uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Ignorância de pedra

Jorge Custódio responde a Idália Moniz sobre problemas no Alporão

A vereadora da Cultura da câmara de Santarém, Idália Moniz, sugeriu que os problemas que afectam a pedra do Museu de S. João de Alporão foram provocados por plásticos que revestiram as paredes no decorrer de uma exposição. Directamente visado por aquela afirmação, o antigo responsável pelo Gabinete de Candidatura da cidade a Património da Humanidade e actual director do Convento de Cristo em Tomar, Jorge Custódio, responde-lhe à letra e acusa-a de ignorância.

O antigo responsável pelo Gabinete de Candidatura de Santarém a Património Mundial acusa a vereadora da Cultura da Câmara de Santarém de “ignorância” relativamente ao problema que afecta a pedra do Museu de São João do Alporão. “Custa-me a acreditar que uma vereadora publicite o seu desconhecimento sobre os dossiês dessa forma. Penso que pelas respostas que está a dar se está a prestar a ser o elo mais fraco da câmara”, afirmou ao nosso jornal Jorge Custódio.Recorde-se que na última reunião do executivo, Idália Moniz (PS), sugeriu que a designada “doença da pedra” poderia ter sido causada pelos plásticos colocados nas paredes do monumentos durante uma exposição que ali permaneceu entre Maio de 2000 e Maio 2002, quando Jorge Custódio era responsável técnico pela área da museologia. A autarca alvitrou que os plásticos poderão ter comprometido a respiração da pedra, que se encontra a estilhaçar. Uma situação que utilizou para justificar o encerramento daquele monumento nacional ao público.Mas Jorge Custódio rebate esse cenário, garantindo que os problemas no calcário que reveste o monumento remontam pelo menos a finais do século XIX – houve necessidade de um grande restauro em 1880. Diz que inclusivamente há relatórios dos funcionários que ali trabalharam na década de 90 que dão conta do problema. E acrescenta que os plásticos nada tiveram a ver com o caso, até porque a respiração da pedra foi salvaguardada pelos “especialistas credenciados” que montaram a exposição que ali esteve durante dois anos.Embora não o diga explicitamente, Jorge Custódio vê nas declarações de Idália Moniz mais uma tentativa de afronta ao trabalho que realizou na autarquia, precisamente um ano após aí ter cessado funções na sequência da extinção, pelo novo executivo, do Gabinete de Candidatura de Santarém a Património Mundial.“É uma mentira atroz que se diga que os plásticos possam ter causado esse problema. Não tem lógica nenhuma e só manifesta ignorância da história do monumento”, atira Jorge Custódio, actualmente a desempenhar as funções de director do Convento de Cristo, em Tomar. Na sua opinião, as razões para a degradação da pedra passam pelo envelhecimento natural e pelo facto de, durante anos a fio ao longo do século XX, o interior do monumento ter servido para abrigo de pombos. E, como explica, os dejectos dessas aves são extremamente corrosivos.Foi sob a sua orientação técnica, sublinha, que se procedeu ao inventário do património móvel ali existente e o monumento acabou por ser transformado em museu municipal, permitindo à autarquia aceder a verbas da Rede Portuguesa de Museus. As portas reabriram em 1994, passando o também denominado “museu dos cacos” a poder ser visitado até meados de 2002, quando cessou a exposição sobre João Afonso. Custódio rebate assim também as palavras do presidente da câmara, Rui Barreiro, que afirmou que o monumento estaria fechado ao público há muitos anos.Quanto à solução para o problema da pedra, Jorge Custódio afirma que durante o tempo em que trabalhou para a autarquia foi mandado fazer um estudo a uma empresa da especialidade que visava o restauro das paredes. Desse trabalho existem mesmo estimativas financeiras inscritas no âmbito do projecto de candidatura a Património Mundial. Só que nunca houve dinheiro para avançar com a recuperação e o problema vai-se agravando.A vereadora Idália Moniz fala agora da necessidade de um novo estudo, cujo custo andará entre os 80 e os 100 mil euros. Verba elevada para a qual a autarquia não terá de momento capacidade de resposta. E por isso as portas continuam fechadas.

Mais Notícias

    A carregar...