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Mário Soares passou de leitor renitente na escola a devorador de livros

O livro é “um prazer espiritual”

Mário Soares falou sobre livros na Vila da Marmeleira

Mário Soares foi à vila da Marmeleira, Rio Maior, falar de livros, a convite da Biblioteca Popular. Foi o terceiro e último orador da iniciativa “Os presidentes falam de livros”. O ex-presidente revelou que quando era criança se esquivava às leituras obrigatórias da escola mas que actualmente é um leitor compulsivo que nunca sai para lado nenhum sem a companhia de um livro.

O ex-Presidente da República, Mário Soares, nunca sai de casa sem um livro. É um leitor compulsivo. Os volumes acumulam-se na sua casa e ultimamente o espólio tem vindo a crescer.O espaço para a biblioteca de Mário Soares não é tão amplo como o do anfitrião Pacheco Pereira na sua residência na Vila da Marmeleira. “Os livros aparecem em toda a parte. Às vezes debaixo da cama. A minha mulher de vez em quando protesta...”, confessa Mário Soares, entre os sorrisos da assistência, que no sábado voltou a encher a Casa do Povo da Vila da Marmeleira, Rio Maior, para ouvir um “presidente” falar de livros.Por baixo da sua casa, no Campo Grande, em Lisboa, fica estrategicamente situada uma livraria. Às vezes Mário Soares chega a comprar várias vezes o mesmo livro. A situação é desagradável para o eurodeputado socialista, mas permitirá que a pequena Biblioteca Popular da Vila da Marmeleira reuna em breve mais alguns títulos, uma vez que o conhecido político decidiu oferecer alguns dos seus repetidos.Quando era jovem Soares tentava esquivar-se às leituras obrigatórias da escola. O pai, preocupado com o desinteresse do descendente, arranjou um professor de cultura geral. Agostinho da Silva conseguiu que o futuro Presidente da República descobrisse a paixão pelos livros e pela leitura. Aos 12 anos leu “O Senhor dos Anéis”. Passou depois para um estágio superior com a descoberta da obra de Alexandre Dumas: “O Conde de Monte Cristo”.Mas Mário Soares prefere os portugueses. Eça de Queirós é o grande eleito. “O Crime do Padre Amaro”, “Os Maias”, “Correspondência de Fradique Mendes” e “Primo Basílio” são obras que Mário Soares aconselha a folhear para que se compreenda “o que é Portugal, as qualidades e defeitos dos portugueses”. Na faculdade tinha uma grande paixão pelo universo queirosiano. Entre conversas de café falava-se sobre as personagens dos romances. Soares recorda um colega mais distraído que se queixava de falarem de “pessoas que não conhecia”. Depois de Eça deixou-se deslumbrar pela prosa de Camilo. Muito atreito a gripes, Soares aproveitava para ler os volumes do autor durante as temporadas que passava na cama em convalescência. “Achava que [um livro] fazia bem à gripe”, diz com humor. Só depois vêm os autores estrangeiros, como Tolstoi e Dostoievski.Aquilino Ribeiro, um autor com grande poder de linguagem e vivacidade, escreveu, na opinião de Soares, um dos melhores livros do século XX: “A casa grande de Romarigães”. José Rodrigues Miguéis é outro dos grandes vultos da literatura. Escreveu um romance que explora ironicamente o milagre de Fátima. “Milagre segundo Salomé”. “É uma alegoria sobre o milagre de Fátima visto por um agnóstico”, resume.A história gira em torno de uma figura feminina que interpreta o milagre à sua maneira. Soares aguça a curiosidade de quem ainda não folheou a obra. “É uma prostituta que se apaixona por um industrial”, revela, sem disfarçar o interesse pelo homem e escritor que foi Miguéis. Soares gosta de falar sobre as histórias daqueles que escrevem histórias. Não tivesse convivido sempre entre artistas e escritores. Mário Soares não perdeu a oportunidade de contar as aventuras dos tempos de prisão. De quando partilhava a cela, em Caxias, com o pintor Júlio Pomar e tentou aliciar os guardas prisionais com retratos do artista. A conversa acabou com um momento de poesia. Maria Barroso juntou-se à mesa para recitar apaixonadamente um dos poemas de Manuel Alegre sobre a guerra colonial.Apesar da revolução das novas tecnologias – que se compara “à descoberta da imprensa” – “o livro é outra alegria, outro prazer espiritual”, garante Soares.O “eterno” presidente foi o último a falar de livros na Vila da Marmeleira, mas os encontros culturais na pequena vila do concelho de Rio Maior não irão ficar por aqui. A 26 de Abril, às 17h30, Marques Júnior, capitão de Abril e deputado do PS na Assembleia da República, fala à sempre atenta plateia da vila sobre “o significado da liberdade”.Ana Santiago
Mário Soares passou de leitor renitente na escola a devorador de livros

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