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“Uma profissão de risco”

“Uma profissão de risco”

Marta Silva Ventura é técnica de análises clínicas no Hospital de Santarém

Marta Silva Ventura, 25 anos, é técnica de análises clínicas no Hospital de Santarém. De bata branca e luvas divide-se entre a sala de colheita de produtos biológicos e o laboratório de análise. A seringa e o garrote, que serve para apertar o braço durante as colheitas, são utensílios usados diariamente pela técnica, que muitos utentes confundem com uma médica ou enfermeira.

São 8h30 da manhã. Marta Silva Ventura chega ao laboratório do Hospital de Santarém para iniciar mais uma manhã de colheitas. Usa bata branca, luvas e tem sempre à mão o garrote, o utensílio de borracha que serve para apertar o braço. Ainda assim muitos utentes a confundem com uma enfermeira ou médica. “É rara a pessoa que conhece a profissão”, esclarece.Durante a manhã a técnica de análises clínicas, residente nas Fontaínhas, Santarém, faz a colheita a 20 ou 30 doentes. Por vezes desloca-se também à enfermaria onde estão os doentes internados. “Às vezes as pessoas têm uma ideia errada do que é ser técnica de análises clínicas. Pensam que para tirar sangue não é preciso tirar um curso. Mas para fazer os doseamentos é preciso ter conhecimentos teóricos. Também temos que saber interpretar os resultados”, esclarece.Após o período das colheitas que se estende até perto das 11h00, a técnica leva os respectivos tubos para a sua secção e vai processá-los consoante os pedidos. Marta prefere o trabalho no laboratório ao trabalho de colheita. A microbiologia, uma das áreas em que trabalha, implica que contacte com qualquer produto biológico, seja sangue, urina, fezes e outros produtos. “É uma secção mais manual porque temos que trabalhar o produto e semeá-lo em meios de cultura próprios para o crescimento de determinadas bactérias que existem em determinados produtos”, explica.Depois de acabar o bacharelato em análises clínicas e saúde pública na Escola Superior de Tecnologia e Saúde de Coimbra começou a trabalhar aos fins de semana no Hospital de Torres Novas, até concluir a licenciatura bi-etápica. Começou a trabalhar a tempo inteiro no Hospital de Torres Novas em Agosto de 2001. Está há pouco mais de um mês no laboratório do Hospital de Santarém. Tem trabalhado em horário fixo das 8h30 às 15h30 durante o tempo de adaptação, mas irá começar a fazer “bancos” de 16 horas, uma vez por semana, das 8h00 às 0h00. Para Marta o trabalho por turnos é uma das desvantagens da profissão. “Costumo dizer que não tenho um horário normal. Trabalho aos fins de semanas, noites, feriados e em épocas festivas. Mas na área da saúde é natural que assim seja. É uma questão de hábito. Já aprendi a gerir a minha vida familiar em função disso”.O primeiro banco no Hospital de Santarém será no domingo. Esta semana esteve na urgência. O dia de urgência é passado no laboratório. “Podem-nos chegar os tubos já colhidos de vários serviços, da urgência pediátrica, bloco de partos e recobro do bloco operatório. Às vezes há doentes da urgência que se deslocam ao laboratório”, explica.“É uma profissão de risco. Trabalhamos com produtos que às vezes têm determinados organismos patogénicos e temos que ter cuidados. No manuseamento de agulhas e no acto da colheita também é preciso precaução. É a nossa segurança que está em causa”. O curso foi prático e por isso não teve muita dificuldade no início da profissão. Durante os estágios passou pelos Hospitais da Universidade de Coimbra, pelo Hospital dos Covões e pelo Hospital de Leiria. A área de patologia clínica é onde tem mais experiência. Durante o estágio trabalhou com dadores de sangue. “Os dadores deslocam-se aos serviços, fazem-se análises, a colheita, a divisão do sangue em várias componentes e a conservação”, elucida.Na área não há problemas em encontrar emprego. “Há muita falta de técnicos de análises a nível nacional. Quando assinei contrato perguntaram logo se não tinha nenhum colega. O que é difícil é arranjar efectividade”.Apesar de ser licenciada é remunerada como se tivesse apenas o grau de bacharel porque ainda não foi efectuada a reestruturação das carreiras para os técnicos de diagnóstico e terapeuta. “Nesse sentido é uma profissão mal remunerada até porque a subida na carreira também é lenta”, afirma. A subida na carreira também é outras das dificuldades da profissão. “É preciso que abram concursos para podermos subir na carreira. Não há uma progressão automática. Só subimos de escalão, não de categoria”, revela.Depois de algumas tentativas para entrar para medicina e de deixar pelo caminho o curso de engenharia química, ingressou em análises clínicas e assim que começou gostou da área. A profissão agrada-lhe mas Marta não descarta a possibilidade de continuar a vida académica e no futuro dedicar-se mesmo ao ensino.Ana Santiago
“Uma profissão de risco”

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