das classes mais pobres e desprotegidas. Os casos em que os médicos são agressivos para com os seus doentes, comportando-se como azémolas, são a prova de que é preciso mudar a política de saúde e acabar com a falta de profissionais neste sector, tão importante para a nossa qualidade de vida e para a economia do país.No dia em que ouvi contar esta história passada em Coruche soube também que um médico amigo dos tempos de escola mandou estudar para uma faculdade da República Checa o seu filho que não conseguiu entrar no curso de medicina em Portugal por uma diferença de duas décimas de valor nas notas do final do ano. É gente de bem e com boa posição social e financeira. Terão um filho médico como realmente desejam. E não haverá interesses instalados que os impeçam de investirem numa profissão para o qual o filho também se sente vocacionado.Estamos numa grande encruzilhada. Mas nada disto se justifica tendo em conta que acabamos de ter como Primeiro-ministro um engenheiro com diploma passado a um domingo; que deixou correr rios de tinta sobre a sua vida de trabalhador estudante e nunca assumiu as facilidades do sistema que ele próprio alimentou como governante.É muita gente hipócrita para tão poucos metros quadrados de território, diria o meu avô se ainda fosse vivo e tivesse oportunidade de conhecer estes manhosos que nos governam a saúde.JAE

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