Opinião | 23-10-2013 18:09

Canudo

A “geração do canudo” tem muito que se lhe diga. A resposta depende de todos, sobretudo dos próprios, dos professores e das famílias.

A “geração do canudo” tem muito que se lhe diga.A resposta depende de todos, sobretudo dos próprios, dos professores e das famílias. Apesar da massificação, os licenciados continuam a ser uma classe privilegiada. Nenhum mal há nisso se houver o retorno social e económico desses privilégios. O país investe na educação e os contribuintes têm legítimas expectativas de retorno. O mais curioso é que a maioria, a esmagadora maioria, dos alunos com quem vou contactando não tem a noção desta sua condição de privilégio – todavia esta é a classe de quem o país mais necessita para melhorar as suas condições de vida.Salvo algumas exceções, o aluno está nesta universidade como podia estar noutra, neste curso ou naquele é igual. Tudo vai acontecendo com tranquilidade e passivamente. O que está mal “nada depende de mim”. Assim sendo, as nossas expectativas sobre o tal, legitimo, retorno não podem ser muitas.Sobre a gestão da carreira, nem pensar (“o que é isso?”). Um dia de cada vez onde tudo, mais ou menos, como até aqui tem acontecido. Pouco ou nada os faz pensar e análise crítica do mundo que os rodeia é coisa que não interessa. Procura-se um canudo e o resto logo se vê. Alguém vai ter que “me arranjar um emprego”.Entretanto, segundo parece, os bons emigram e por cá os empresários procuram recursos qualificados, com atitude, e não encontram. Há aqui um desencontro que não se compreende. Os empresários (hoje muito presentes nos conselhos consultivos das universidades e politécnicos) têm que explicitar, de vez, de que formações necessitam.Será que a questão está aqui? As universidades e os possuidores de canudo têm que responder cabal e integralmente às necessidades do mercado. A atitude vai ter que mudar. Desde logo, ao fim de 17 ou 18 anos de formação, o canudo da licenciatura vai ter que servir, em primeira opção, para criar riqueza para o próprio. Por outras palavras, o licenciado tem de ser capaz de criar o seu próprio emprego/trabalho. Se não esperarmos isso de um licenciado, que se prepara durante 18 anos, de quem o esperamos? Para que assim seja, tem que se valorizar e estimular a cultura do risco e promover o espírito de iniciativa. Se é fácil abrir uma empresa, tem de ser igualmente fácil fechá-la. Antigamente perguntava-se a um licenciado à saída da universidade qual o curso e qual a média. Depois passou a perguntar-se “o que sabe fazer”. Hoje pergunta-se “o que está disposto a aprender”. Um canudo tem que ser essencialmente isso: uma atitude de disponibilidade para aprender. Os nossos estudantes estão preparados para este desafio? E, já agora, os professores têm a atitude que estes tempos exigem? Falta só o essencial, o mais barato mas ao mesmo tempo o mais difícil; mudar de atitude. Esta é a tal pequena coisa que faz a grane diferença. Durante anos enganaram-nos e nós, alegremente, consentimos. Que estes tempos difíceis, nos obriguem, pelo menos a mudar de atitude. Carlos Alberto Cupetocupeto@uevora.pt Professor na Universidade de Évora

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