Nelson Silva e Ruben Cristiano são dois atletas naturais do concelho de Torres Novas, que foram seleccionados para representarem Portugal no Campeonato do Mundo de Duatlo, que se realiza de 29 a 31 de Agosto, em Affotern, Suiça. São dois atletas com idades diferentes: Nelson Silva tem 20 anos e compete no grupo de sub-23, Ruben Cristiano tem 18 anos e é ainda júnior, mas têm percursos semelhantes. Tanto um como outro começaram a praticar desporto, mais concretamente atletismo, nos clubes da sua terra. Nelson Silva na Associação Desportiva da Zona Alta e Ruben Cristiano no Riachense, e na modalidade atingiram níveis bem elevados. Passaram ambos pelas camadas jovens do popular clube da Zona Alta de Torres Novas e actualmente são duatletas do Camarnal/IKA, um clube de Alenquer.Ruben Cristiano é um atleta com grandes potencialidades. Recentemente sagrou-se vice-campeão nacional nos 5 mil metros, e está ao serviço do Maratona Clube de Portugal, mas tudo indica que é no duatlo que reside o seu futuro. Nelson Silva já deixou a prática do atletismo puro para se dedicar por completo ao duatlo.Uma das coisas que mais unem os dois atletas é a sua ligação quase total ao desporto. Nelson Silva, para além da prática do duatlo ao nível da alta competição, é treinador das camadas jovens do atletismo do Zona Alta, e é também o treinador de Ruben Cristiano. “Trabalho muito, mas faço o que gosto e isso é muito importante para mim”, diz com simplicidade Nelson Silva.O Duatlo chegou por acaso à vida dos dois atletas. Nelson começou há três anos: “foi uma lesão que me levou para o duatlo. Torci um joelho quando praticava atletismo e quando iniciei a recuperação o médico recomendou-me que andasse muito de bicicleta e a partir daí foi sempre a aproximar-me da modalidade”, afirmou o atleta, acrescentando que começou então a praticar a duatlo no Clube de Natação de Torres Novas, “que infelizmente acabou com a modalidade”.Com Ruben Cristiano as coisas foram diferentes. Depois do início do atletismo no Riachense, passou para o Zona Alta, onde rapidamente se destacou a nível distrital e mesmo a nível nacional. O Maratona observou-o e acabou por o levar para a sua equipa, mas Nelson Silva viu nele grandes capacidades para o Dualtlo e como seu treinador acabou por o convencer a acompanhá-lo nos treinos de bicicleta. “Foi assim por influência do Nelson que comecei e agora já não vou desistir”.Ruben Cristiano, ainda “baila” um pouco quando fala sobre o futuro. “Ainda sou atleta do Maratona, até agora tem sido possível conciliar as duas coisas, mas sei que mais tarde ou mais cedo vou ter que optar por uma delas. Já fiz uma ligeira reflexão sobre o assunto e neste momento tudo indica que vou ter que optar, e a opção passa por me dedicar por completo ao Duatlo, porque me dá mais hipóteses de participar em provas de nível europeu e mundial”, garante o atleta.Por sua vez, Nelson Silva, já várias vezes campeão nacional de Duatlo, não tem dúvidas de que o seu futuro como atleta é e será sempre na modalidade, onde espera continuar a progredir. “Tenho apenas 20 anos e um futuro ainda longo à minha frente, vou continuar a trabalhar para progredir ainda mais e dar mais alegrias aos adeptos do Camarnal”.Os sacrifícios que é necessário fazer para praticar uma modalidade tão dura como o Duatlo, em que os atletas têm que percorrer uma distância de 10 mil metros em corrida pedestre, 40 mil metros em bicicleta e terminarem com mais 5 mil metros de corrida, são sempre compensados com vitórias ou então com estas convocatórias para a Selecção Nacional, que para Nelson Silva já são habituais. “Já participei nos Campeonatos da Europa e no Mundial, consegui excelentes resultados, entre eles um 13º lugar num campeonato do Mundo realizado o ano passado. Foi uma excelente classificação, já que estava a competir com os atletas do escalão de elite”. Para Ruben Cristiano ainda tudo é uma novidade. Ganhou a possibilidade de representar Portugal no Campeonato do Mundo, após os excelentes resultados alcançados nas seis provas que já disputou em Portugal. “Fui até agora o melhor júnior, consegui entrar sempre nos dez primeiros absolutos e foi face a esses bons resultados que surgiu esta convocatória que me enche de orgulho e me dá incentivo para continuar a trabalhar com mais força”, referiu o atleta.Ambos os atletas lamentam não haver em Torres Novas um clube com a prática da modalidade e que por isso sejam obrigados a ter que ir para outras paragens para poderem desenvolver as suas potencialidades. Ruben Cristiano ainda não sentiu muito esta situação mas Nelson Silva sente-se cada vez mais desiludido com as forças vivas da cidade.“Apesar de ter sido campeão nacional, representar Portugal e também Torres Novas em várias provas internacionais, campeonatos do Mundo e da Europa, nunca tive da parte dos responsáveis institucionais uma palavra de incentivo. Pior ainda, quando sei que a câmara patrocina um atleta do triatlo e quando a Federação pediu um incentivo para mim, nem sequer teve qualquer resposta. Nunca exigi nada nem quero exigir, mas apesar de ser ainda muito novo, tenho-me empenhado num trabalho de formação com os jovens do concelho que penso que merecia outro reconhecimento dos responsáveis. Em Alenquer já fui homenageado pela Câmara Municipal, que reconheceu o trabalho que tenho feito no Camarnal/Ika, o clube que represento actualmente”, disse com tristeza e em tom de crítica, Nelson Silva.Acidente afasta Nelson Silva do mundial“Sinto-me como se o mundo me tivesse desabado em cima”A confirmação do afastamento de Nelson Silva do Campeonato do Mundo foi dada pelo cirurgião que o operou após um grave acidente sofrido no dia 11 de Julho, quando treinava juntamente com Ruben Cristiano, com vista à sua participação na maior prova da especialidade. “Neste momento sinto-me como se o mundo me tivesse desabado em cima. É uma desilusão que não tem palavras para descrever”, disse com as lágrimas nos olhos o atleta.Na altura do acidente, os dois atletas faziam treino de bicicleta e quando circulavam numa das rotundas da Avenida Andrade Corvo, em Torres Novas, Nelson Silva foi abalroado por um automóvel. Do acidente resultaram lesões graves numa clavícula, que o levaram à sala de operações do Hospital de Abrantes. “Eu e o Ruben estávamos a circular e um carro entrou na rotunda sem nos tomar em consideração. O Ruben que ia na frente conseguiu evitar o embate mas eu não tive hipóteses e fui atirado ao chão e sofri as consequências”, diz com tristeza Nelson Silva.Ainda antes de saber o veredicto final do cirurgião já Nelson Silva lamentava a sua sorte e punha em causa a forma como as seguradoras e o condutor “responsável” pelo acidente trataram do caso. “As seguradoras tentam por todos os meios fugir às responsabilidades e o condutor, uma pessoa aqui de Torres Novas, nem sequer tentou saber como é que eu me encontrava”, refere desalentado.