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Eu tenho dois amores

Ligação de Ourém a Leiria ou a Tomar em debate

Muitas dúvidas sobre qual é a melhor opção para o progresso do concelho, foram as principais conclusões do debate “Ourém que futuro?”. A iniciativa, que decorreu sábado à tarde no auditório do centro de negócios, teve como objectivo sentir a sensibilidade da população sobre se é mais vantajoso o concelho de Ourém integrar a área metropolitana de Leiria ou a comunidade urbana do Médio Tejo (inclui Tomar, Torres Novas e Abrantes). O concelho está numa encruzilhada, dividido entre as razões históricas que o ligam ao distrito de Santarém e as afinidades que tem com Leiria.

A escolha não se mostra nada fácil. Até agora Ourém tem tentado agradar a dois amores. Pertence à Associação de Municípios da Alta Estremadura (AMAE, na região de Leiria) e à do Médio Tejo (no norte do distrito de Santarém). Tem desenvolvido projectos e parcerias com municípios de ambos os lados. O lixo vai para o aterro da região de Leiria, as empresas, por exemplo, estão ligadas à Associação Empresarial da Região de Santarém. O certo é que esta dualidade não vai poder continuar com a criação das comunidades urbanas e áreas metropolitanas, até porque um município só pode pertencer a uma estrutura. No início da sessão, o presidente da câmara avisou que não queria tomar uma opção política, porque senão já tinha feito uma escolha. “Quero que façamos uma reflexão profunda, porque pretendo escolher o que a população achar melhor. Isto não é uma questão partidária, mas um assunto de interesse para a população. Não é um jogo de cartas, mas uma coisa muito séria”, disse David Catarino (PSD). Durante o debate a presidente da Câmara de Leiria e representante da AMAE, Isabel Damasceno (PSD), e o presidente da Câmara de Tomar e da Associação de Municípios do Médio Tejo (AMMT), António Paiva (PSD), esgrimiram argumentos sobre as vantagens de se pertencer a uma e outra estrutura. Isabel Damasceno começou por dizer que o importante é Ourém entrar, em qualquer dos casos, num modelo com a plena convicção de que é isso que quer fazer. E continuou afirmando que há que avaliar as afinidades do passado, as ligações actuais da população (onde fazem compras, as relações comerciais e empresariais) e perspectivar o futuro. Mas puxou dos galões dizendo que Ourém tem toda a vantagem de estar ligada a Leiria onde existe “uma grande dinâmica económica liderante a nível nacional”. “É uma região que reage muito bem a conjunturas negativas porque o seu tecido empresarial é constituído por pequenas e médias empresas”. E se Isabel Damasceno acena com o poder económico e desenvolvimento empresarial, António Paiva considera que se Ourém quer pertencer a um grupo de municípios onde se defende a qualidade de vida, então deve aderir à comunidade urbana do Médio Tejo. “Ourém é um concelho de transição entre o litoral e o interior e tem que utilizar este benefício para tirar partido disso, independentemente da comunidade a que vai pertencer”, acrescentou. “O Médio Tejo vai ser uma verdadeira alternativa à área metropolitana de Lisboa. Tem boas condições de vida e está muito próximo da capital do país”, salientou, acrescentando que esta comunidade urbana “vai estar num eixo importante com a Auto-Estrada 23 (antigo IP6) a ligar Lisboa e a região à Europa, através de Espanha. Os concelhos à volta desta via vão ter oportunidade de desenvolver várias actividades”, argumentou. Segundo Carlos André, ex-governador civil de Leiria e habitante de Ourém, a verdade é que actualmente “os ourienses têm mais afinidade com Leiria”. E deu vários exemplos. Em termos de transportes públicos as carreiras que fazem ligação a Tomar são metade das que ligam a Leiria. Dos 27 bancos existentes na cidade, 14 são dependências de delegações de Leiria e nenhuma está ligada a Tomar. E chegou a dizer que as pessoas não gostam muito do Médio Tejo. “Sempre ouvi os ourienses referirem-se às pessoas de Torres Novas, por exemplo, de forma depreciativa”, comentou. No final, algumas pessoas da assistência defendiam a ligação de Ourém à região de Leiria, enquanto outros pendiam para o lado de Tomar. Pelas conversas à saída da sessão algumas pessoas mostravam-se divididas, apesar dos esclarecimentos. Habitantes de Ourém mais ligados a LeiriaA avaliar pelas opiniões de algumas pessoas de Ourém, a cidade só tem a ganhar se se ligar à área metropolitana de Leiria. Quanto mais não seja porque é onde a maioria dos habitantes fazem compras, trabalham e vão passear... Apesar de se sentir esta afinidade, muita gente entende que a decisão de Ourém integrar a área de Leria ou a comunidade urbana do Médio Tejo deve pertencer aos políticos. Francisco Mateus, dono de um café no centro de Ourém, é o exemplo da ligação a Leiria. As compras são feitas na cidade do Liz e raramente passa a fronteira que divide o concelho de Ourém do de Tomar. Santarém, capital do distrito a que Ourém pertence, só conhece de nome e de passagem. “Tratamos de tudo em Leiria. É lá que vamos ao médico, é lá que tratamos da papelada relativa às nossas actividades”, explica.Relativamente à força política de ambos os lados, Francisco Mateus também não tem dúvidas que Leiria tem um poder reivindicativo muito maior. “Há 21 anos que me estabeleci em Ourém, mas a minha ideia foi sempre ir para Leiria. Cheguei até a ter lá um apartamento”, conta, acrescentando que “ao fim de semana a cidade de Ourém é muito morta e quem quer encontrar os ourienses vai a Leiria”.Há quem diga também que foi construído na cidade um cine-teatro que custou cerca de 600 mil euros, mas que as pessoas preferem ir ver os filmes às salas de Leiria. É por estas e por outras que António Gonçalves, taxista de profissão, não se importava nada de estar ligado administrativamente a Leiria. “Era melhor para tudo. Afinal grande parte da nossa vida já é feita nessa zona”, comentou. Considerando-se como um ribatejano, apesar de estar num extremo do distrito, António Gonçalves considera que se Ourém estiver ligado a Leiria tem mais oportunidades de desenvolvimento e de crescer ainda mais. “O que interessa é o futuro, independentemente das ligações históricas que temos a determinado distrito”, justifica. Ao contrário há que se sinta dividido. É o caso de Dália Reis. Apesar de fazer muitas vezes os cerca de 25 quilómetros que separam Ourém de Leiria, esta habitante sente também uma grande ligação à zona de Tomar. “Estamos aqui numa linha um bocado indefinida. Prefiro Leiria, mas também há muitas coisas que me ligam à zona de Santarém, que foi onde estudei”, salienta. Para Dália Reis “o importante é o que é melhor para a terra. Tem que se ter em conta o que é melhor para o dinamismo de Ourém, onde há mais hipóteses de trabalho”, sublinha, acrescentando que tem “pensado muito neste assunto”, mas que ainda não conseguiu “chegar a uma conclusão”.

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