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“O fado é a minha vida”

Joana Amendoeira e a procura de um caminho próprio

Natural de Santarém, Joana Amendoeira é um dos novos nomes do fado. À beira de completar 21 anos, canta desde os seis e é profissional desde os 16 anos, altura em que gravou o seu primeiro CD. Actualmente conta com três discos gravados e reparte a sua vida pela casa de fado em Lisboa, onde canta praticamente todos os dias, pelos espectáculos em Portugal e no estrangeiro, e pelo curso de antropologia, que está a frequentar. É este o fado de quem afirma ter nascido para o fado e que procura, sem descanso, um estilo próprio, num mundo de mil e um intérpretes.

Com apenas seis anos, Joana Amendoeira surpreendeu a família com uma interpretação do “Cavalo russo”, um dos fados mais conhecidos de Nuno da Câmara Pereira. A música ficou-lhe no ouvido e passou desde logo a ser um dos clássicos dos “espectáculos” que a pequena Joana fazia para a família e amigos.Do primeiro fado até hoje passaram quinze anos e agora Joana Amendoeira é uma fadista com nome na praça e com três discos editados. Natural de Santarém, onde viveu a infância e a adolescência, actualmente reparte a vida entre a casa de fados onde canta, em Lisboa, os espectáculos em Portugal e no estrangeiro, e as curtas “fugas” à terra natal para estar com os familiares.Nascida numa família em que se ouvia muita música portuguesa, em especial fado, Joana esteve quase sempre ligada à música. A mãe, enfermeira numa clínica de hemodiálise, convidava-a frequentemente para cantar nas festas da clínica e foi também para cantar aos doentes que a cantora foi ensaiando fados. Ainda hoje a família é o primeiro público das suas canções.Na escola começou a ser convidada para cantar nas festas e, pouco tempo depois, com apenas 11 anos, começou a cantar no restaurante “O Castiço”, em Santarém. Primeiro era só aos fins de semana, mas os proprietários e os clientes gostaram e passou a cantar também durante os dias de semana.O primeiro grande espectáculo aconteceu pouco depois. O irmão, Pedro Amendoeira, que toca guitarra portuguesa, inscreveu-a na grande noite do fado e Joana foi uma das seleccionadas para cantar no Coliseu dos Recreios. Dessa vez não ficou nos primeiros lugares mas não esquece que foi a primeira vez que cantou num palco enorme e com uma mística tão grande. Ainda hoje não sabe como é que conseguiu segurar o microfone sem o deixar cair e a única coisa que se lembra é que estava muito nervosa e a luz era tanta que não se via além do palco.À procura de um estilo próprioQuando fala sobre as suas raízes e influências musicais, Joana Amendoeira não encontra um nome que a tenha marcado mais. Da mesma forma renega comparações ou imitações com algum cantor, mas não esconde que Amália Rodrigues, Maria Teresa de Noronha, Teresa Tarouca, Carlos do Carmo, Camané e Lucília do Carmo são as suas principais referências. Rui Veloso, Sara Tavares, Ala dos Namorados e Dulce Pontes são outros artistas que a encantam.A cantora defende que é a ouvir muita gente que se consegue melhorar e ganhar um estilo próprio, e, por isso, está atenta aos outros fadistas, mesmo aos menos conhecidos. Foi assim que foi criando o seu estilo próprio, que confessa ainda não ter encontrado totalmente.Assumindo um fascínio muito grande pela música e pelo ambiente que rodeia o fado, Joana Amendoeira ainda não encontrou uma definição para aquele tipo de música. “Cada pessoa sente-o à sua maneira e está muito dependente do ambiente. Adoro os poemas, a guitarra portuguesa, a alma… Para mim o fado é vida. É toda uma envolvência”, descreve.Fadista a tempo inteiroA edição do primeiro disco, em 1998, quando tinha apenas 16 anos, marcou o arranque “a sério” da sua carreira. Com o disco, que teve o “grande patrocínio” dos pais, vieram os primeiros espectáculos no estrangeiro e depressa o fado preencheu a sua vida. Actualmente canta praticamente todos os dias numa casa de fados em Lisboa - o Clube de Fado, em Alfama - e faz muitos espectáculos quer em Portugal quer no estrangeiro.Quando teve o primeiro CD na mão recorda uma grande felicidade. Era o disco que queria fazer na altura: cantou fados de Lucília do Carmo e Teresa Tarouca e considera que foi um disco muito tradicional, onde estavam muitas das suas grandes referências. Numa perspectiva de evolução, considera que o segundo foi melhor, mas o último, recentemente editado, foi o que lhe deu mais prazer. “Este é o espelho da minha alma”, assume.Contrariando quem afirma que o fado está a perder público, Joana Amendoeira defende que o público jovem está a aderir. Na casa de fados onde canta vai muita juventude, o mesmo acontecendo nos espectáculos, que têm passado à margem da região. “Não tenho tido muitos convites mas gostava de cantar mais aqui porque as pessoas conhecem-me e tratam-me tão bem que fico com pena de não fazer um espectáculo na região”.No estrangeiro é que há cada vez mais gente a ouvir fado e não apenas na comunidade portuguesa, para a qual já actuou em França, na Califórnia e no Brasil. Esteve também em Moscovo, no Japão, na Hungria e na Holanda, países onde o fado é muito apreciado. Na semana passada esteve em Itália, onde cantou para mais de 200 pessoas.Por entre espectáculos e viagens, Joana Amendoeira ainda vai tendo tempo para estudar. Fez um interregno entre o 12º ano e a entrada na faculdade, porque esteve a estudar música, mas este ano entrou para a universidade, onde está a frequentar o primeiro ano de antropologia, o curso que pretende seguir, embora saiba que se calhar a carreira não lhe vai permitir obter o diploma nos quatro anos normais.Sacrificados com tanta actividade ficam os tempos livres. São cada vez menos, e passados em casa a descansar, ouvir música, ver televisão e conviver com a família. É uma pessoa calma, mas não resiste a uma boa anedota. Adora ouvi-las mas não consegue decorar nenhuma.

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