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Apaixonado pela poesia e pela terra

José Manuel Saldanha Rocha, presidente da Câmara Municipal de Mação

Profissionalmente começou como paquete e chegou a gestor. José Manuel Saldanha Rocha, natural de Angola, presidente da câmara de Mação, amante de poesia e apaixonado pela terra, deixou a família em Lisboa para se dedicar de alma e coração ao concelho onde passou uma infância feliz e onde recebeu os primeiros ensinamentos de vida através da voz e do exemplo do avô. O seu objectivo é ser feliz e fazer os outros felizes. O seu sonho é publicar um livro de memórias.

É um homem calmo, pouco falador e a poesia é a sua grande paixão. José Manuel Saldanha Rocha construiu a sua vida a pulso até chegar à cadeira da presidência da Câmara de Mação. Nasceu em Luanda, Angola, há 42 anos e guarda na memória as cores vivas, o cheiro da terra, a sensação de liberdade. Na altura de entrar para a escola, os pais enviaram-no para Portugal. Frequentou a escola primária de Mação e voltou a Angola, mas por pouco tempo. O fim da guerra colonial e a independência da ex-colónias portuguesas fizeram a família regressar a Portugal. Os olhos azuis não escondem a emoção quando fala da infância, um período da sua vida em que foi muito feliz, apesar das dificuldades. A partir do sétimo ano de escolaridade começou a trabalhar para poder pagar os estudos. Estava nessa altura em Lisboa. “Foi uma situação muito árdua, mas quando temos um objectivo definido dentro de nós lutamos para seguir em frente”. O primeiro e único emprego que teve foi na Junta Nacional de Investigação Cientifica e Tecnológica, hoje Fundação para a Ciência e Tecnologia. Iniciou-se como paquete a fazer recados e chegou ao topo. Antes de assumir a presidência da autarquia nas últimas eleições, era o gestor do financiamento de projectos de investigação da fundação. Considerando-se uma pessoa pessimista pela sua inteligência, mas muito optimista pela sua vontade, tem um lema de vida que segue à risca: “A flecha que é lançada, a palavra pronunciada e a oportunidade perdida, nunca voltam atrás”. A experiência de vida incutiu-lhe a noção da poupança. Raramente gasta dinheiro desnecessariamente. Ao ponto de alguns amigos lhe terem atribuído o cognome de “Tio Patinhas”. Não gosta de andar sempre a comprar roupa e a que compra é em saldos, usando-a até se estragar.Em paralelo tem um grande sentido de solidariedade. O porta bagagens do seu automóvel anda sempre carregado de roupas usadas e brinquedos que pede aos amigos. Depois distribui os donativos pelo lar de idosos de Mação e pelas crianças carenciadas do concelho. Na escrita encontra o seu porto de abrigo. Tem vários cadernos com poemas que vai escrevendo quando lhe chega a inspiração. Na mala ou no bolso do casaco transporta também um bloco de apontamentos, onde inscreve frases que ouve, reclamações dos munícipes, ideias para discursos e poemas. Tem alguns poemas publicados em colectâneas da editora Assírio e Alvim. Gosta de poetas como Eugénio de Andrade e Sebastião da Gama. Na música, Neil Young é o cantor que mais admira. José Manuel Saldanha Rocha não é vaidoso, mas tem orgulho na sua terra e no seu trabalho, que diz ser influenciado pela poesia. No dia da mulher fez um poema que inseriu em 1500 flores de papel distribuídas às munícipes do concelho. Mas faz questão de recusar qualquer intenção de caçar votos porque, como diz, “não sou político, apenas faço política autárquica”.Apesar de ter vivido 23 anos em Lisboa, Saldanha Rocha, que em 1999 entrou como vereador para a Câmara de Mação, tem um grande amor pela terra. Recorda que o seu avô foi fundador dos bombeiros, provedor da Santa Casa da Misericórdia e lançou a primeira pedra do hospital. “Hoje, mais de 40 anos depois, sinto que sigo os seus passos. Sou também provedor da Santa Casa, um entusiasta das questões dos bombeiros e tenho um novo centro de saúde para inaugurar”. E nunca se esquece também de uma frase que o avô lhe disse: “O mundo é dos calados”. Uma máxima que sempre fez parte da sua maneira de ser. Prefere ouvir. Não gosta de dar nas vistas. “Quando não estou à vontade com um tema ou quando não domino uma matéria não falo dela. Chego a não abrir a boca durante uma reunião”, confessa. O trabalho não lhe dá insónias, mas revela que acorda muitas vezes durante a noite para escrever apontamentos sobre o trabalho do dia seguinte. Muitas vezes batem também as saudades da família - mulher e dois filhos - que ficaram em Lisboa e com a qual só tem contacto ao fim-de-semana. Lembra-se todos os dias de um pedido ingénuo e sentido do filho de cinco anos, quando uma vez falou com ele ao telefone: “Sei que és o dono disso, mas nunca te esqueças de mim”. A pior coisa que lhe pode acontecer é errar. Quando isso acontece fica furioso. A intolerância e a mentira são outras coisas que abomina. O que lhe dá gozo é ver as pessoas felizes. Por isso aceitou ser presidente de câmara. Porque tem esperança de conseguir dar aos munícipes melhores condições de vida. Tem como objectivo fazer do concelho uma zona desenvolvida, onde as pessoas possam ser beneficiadas com o que há de melhor nos países mais ricos da Europa. Quando tem tempo livre gosta de ir à pesca e de trabalhar numa horta que era do seu avô e de onde se consegue ver grande parte da vila. É a cavar ou a roçar mato que diz conseguir aliviar o stress. É uma forma de limpar a cabeça dos problemas e ganhar ânimo para as duras batalhas do poder autárquico. A terra, no sentido teórico, é por isso a sua grande inspiração. E usa em sentido prático uma frase que na infância ouviu ao seu avô: “Quem se agarra à terra nunca cai”. Como sonhos gostava de publicar um dia um livro com as suas memórias. Deseja também ser sempre feliz, ter sempre vontade de sorrir e ter saúde. Espera nunca se esquecer do sentido da responsabilidade e esforça-se por nunca deixar de ser exigente. “Porque é na exigência com o que nos rodeia que estão os pilares para uma vida e um mundo melhores”. António Palmeiro

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