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Artistas em tom de crise

A música portuguesa está a atravessar um período de crise. Os artistas queixam-se da redução de contratos, principalmente com as câmaras municipais, devido aos tempos de contenção que o país atravessa. Depois há o bloqueio à divulgação feito pelas rádios e estações de televisão, enfeudadas à música anglo-saxónica.

Pedro Barroso fala numa crise da identidade cultural portuguesa. “Portugal sempre teve uma péssima atitude perante os seus artistas”, desabafa. Para o músico, autor, poeta e compositor, residente em Riachos (Torres Novas), “as câmaras municipais representam 80 por cento dos clientes dos artistas portugueses. E nos últimos anos tem havido muitos cortes na área cultural”, sublinha. Considerando que, apesar de tudo, a música ainda vai dando para viver, Pedro Barroso refere que só no ano passado houve uma quebra de 30 por cento no volume de trabalho. Para este ano perspectiva um corte da mesma ordem de grandeza. José Cid, o conhecido cantor da Chamusca, ainda não sentiu os efeitos da crise, mas começa a ter bastantes preocupações relativamente à divulgação dos novos talentos e dos novos trabalhos de artistas consagrados. “As câmaras da região conhecem-me e têm reconhecido o meu trabalho, à excepção da Câmara de Santarém. No entanto existe um movimento de gente do distrito que está a fazer trabalho de qualidade, que devia ser mais apoiado pelas autarquias. É preciso perceber que os artistas novos não têm meios de divulgação, porque as rádios nacionais passam pouca música portuguesa. E a que passam é sempre dos mesmos”, argumenta. Grupos musicais com carreiras de muitos anos começam a sentir o mesmo problema. Nos últimos tempos os Quinta do Bill, de Tomar, têm tido dificuldades em gravar novos trabalhos porque, devido à falta de divulgação, os discos de música portuguesa não vendem. “Chegou-se a um ponto em que batemos no fundo. Será que temos que acabar, ou teremos de emigrar?”, questiona ironicamente Carlos Moisés, vocalista do grupo. Para melhorar este défice de promoção dos artistas que cantam em português, José Cid defende que os pelouros das autarquias deviam fazer prospecções para descobrirem os valores das suas terras. “Na minha terra isso tem sido feito e outras câmaras deviam seguir-lhe o exemplo”, adverte. Até porque desta forma, segundo Pedro Barroso, está a defender-se a língua portuguesa, que “diariamente é envergonhada pelos locutores das rádios e da televisão”. De todos os géneros musicais o fado é talvez o que está em pior situação, defende Teresa Tapadas. “O fado sempre teve algumas limitações. É menos vendável, mas também não tem havido uma aposta para mudar a situação”, desabafa a fadista de Riachos. Outro dos factores de preocupação são as cópias piratas dos CD (Compact disc). Desta forma, dizem os artistas, as editoras começam a ressentir-se e retraem-se quando são confrontadas com a necessidade de editar trabalhos de música portuguesa. Para contrariar a tendência de crise, Pedro Barroso advoga que é preciso apoiar as pequenas editoras que prefiram os artistas portugueses e compensar as câmaras que contratem cantores nacionais para os seus espectáculos.

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