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Goleadas de “Esfericultura”

José Miguel Noras - O nosso elo mais forte:

“Toponímia da Cidade de Torres Novas”, da autoria de Joaquim Rodrigues Bicho, é o último livro editado pela câmara torrejana.Este município chega, pela primeira vez, à liderança da produção editorial no distrito, sucedendo, assim, às autarquias de Tomar e de Santarém.Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades (culturais).

Existe um provérbio que reza, mais ou menos, assim: se encheres a cabeça em vez da carteira, jamais serás assaltado. E nós, portugueses, seguimos este ditado à risca num domínio específico: o “futebol das estrelas”.Temos três jornais diários que se debruçam, minuciosamente, sobre esta modalidade.As estações radiofónicas e televisivas dedicam o seu melhor (equipamentos e “nobreza de horários”) à cultura do futebol ou “esfericultura”. (De esférico+cultura).Os jogos electrónicos mais modernos, que fazem a alegria de crianças e jovens, seguem a mesma orientação.Há, entre nós, compatriotas que compram e lêem (religiosamente), todos os dias, aqueles três jornais desportivos e não perdem qualquer programa da bola, pulando de canal em canal.Sabemos discutir, a fundo, as tácticas adoptadas pelas diferentes equipas e opinar sobre transferências de futebolistas e de treinadores. Conseguimos, mesmo, acreditar em mil impossibilidades e garantir que existiu o lance (ou a falta) que nunca aconteceu. Tudo isto, porque, em matéria de “esfericultura”, todos os dias há milagres e supremas jogadas de solene exaltação.Portugal possui, hoje, dezenas e dezenas de “monarcas”, na casa dos vinte/trinta anos (e, agora, até com menos idade), legitimamente venerados pela glória dos seus feitos, que atiram a nossa pátria para a mais longínqua posteridade, nas entranhas da admiração universal.Devido a essa marcha de “esfericulturais” sucessos, em nenhuma outra “monarquia”, “soberano” algum disfrutou de tamanhas coberturas mediáticas de proximidade. A simulação da menor arrelia conjugal de um “rei da bola” dá direito a televisão e a muitas primeiras páginas. Se a zanga for um pouco mais séria e prolongada, teremos “caso” meses seguidos nos “telejornais”.Graças às façanhas de “suas majestades” e ao nosso interesse em conhecê-las, Portugal tornou-se, indubitavelmente, um dos países mais cultos neste precioso ramo do conhecimento.É aqui que reside o nosso elo mais forte, traduzido num superavit de severas goleadas de “esfericultura”.Nestas circunstâncias, talvez valesse a pena suplicar ao futebol que nos liberte um pouco mais e nos deixe consagrar, também, algum tempo a outras áreas da cultura. Quem sabe se, assim, passaríamos a conhecer Fernando Namora, António Sérgio e Júlio Dantas ou, mesmo, a ter uma ideia aproximada do que é uma tonelada, um quilómetro ou uma onça.Quem sabe se, deste modo, em programas televisivos do tipo “o elo mais fraco”, deixaríamos de declarar que Namora e Sérgio são brasileiros (sic) e que Dantas nasceu em França (sic). Quem sabe se deixaríamos de entender uma tonelada como “50 kg” (sic), um quilómetro como “zero vírgula cinquenta” (sic) e uma onça, que não chega a uns escassos trinta gramas, como “quinhentos quilos” (sic).Quem sabe? Eu acredito num protocolo de duas cláusulas só: «primeira – os “soberanos quebra-canelas” limparão 90% da “esfericultura” das cabecinhas portuguesas; segunda – os “súbditos portugueses” quitam esta limpeza, enchendo a carteira do futebol com 90% de acções de “esfericultura”.». As restantes (10%) já estão em cofre.Vamos à bola? Post ScriptumOs “pequenos” e os “grandes”Existem clubes sérios e equilibrados (de referência local) que levam vidas para realizar (pataco a pataco) o sonho do arrelvamento dos seus campos pelados.São, justamente, os casos dos relvados de Amiais de Baixo, em Santarém, e de Assentis, em Torres Novas, cujas inaugurações agora ocorreram.Paradoxalmente, os “clubes grandes” vão ter (num abrir e fechar de olhos) dez novos estádios, como se ainda vivêssemos no joanino tempo do ouro do Brasil.Esta aposta poderá até ter representado uma fricção no que resta do ego lusitano. Mas, simultaneamente, revelou-se um incontornável pecado capital, em face da agonia financeira que atravessa o bolso dos “portugueses mais portugueses”.Definitivamente, ninguém vai preso, neste país, por atentados contra a “soberania racional”.Torres de Cultura“Toponímia da Cidade de Torres Novas”, da autoria de Joaquim Rodrigues Bicho, é o último livro editado pela câmara torrejana.Este município chega, pela primeira vez, à liderança da produção editorial no distrito, sucedendo, assim, às autarquias de Tomar e de Santarém.Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades (culturais).FuracõesO dinamismo de Carlos Catalão tem surpreendido companheiros e adversários políticos na Assembleia Municipal de Santarém.Este eleito local conseguiu, inclusivamente, o difícil feito de gerar consensos em torno de questões tão complexas como as do ambiente e da regionalização.A substância e a diversidade das suas propostas têm originado amplos debates políticos e valeram-lhe o “título” de “furacão”, na última assembleia. Tratando-se de uma apreciação elogiosa, é justo atribuí-la, também, aos novos “furacões” dos diferentes quadrantes, pelo interesse das suas intervenções e pela vivacidade que têm imprimido aos debates (por Santarém).Santarém (Marvila), 1 de Novembro de 2002.

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