A Junta de Freguesia de Raposa, concelho de Almeirim, é uma autêntica loja do cidadão. Numa terra onde os transportes escasseiam e os serviços públicos essenciais, como os correios e as farmácias, não existem, a autarquia resolveu implementar uma espécie de serviço de estafetas. Desta forma a autarquia responsabiliza-se, por exemplo, pelo pagamento das contas da electricidade e do telefone e pela compra dos medicamentos aos seus fregueses. Na sexta-feira por volta das dez da manhã, ainda a sede da junta não tinha aberto ao público, já se concentravam à porta do edifício meia dúzia de pessoas. Quando a funcionária administrativa se sentou atrás do balcão este ficou, de imediato, inundado de papéis, que ela foi distribuindo por pastas de várias cores consoante o assunto. Facturas da electricidade para um lado, receitas para o outro... Depois, já longe da vista dos fregueses, as pastas foram entregues ao motorista de serviço. A meio da manhã após ter feito o transporte das crianças para as escolas, Alexandrino Reis percorreu os 15 quilómetros da Estrada Nacional 114, que liga a localidade a Almeirim. Na cidade, sede de concelho, andou de serviço em serviço a resolver os problemas dos cidadãos da sua terra. O motorista, que tem uma declaração da junta a dizer que está autorizado a desempenhar as tarefas, paga as contas da luz, da água e do telefone, e levanta as encomendas na estação dos correios de Almeirim. Todos os meses tem também a missão de levantar as reformas dos idosos. Nas três farmácias da cidade também já é bastante conhecido. Não há dia em que não tenha que ir a cada uma delas aviar medicamentos, consoante o estabelecimento onde cada pessoa tem conta ou é cliente. A ideia de prestar este apoio à população da freguesia, constituída por um total de 680 habitantes, dos quais 260 têm mais de 60 anos, nasceu há nove anos. Segundo o presidente da junta de freguesia, José David, “começou-se inicialmente a fazer alguns recados porque as pessoas mais idosas não tinham possibilidade de se deslocar a Almeirim para resolver determinadas situações. Actualmente tratamos dos assuntos de todos as pessoas, independentemente da idade”. Apesar destas tarefas não fazerem parte das competências de uma junta de freguesia, José David explica que aquela é uma forma de pôr os órgãos autárquicos ao serviço das pessoas. “Estamos a facilitar a sua vida, a poupar incómodos e gastos com transportes. E por outro lado estamos a aproximar a junta das pessoas, criando uma relação de confiança”, diz com entusiasmo. Algumas pessoas de fora da localidade também já começam a procurar o serviço. “Uma parte da população da Azerveira, que pertence à freguesia de S. José da Lamarosa (Coruche), já tem o hábito de nos procurar”, esclarece José David. E acrescenta que, por vezes, a carrinha dos recados também serve de transporte. “As pessoas esperam aqui na junta e quando o funcionário vai fazer os recados, apanham boleia”. As pessoas que beneficiam deste gesto da junta de freguesia não poupam elogios. É o caso de António Cristóvão, de 74 anos. “Venho sempre aqui quando preciso de tratar de algum problema. Se não fosse assim a única alternativa que tinha era ir de autocarro até Almeirim. A reforma já é baixa e ainda tinha que gastar dinheiro na viagem”, conta. António Cristóvão acaba por ser o porta voz do sentimento da população: “É uma grande ajuda numa terra em que não há nada”.