Opinião | 02-05-2019 07:00

Última Página: Manual de pintura e caligrafia ribatejana

Uma viagem escrita por Florença para lembrar as tontices dos nossos autarcas e a dimensão da cabeça de alguns deles a começar na Azambuja e a acabar em Santarém.

Há um mês voltei a Florença quase 25 anos depois da minha primeira vez. Marquei a viagem no dia a seguir à noite em que acabei de reler, também muitos anos depois, o livro “Manual de Pintura e Caligrafia”, de José Saramago, uma ficção que se lê como autobiografia, o meu género literário preferido (o livro fala de Florença, como é evidente, ou de outra forma não estava aqui referenciado. E tem uma frase “assassina” sobre Santarém que um dia destes trago aqui noutra crónica). Florença é a cidade mais bem cuidada do mundo; talvez a mais bem governada; talvez a mais bem frequentada; porventura a mais extraordinária de todas as cidades do mundo por razões que me dispenso de comentar e que desafio cada leitor a descobrir.

Não há alcatrão nas ruas de Florença, cuja dimensão é maior cem vezes que a vila de Azambuja; as ruas são todas empedradas, da mesma pedra que parece ter mais de quinhentos anos como têm as pedras dos palácios.

Fico com insónias quando leio as palavras dos nossos autarcas a dizerem que vão acabar com os empedrados nos centros das suas terras para facilitarem o escoamento das águas e mais o raio que os parta, já que a ignorância e o desrespeito pelos valores da cultura e da civilização, em muito do território português, é literalmente militar.

Todos os dias da minha vida nos últimos 20 anos, mando o antigo presidente da Câmara de Santarém, Rui Barreiro, para um sítio que só eu sei, porque a renovação do denominado Largo do Seminário, onde circulo com frequência, é um aborto, tal como Rui Barreiro sempre foi politicamente a gerir a cidade enquanto mandou alguma coisa.

Já escrevi noutras alturas, em que me apetecia escrever com mais pimenta, que uma grande maioria dos nossos autarcas não viaja e quando viajam não vão em trabalho. Vão e regressam com a mesma mala de cartão; voam e aterram com a mesma cara de parvos, que também é a minha, com que saem do aeroporto de Lisboa ou do Porto. Poucos, muitos poucos, neste país de Ruis Barreiros, que trabalham uma vida inteira para o Estado e mais para quem só Deus sabe, têm noção do serviço público que lhes é confiado quando os partidos políticos os escolhem para receberem os votos dos eleitores. As cabeças de muitos deles estão ao serviço dos interesses próprios e não da comunidade. São presidentes de câmara e não estão presidentes de câmara. São assim uns analfabetos políticos, como é aquele jovem da Chamusca, que se chama Paulo Queimado, que se acha muito importante, principalmente nos dias em que consegue apertar o cinto das calças sem grande esforço.

Volto à Câmara da Azambuja e ao projecto de alcatroar o coração da vila da Azambuja. Se bem conheço Luís Sousa, o actual presidente da câmara, ele não vai levar até ao fim esta ideia maluca. Não é velho o suficiente para mandar às urtigas o amor à sua terra e não acredito que esteja a querer arranjar trabalho a uma empresa que vende alcatrão só porque ela precisa de pagar as prestações do Processo Especial de Revitalização. JAE

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