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Caminhar em direcção às estrelas

José Miguel Noras

É tão difícil entender um projecto que visa integrar o Pombalinho na Golegã, como seria complexo perceber uma proposta que, por qualquer razão, pretendesse anexar a Golegã a Santarém. Com efeito, os municípios não se medem aos palmos. São autónomos. A sua sobrevivência não depende da posse de mais uma ou outra freguesia. Há, aliás, concelhos com uma única freguesia (Alpiarça e Entroncamento, por exemplo) e um dos municípios portugueses nem sequer tem freguesias, não deixando por isso de existir (Corvo).

Aquando do lançamento da Fundação Passos Canavarro, Guilherme de Oliveira Martins (na altura ministro da Educação) enalteceu as raízes que sustentavam a referida fundação, “nos domínios da arte, da ciência e da democracia”. Paralelamente, o ex-governante manifestou público apreço pelo percurso cultural e cívico de Pedro Canavarro, cujo talento considerou decisivo para este novo empreendimento do antigo euro-deputado.Quando leio o plano de actividades da novel fundação e constato a importância e a diversidade dos passos artísticos e culturais que já deu, sinto que aquelas “ministeriais palavras” foram justíssimas e estão totalmente materializadas em três anos de existência institucional.Com efeito, lançar uma fundação, num momento adverso (Fevereiro de 2000), só por si, já seria obra. Dar-lhe forma e conteúdo de referência nas áreas em que incide o seu objecto (arte, ciência e democracia) só está ao alcance de um peregrino que olha a estrela e consegue caminhar nessa direcção e em outras direcções: o idealismo e a capacidade de realizar a esperança.Há obras que só se formam no seio da atmosfera do sonho. É disso exemplo a “XVII Exposição Europeia de Arte, Ciência e Cultura” que Pedro Canavarro promoveu, em Portugal, há, precisamente, 20 anos. Existem outras obras a que só a dedicação de uma vida pode abrir caminho e dar sentido. Atente-se na missão académica e diplomática de Canavarro no Oriente. Há, ainda, outras obras que espelham toda uma existência. É o caso do matrimónio de Pedro Canavarro com a cidade. A certidão deste casamento está transcrita no seu livro Santarém misteriosamente festiva.Como escreveu Agostinho de Macedo, “também há homens que se imortalizam pelos monumentos que levantam à cultura”. Sabem caminhar nas estrelas. São Património da Humanidade. Post ScriptumMapa de equívocosExistem, pelos menos, duas versões cartográficas relativas ao limites geográficos dos concelhos da Golegã e de Santarém. Perante as dúvidas, estas duas autarquias pretendem ver esclarecido, em sede própria, o seu problema. Ao que parece, ninguém sabe, com total exactidão, onde começa um município e acaba outro. Todavia, pior do que não saber seria não querer saber. Ora, existem numerosos exemplos de desacertos e desconhecimentos fronteiriços em Portugal. Não consta que outros municípios tenham demonstrado o mesmo empenhamento da Golegã e de Santarém com vista a dissipar as dúvidas que a geografia espalhou. Neste âmbito, é louvável o interesse dos dois municípios.Posturas diferentes, designadamente na Assembleia da República, também possuem merecimento. Porém, é tão difícil entender um projecto que visa integrar o Pombalinho na Golegã, como seria complexo perceber uma proposta que, por qualquer razão, pretendesse anexar a Golegã a Santarém. Com efeito, os municípios não se medem aos palmos. São autónomos. A sua sobrevivência não depende da posse de mais uma ou outra freguesia. Há, aliás, concelhos com uma única freguesia (Alpiarça e Entroncamento, por exemplo) e um dos municípios portugueses nem sequer tem freguesias, não deixando por isso de existir (Corvo). O problema, porém, é outro: a divisão administrativa do país carece de uma reforma urgente e inadiável, a começar logo pela delimitação das freguesias portuguesas. Temos casos de habitações territorialmente construídas em dois concelhos e em dois distritos. Há freguesias do nosso país que têm a sua sede num outro território (até há pouco tempo tanto a sede de S. Salvador como a de S. Nicolau ficavam na freguesia de Marvila em Santarém). Ainda hoje, neste mesmo concelho, o quartel dos Bombeiros Voluntários de Pernes (a colectividade com mais associados no município escalabitano) está situado na freguesia de S. Vicente do Paúl. O mesmo se passa com a Escola Dom Manuel I que é de Pernes e está instalada fora desta freguesia. Quando presidi ao segundo maior agrupamento de municípios (do nosso país), procurei encontrar soluções para estes equívocos do mapa de Portugal. Verifiquei, com agrado, a existência de projectos de lei, com fundamentação consistente e alcance nacional. Esses projectos foram apresentados na Assembleia da República e estão na gaveta há mais de uma década. No entanto, o seu conteúdo permanece válido e actual. Assim, em vez de criar novas propostas artificiais, caberá ter a coragem de discutir e votar as antigas que (a meu ver) metem as novas a um canto. Pontaria A PSP de Santarém dá cartas em pontaria. Na deslocação recente dos sofisticados equipamentos de treino de defesa, os quadros da corporação mostraram ser “ases de perícia”. Entre os exercícios que obrigam a maior destreza encontram-se os “testes do amigo e do inimigo”: a sete metros de distância, tanto pode surgir uma figura segurando uma pistola de guerra, como um alicate para bricolagem. Em dois segundos, cada agente tem de decidir se atira ou não atira. Posso garantir que a precisão foi total. Nenhum dos agentes merece ir a “julgamento” porque só atirou “nos inimigos”. Qualquer semelhança entre política e polícia é uma mera fantasia! ReconquistaNo dia do aniversário da “Reconquista Cristã de Santarém”, Veríssimo Serrão, Vaz Portugal, Maria Júlia Oliveira e Silva e Carlos Antero Ferreira irão abordar questões ligadas ao património monumental escalabitano, aos desafios da universidade e ao “crédito no feminino”. Trata-se de uma iniciativa integrada no ciclo de conferências “História, Cultura e Desenvolvimento” que a Escola Superior de Gestão de Santarém (ESGS) está a promover nesta cidade (em parceria com a Associação dos Antigos Alunos da ESGS).É já no próximo sábado, dia 15 de Março, a partir das 14.30, na Sala dos Actos do Seminário Patriarcal de Santarém.Esta celebração da “Reconquista” é mesmo para si. Não a perca!A fechar com o “Dia da Mulher” — Alexandre Herculano, o príncipe perfeito da “solidão”, escreveu o seguinte: “O que seria do mundo sem a mulher. Dai às paixões todo o ardor que puderes, aos prazeres mil vezes intensidade, aos sentidos a máxima energia e convertereis o mundo em paraíso, mas tirai dele a mulher, e o mundo será ermo melancólico, os deleites serão apenas prelúdio do tédio [...]”. Entretanto, Jacqueline Shor, nas suas falas companheiras, definiu assim a mulher: “a porção feminina que todo o ser humano está por recuperar”.Santarém, “Dia Internacional da Mulher”, 8 de Março de 2003:— A partir de 1919 (dia 8 de Março) o “colar de Torre e Espada” passou a envolver o brasão (heráldico) de Santarém;— Exactamente há 503 anos realizaram-se, junto ao rio Tejo, as festas de despedida de Pedro Álvares Cabral, com a presença do rei D. Manuel I. No dia seguinte (9 de Março de 1500), o navegador e a sua armada partiram de Lisboa rumo ao “descobrimento oficial do Brasil”;— 173º aniversário natalício do poeta João de Deus.Jmnoras@mail.telepac.pt

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