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Detective para todo o serviço

António Santos Duarte reparte a sua vida entre França e Portugal

António dos Santos Duarte tem uma profissão ainda não reconhecida mas “tolerada” em Portugal – é detective particular ou, como ele prefere designar-se, investigador privado. Em França, onde vive há mais de 30 anos, tem carteira profissional, escritório aberto e licença passada pelas autoridades policiais, com quem aliás trabalha inúmeras vezes. Procurar pessoas desaparecidas e resgatá-las é o trabalho que mais gosta de fazer. O que menos gozo lhe dá são as questões do foro passional, “infelizmente” o que mais tem em Portugal. O seu sonho é ver a profissão que abraçou, reconhecida em Portugal.

É uma vida sem horários, sem locais certos para comer ou dormir. Uma vida onde não pode (ou não deve) haver laços familiares, onde o trabalho exige rigor, dedicação, aplicação e tempo, muito tempo. Em suma, é uma vida de detective, profissão que António dos Santos Duarte exerce em França há quase três décadas.Há “uns tempos” António Duarte decidiu fazer também trabalhos em Portugal. Vinha esporadicamente, quando para tal era solicitado, mas as saudades do país levam-no a equacionar a abertura de um escritório em terras ribatejanas. Apesar de se poder deparar com um problema. É que, ao contrário de outros países europeus, em Portugal a profissão ainda não é reconhecida. “Há uma tolerância das autoridades para com o investigador privado mas a lei é omissa quanto a esta profissão”, diz o detective.Tirou o curso de detective no Brasil, em 1978, e quando regressou a Portugal escreveu uma carta ao director da Polícia Judiciária e ao presidente da República a pedir autorização para a actividade – “ambos me escreveram de volta e as respostas foram idênticas – não autorizavam”. Foi assim que decidiu dar o salto para França, onde o pai já estava estabelecido. Entregou fotocópias do diploma e da carteira profissional, devidamente traduzidas e autenticadas, na esquadra de polícia do departamento 93, onde residia. E ainda hoje lá está inscrito, “com as coisas a correrem muito bem”.Exerce a profissão porque foi o que sempre quis, não pelo dinheiro. O “faro” para detective não se faz, já nasce com a pessoa – “é como dizia Amália, nem toda a gente sabe cantar o fado”. Em Portugal diz que muitas vezes nem leva dinheiro às pessoas pelo que faz, quando percebe que estão desesperadas e não têm dinheiro. Mas admite que é uma profissão “muito bem remunerada”. “Temos um tarifário estabelecido e à vista das pessoas. Quando fazemos um contrato com o cliente ele sabe exactamente quanto é que vai pagar por aquele tipo de trabalho”.Se em França tem escritório aberto, “porque é obrigatório”, em Portugal é o seu carro – um Mercedes – que funciona como escritório. “Tenho o meu carro adaptado com todo o equipamento que necessito para as investigações”. Equipamento sofisticado e caro, muito caro. “tenho alguns aparelhos mais caros que o meu próprio carro”, diz.Além de escritório, o Mercedes funciona também muitas vezes como casa e restaurante. “É dentro do meu carro que passo a maior parte do dia e muitas vezes da noite”. Não admira por isso que António Duarte faça ali muitas refeições – “ando sempre com alguma comida, nomeadamente peças de fruta” – e tire umas “sonecas”. “Nesta profissão não podemos dar-nos ao luxo de ir comer a um restaurante ou ir dormir a casa ou a um hotel quando estamos a meio de uma investigação porque bastam uns minutos de desatenção para se perder tudo o que conseguimos até então”.Não anda armado nem tem porte de arma – “não preciso” - mas preza-se de ser cinturão negro em Karaté, apesar de evitar sempre qualquer contacto fisíco com as pessoas. “Não se é detective trabalhando com as mãos mas com o cérebro e tendo o material correcto para trabalhar”. Por exemplo, António Duarte tem uma mala de mão que à primeira vista parece idêntica a muitas outras mas que contém “segredos” tão evoluídos que faz com que o seu preço seja superior a dez mil euros (dois mil contos).Em França não inicia uma investigação sem dar conhecimento às autoridades da zona. “Preencho um formulário que entrego na polícia, ficando eu com um duplicado e o cliente com outro”, refere, adiantando que a partir daí começa a trabalhar de uma forma descansada porque sabe que a polícia sabe exactamente o que está a fazer. “Em Portugal se tiver o meu carro parado no mesmo local por mais que uma hora sou logo abordado pela polícia para saber o que estou ali a fazer”.Colabora com a polícia francesa em muitos casos e diz que 95 por cento das situações para as quais é contratado são resolvidas. O caso que lhe deu mais prazer – e até teve posteriormente honras televisivas em França – foi o do resgate de duas crianças, filhas de mãe francesa e pai muçulmano. “A mãe das crianças, que tinha a custódia, contratou a minha equipa e nós fomos a esse país muçulmano, infiltrámo-nos junto da família e conseguimos trazer as crianças de volta a França, sãs e salvas”, afirma António Duarte, adiantando que se tivessem sido descobertos hoje não estaria aqui. Em Portugal, ao contrário, os casos que tem tratado são quase todos relacionados com questões passionais, infedelidades e afins, o que o deixa um pouco triste. “Gosto de fazer todo o trabalho de investigação mas no que realmente sou especialista é em encontrar pessoas desaparecidas”, diz.O seu maior sonho é que a sua profissão possa vir um dia a ser legalmente reconhecida na legislação portuguesa. Até lá, reparte a sua vida entre Portugal e França.Margarida Cabeleira

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