Saúde | 06-01-2005 17:29

Quatro mil portugueses sem voz devido a cancro da laringe

O novo presidente da Associação Portuguesa dos Limitados da Voz (APLV), Pedro Santos da Cunha, revelou hoje há cerca de 4.000 portugueses sem voz devido a cancro na laringe, muitos deles vítimas de discriminação social."A limitação da voz provoca um isolamento muito grande e até rejeição por parte dos familiares", afirmou o responsável, que hoje tomou posse como presidente da APLV, em cerimónia realizada no Instituto de Português de Oncologia do Porto (IPO).Segundo referiu, 90 por cento dos casos de cancro da laringe devem-se ao consumo de tabaco.O cancro da laringe, de acordo com o director do IPO/Porto, Artur Osório, tem uma incidência de cerca de três por cento e "muitas vezes obriga a realizar cirurgias radicais".A laringectomia é uma cirurgia de remoção da laringe, normalmente realizada na sequência de um cancro. A partir desse momento, o doente passa a respirar directamente por um buraco no pescoço - o traqueostoma - perdendo a capacidade respiratória do nariz e da boca.Nestes casos, a fala só se torna possível com a colocação de uma prótese, com o uso de uma laringe electrónica ou após uma aprendizagem da voz esofágica.Pedro Santos da Cunha, que diz terem-lhe cortado "o pio há exactamente seis anos", relatou as dificuldades de comunicação destes doentes, para quem recuperar a fala se transforma muitas vezes num "bicho de sete cabeças"."Cada caso é um caso, mas recuperar a fala é muitas vezes um problema psicológico e não físico", disse, considerando "muito importante" ajudar este tipo de doentes na sua reinserção social.A associação, criada há já 17 anos e com cerca de 700 sócios, apresentou há mais de dois anos uma acção em tribunal contra a Tabaqueira Nacional.Pedro Santos da Cunha afirmou desconhecer em que fase se encontra o processo, uma vez que quem tinha o assunto em mãos era o seu antecessor, Arménio Silva, que morreu há cerca de dois meses."Confesso que não sei em que fase está o processo, mas pretendo reunir com o advogado dentro de algum tempo", disse.Nesta acção contra a Tabaqueira Nacional, 3.500 pessoas vítimas de cancro da laringe provocado pelo consumo de tabaco pretendem uma compensação de 25 milhões de euros.O caso está entregue ao advogado António Pinto Pereira, que defende as alegadas vítimas do processo Casa Pia e o co-piloto da Air Luxor detido na Venezuela por suspeitas de envolvimento em tráfico de droga.Arménio Silva reafirmou que esta verba se destina a criar centros de reabilitação de voz, inexistentes em Portugal.Os denominados "Clubes da Voz" serão espaços onde os laringectomizados poderão conviver e receber todo o apoio, quer psicológico, quer social."Espanha tem 80 centros de voz, espaços onde é possível aprender novamente a falar e conviver", salientou.

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