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Água de Almeirim

José Miguel Noras

Toda a gente parece fugir do seu papel, endossando-o a terceiros, sempre que estão em causa problemas e responsabilidades embaraçosos. Os líderes dispensam os bodes expiatórios. Aqueles que nunca chegarão a ser líderes (mesmo que lhes tenham dito o contrário) não prescindem das bengalas da desculpa esfarrapada, nem que seja à custa do corpo técnico de uma autarquia municipal ( no Ribatejo ou na Estremadura).Liderança e responsabilidade constituem os antídotos que poderão contribuir para o nascimento de uma realidade politicamente nova, quando já quase todos sentem (ou deveriam sentir) que estão mortas as expectativas depositadas nele ciclo político que atravessamos.

O presidente da Câmara de Almeirim, Dr. José Sousa Gomes, votou a favor da actualização do preço da água (ao domicílio) no seu município. Simultaneamente, subscreveu um “abaixo assinado” repudiando aumentos desmesurados do preço deste bem essencial. A meu ver esteve duas vezes bem. Vejamos porquê - Quando alguém é eleito para presidente ou para vereador fica com um conjunto de obrigações inerentes ao seu novo estatuto e às exigências estabelecidas na legislação aplicável às autarquias. É condição sine qua non (para a permanência no cargo) cumprir os requisitos enunciados na lei. Um desses requisitos é o de fixar preços que não sejam inferiores aos custos dos bens fornecidos ou dos serviços prestados. O presidente de Almeirim seguiu, com a sua equipa, o disposto na legislação e respeitou as orientações (expressas) da tutela. Por outro lado, ao assinar um protesto contra preços desmesurados da água, voltou a agir correctamente, uma vez que o tarifário aprovado não é especulativo nem se sobrepõe, com excessos, aos respectivos custos. A tabela fixada dá cumprimento à lei. Não integra os aumentos que, em alguns sectores críticos, foram mencionados. Ora, o presidente da edilidade almeirinense está contra esses aumentos. Podendo fazê-lo, não os propôs nem os aprovou. Mesmo assim, foi violentamente atacado. A alguma crítica política custa tanto suportar o acerto alheio como às andorinhas roer latão. Muitas vezes, há a tendência para esquecer que o “autarca é pessoa e que parte dessa pessoa é o autarca”. A sua eleição para cargos executivos não elimina a sua liberdade de expressão nem o seu direito de análise.Por respeitar a lei e promover o progresso de Almeirim (como faz), o presidente Sousa Gomes nunca sentirá a dor de um combatente ferido. Quando deixar de agir de esta forma, arrastará o seu o nome e o nome da sua terra para o espaço da projecção mediática, mas pelas piores razões.Post ScriptumUm mimoAlheio às polémicas que a iniciativa suscitou, quero somente sublinhar a primorosa organização da I Feira Nacional do Toiro realizada no parque de exposições de Santarém. O certame estava um mimo. Vai fazer história no calendário anual das actividades do CNEMA (Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas).Torna-se, assim, obrigatório elogiar quem promoveu esta feira do toiro na capital do Ribatejo: o CNEMA, a Câmara de Santarém (Pelouro da Cultura), a PROMEXPO e os consagrados mestres Joaquim Grave, Carlos Empis, Pedro Torres e Miguel Félix da Costa (entre outros aficcionados, ganadeiros e “coudeleiros”).No âmbito das distintas abordagens ligadas às tradições taurinas, existe, felizmente, um direito igual para todos. É a liberdade de sermos diferentes. Liderança e responsabilidadeQuando a “ponte de Entre-os-Rios” caiu, o Dr. Jorge Coelho demitiu-se do cargo de Ministro do Equipamento Social. Assumiu-se como um estadista. Era a credibilidade da nação que estava em causa. Aquela tragédia nunca deveria ter acontecido. O ex-governante (sem ter culpas na matéria) assumiu todas responsabilidades institucionais sem esperar por inquéritos nem sem refugiar nas falhas técnicas que tivessem ocorrido. Mais tarde, em distinto dossiê (túnel do metropolitano no Terreiro do Paço), reiterou, de forma inequívoca, o teor de um seu despacho que (enquanto governante) acautelava os interesses da Administração Central. Voltou a mostrar ser um líder que sabe o que faz, que tem a noção das responsabilidades e que possui sentido de Estado. Recordam-se estes dois exemplos numa altura em que toda a gente parece fugir do seu papel, endossando-o a terceiros, sempre que estão em causa problemas e responsabilidades embaraçosos. Os líderes dispensam os bodes expiatórios. Aqueles que nunca chegarão a ser líderes (mesmo que lhes tenham dito o contrário) não prescindem das bengalas da desculpa esfarrapada, nem que seja à custa do corpo técnico de uma autarquia municipal ( no Ribatejo ou na Estremadura).Liderança e responsabilidade constituem os antídotos que poderão contribuir para o nascimento de uma realidade politicamente nova, quando já quase todos sentem (ou deveriam sentir) que estão mortas as expectativas depositadas neste ciclo político que atravessamos. Sexo em peloNão há, hoje em dia, televisão que se preze que não dê sexo em pelo aos portugueses só porque esta opção faz subir as audiências. É pena a coisa não ser tratada de uma forma pedagógica, no domínio da “educação sexual”, sob o signo “identitário” da saúde e da própria vida.Aliás, a sexualidade, entendida na sua dimensão afectiva, tornou-se “mais importante do que a própria identidade”. Com efeito, segundo explicou Quentin Crisp, “o sexo já não constitui apenas parte da definição humana, ultrapassou mesmo a sua identidade”. Entretanto, a filosofia moderna passou a dizer (de acordo com o mesmo autor): “Eu ejaculei, logo existo”. Ainda há quem acuse as televisões de comportamentos impróprios, quando estas, afinal, se tornaram nas mais alegres operárias da filosofia moderna da “tele-ejaculação”! 40 LivrosCompletamos, hoje, quarenta edições do Livro aberto. Cabe-nos, assim, agradecer todos os testemunhos de apreço recebidos dos leitores.Sensibilizou-nos, particularmente, a forte adesão à iniciativa destinada a descobrir “o livro mais antigo sobre a nossa região”. O número e a qualidade das obras cujos frontispícios já nos foram enviados (por escolas, associações e cidadãos) prometem uma grande “Festa do Livro e do Leitor”, onde anunciaremos os resultados.Recorde-se que este desafio foi lançado aos leitores aquando da trigésima edição do Livro aberto, em 16 de Novembro de 2002.Santarém, 18 de Fevereiro de 2003: - 107º aniversário da tragédia do “Grémio Artístico”, que funcionava na rua Guilherme de Azevedo, em Santarém. Durante o incêndio, morreram 36 pessoas. Era “Dia de Carnaval” mas, lamentavelmente, não se tratou de nenhuma brincadeira; - D. Afonso de Portugal, Grão-Mestre da “Ordem Hospitalária” e filho do nosso primeiro rei, é sepultado na Igreja de S. João do Hospital (“Alporão”), em Santarém, corria o ano de 1207 (18 de Fevereiro de 1207); - 639 anos da lei de 1364 (18 de Fevereiro de 1364) que nos deu conta dos prolongados efeitos da peste negra de 1348 nas “herdades e vinhas e outros beens” do termo de Santarém, os quais “non eram adubados nem [a]proveitados como compria”;- 92 º aniversário do decreto que tornou o registo civil obrigatório em Portugal.Jmnoras@mail.telepac.pt

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