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121 anos depois, obra de Carlos Relvas regressou ao Museu Nacional de Arte Antiga

O regresso do fotógrafo da Golegã

Carlos Relvas revisitado no Museu Nacional de Arte Antiga

As obras de recuperação da casa-estúdio de Carlos Relvas, na Golegã, estão na fase final e o espaço deverá abrir ao público no ano que vem. O anúncio foi feito pelo presidente da câmara municipal, Veiga Maltez, à margem da abertura de uma exposição de fotografias do famoso lavrador e homem de cultura, no Museu Nacional da Arte Antiga, em Lisboa.

O retrato a sépia de Carlos Relvas, braço pousado na máquina fotográfica e pose majestosa, abre a exposição de quase 350 trabalhos do “fotógrafo amador da Golegã”, como se auto-intitulava, no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa.O retorno do trabalho de Carlos Relvas às Janelas Verdes representa para José Pessoa, um dos comissários da exposição e especialista da Divisão de Documentação Fotográfica do Instituto Português de Museus, “o regresso a casa”.A sala onde foi inaugurada a exposição de Carlos Relvas, na última quinta-feira, já tinha recebido o fotógrafo em 1882. “Há 121 anos Carlos Relvas esteve aqui no estúdio a fotografar obras de arte para o primeiro catálogo da exposição de arte ornamental”, recorda o comissário. À época foi instalada uma linha telefónica entre a sala e o Teatro S. Carlos para que os visitantes pudessem ouvir ópera enquanto observavam o primeiro catálogo fotográfico moderno de um museu. O palácio foi alugado especialmente para acolher a exposição, em que pela primeira vez em Portugal se utilizou luz eléctrica.Para acompanhar a exposição “Carlos Relvas e a casa da fotografia” foi editado um catálogo. A capa é um auto-retrato de Carlos Relvas coberto parcialmente por uma túnica, indício do atrevimento de um fotógrafo ousado para o seu tempo.Carlos Relvas, que José Pessoa descreve como um homem de “enorme dimensão”, levou o nome da sua terra por toda a Europa, utilizando sempre a inscrição “Fotógrafo amador – Golegã – Portugal”. Curiosamente a cultura portuguesa “deixou um manto” sobre o homem a quem “muitos vultos da história da fotografia chamaram mestre”.O comissário revela que só foi possível desenvolver o trabalho de conservação e restauro da obra de Carlos Relvas porque os vários executivos da Câmara da Golegã proporcionaram todas as condições ao longo dos mandatos.Em 1988, a Câmara da Golegã pediu ajuda para tratar o espólio do fotógrafo no estúdio da Golegã. A “aventura” de tratamento e recuperação do espólio de Carlos Relvas começou alguns anos depois, quando foi assinado um protocolo entre a Câmara Municipal da Golegã e o Instituto Português de Museus, para que o trabalho pudesse ser feito em Lisboa, já que era impossível recuperar o espólio no local.“Começaram em 1995 os trabalhos de conservação e restauro à volta deste senhor de olhar imponente que ainda hoje mete respeito”, recorda José Pessoa.O presidente da Câmara Municipal da Golegã, Veiga Maltez, mostrou-se orgulhoso pela mostra do trabalho de Carlos Relvas, “eclético, polivalente, músico, inventor”, que levou longe o nome da sua terra.“Camilo e Eça de Queirós podem descrever uma época. Apresentam quadros através das suas palavras. Mas este é um quadro verdadeiro que nós apreciamos e que nos revela a obra com toda a verdade. Não é a imaginação ditada por palavras dos outros. São os nossos olhos que a lêem directamente”, descreve.A dúvida que persistia em afligir os comissários da exposição – “Carlos Relvas teria gostado da exposição?” – parecia desvanecer-se à medida que as salas se enchiam de visitantes para fruir as provas – muitas das quais inéditas - do “senhor esquecido da fotografia”. Até Outubro, o trabalho do fotógrafo amador, amante da fotografia, poderá ser recordado no Museu Nacional de Arte Antiga.Ana SantiagoO retrato de uma época“Carlos Relvas e a Casa da Fotografia” é o título de uma mostra de cerca de 350 trabalhos que se encontram divididos em núcleos – retratos, animais, monumentos e património, paisagem e Carlos Relvas por ele próprio. Na exposição podem ver-se provas actuais feitas a partir de negativos em gelatina sal de prata que ilustram paisagens europeias. Carlos Relvas fotografou os Alpes, a Torre Eiffel, as ruas de Madrid e registou os vestígios da destruição do terramoto de Andaluzia. Em muitas das suas fotografias o elemento humano está ausente.As cheias no Tejo, o Castelo de Almourol, os pescadores na faina, o ambiente da ribeira lisbonense de finais do século XIX, caçadas e piqueniques foram momentos perpetuados pela câmara fotográfica de Carlos Relvas.Quase todos os retratos são provas actuais viradas a sépia a partir do negativo, como é o caso da fotografia da Rainha D. Maria Pia.Carlos Relvas fotografou mendigos e fidalgos. Os retratos impressionam pela dureza de alguns rostos e pela sensualidade de outros, como a fotografia de uma mulher jovem, de leque pousado sobre o colo, que esconde o rosto com a mão.O fotógrafo também se retratou a si próprio em traje de campino, pastor, cavaleiro tauromáquico, em traje de jóquei e a cavalo. André Rouillé, professor de história da fotografia da Universidade de Paris, arrisca escrever no catálogo que, sendo ele próprio o seu principal modelo, Carlos Relvas foi “um senhor do narcisismo”.A exposição estará patente no Museu Nacional de Arte Antiga, na Rua das Janelas Verdes, em Lisboa, até 26 de Outubro. Pode ser visitada de quarta a domingo das 10h00 às 13h00 e das 14h00 às 18h00. Terças das 14h00 às 18h00. A entrada custa três euros.
121 anos depois, obra de Carlos Relvas regressou ao Museu Nacional de Arte Antiga

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