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Uma história escrita por quem a viveu

A participação da EPC no 25 de Abril em livro

É um documento feito a partir de documentos e memórias. Um livro que relata a participação da Escola Prática de Cavalaria de Santarém, no 25 de Abril de 1974. Tem referências aos dias que antecederam e aos que se sucederam ao da saída do quartel da coluna militar comandada por Salgueiro Maia. E tem episódios vividos no dia da Liberdade. O autor é o Coronel de Cavalaria Joaquim Manuel Correia Bernardo.

Na Escola Prática de Cavalaria (EPC) de Santarém não há quase nada escrito sobre a preparação da revolução do 25 de Abril. Nem sequer fotografias, porque o cabo responsável por essa área em vez da máquina dos retratos, optou por levar consigo para Lisboa uma G3, a espingarda automática que o exército usava na altura. Foi por isso que o coronel Correia Bernardo puxou das suas memórias e escreveu o livro “Participação da Escola Prática de Cavalaria no 25 de Abril de 1974”. A obra, patrocinada pelo Estado Maior do Exército e pelo Governo Militar de Lisboa, foi apresentada na EPC na quinta-feira, dia 20 de Fevereiro. Para o comandante da escola, Mário Rui Gomes, “o lançamento deste livro constitui para todos um motivo de orgulho e satisfação. A EPC passa assim a ter um documento histórico da revolução, na qual teve uma especial participação”, sublinhou, evocando o capitão Salgueiro Maia em jeito de homenagem. O autor do livro, Correia Bernardo, que participou na preparação do golpe, salientou que a ideia de fazer este livro já o perseguia há muito tempo. Uns anos após o 25 de Abril de 1974 foi o próprio capitão Salgueiro Maia que sugeriu a ideia de se fazer um livro, precisamente porque não ficou nada escrito. “Quando acabámos o 25 de Abril houve uma corrida às casas de banho para queimar todos os papeis. Salgueiro Maia queimou os seus documentos no bidé”, lembra. Mais tarde, em 1994, “quando fizemos as comemorações da revolução e a homenagem a Salgueiro Maia, o José Niza (ex-deputado do PS e ex-presidente da Assembleia Municipal de Santarém) disse-me que devia escrever um livro. E lembro-me de me ter justificado o pedido dizendo que eu não podia guardar só para mim as imagens que tinha do 25 de Abril”, contou. Mas foi em 1999, quando se promoveu um encontro na EPC dos militares que participaram na coluna que saiu de Santarém para Lisboa para consumar a revolução, que a ideia ganhou forma. Durante um ano, Correia Bernarno inundou a casa de papéis. Dezenas de livros que serviram de base, ordens de serviço da Escola Prática e alguns documentos que conseguiu reunir foram objecto de estudo atento. Um estudo que originou 140 páginas nas quais se descrevem ao pormenor os nove meses de preparação do golpe na EPC, até ao dia 25 de Abril de 1974.A publicação começa por falar dos antecedentes que levaram à revolução, explicando a participação do Exército português na guerra do Ultramar, fazendo também a descrição do estado da Nação da altura, a sociedade civil e a forma como a própria guerra estava a afectar o país. Vinte e nove páginas depois aborda-se a questão do movimento dos capitães, em que se dá a conhecer o descontentamento que começa a surgir relativamente à guerra e consequente interiorização de uma intervenção militar. Depois, grande parte do livro é dedicado aos antecedentes preparatórios da revolução. Ao longo de 93 páginas abordam-se vários episódios que culminam com a acção da EPC na revolução. Nesta parte é descrita a composição da coluna comandada por Salgueiro Maia e onde constam os nomes dos outros comandantes de esquadrões que a integravam. São também referidos os meios bélicos que a integravam. O livro tem ainda o mérito de não só falar do que se passava em Lisboa, no Terreiro do Paço, palco da revolução, mas também das movimentações em Santarém. Como é o caso da colocação de viaturas e carros de combate à frente da escola. Alguns tiveram que ser rebocados porque estavam avariados mas, como se diz no livro, pelo menos metiam medo. A terminar pode ler-se que Salgueiro Maia regressou a Santarém no dia 27 às 22h30, onde o esperava uma grande multidão. E refere-se ao capitão como uma figura que soube, “como muito poucos, manter sempre vivo o espírito de missão que nos norteou na preparação e consolidação do movimento”.

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