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Sorrir com os dentes todos

Liliana Silva, assistente de medicina dentária

Liliana Pereira Marques Silva sempre pensou que um dia viria a ser veterinária. Mas a vida trocou-lhe as voltas e hoje a escalabitana de gema, a viver em Vilar dos Prazeres, Ourém, é assistente de medicina dentária, uma profissão que aprendeu a gostar.

Nasceu no Vale de Santarém há 24 anos e desde pequenina que tem adoração por animais. “Era capaz de andar um dia inteiro com ratinhos, ou formiguinhas na mão, adoptava tudo quanto era bicharoco”, diz Liliana Marques da Silva. Sempre pensou tornar-se veterinária mas, aos 13 anos, tudo mudou para a jovem que hoje exerce a profissão de assistente de medicina dentária.A separação dos pais foi um duro golpe na sua vida. Aos 13 anos teve de mudar de residência e de concelho, passando a morar em Vilar dos Prazeres, Ourém, terra natal da sua mãe. Sentiu-se perdida, depois de ter deixado para trás os amigos de infância, os professores, a escola.“A adaptação foi horrível”, diz Liliana, adiantando que, como raramente ia à terra da mãe, não conhecia ninguém. Fazer novos amigos entre os colegas de escola é sempre complicado, ainda por cima na chamada “idade do armário” e quando se chega a uma turma a meio do ano lectivo.Liliana Silva diz que as coisas foram tão más que chegou a andar à tareia na escola. “ As pessoas são muito diferentes aqui, mais fechadas. Ainda hoje me sinto deslocada”, afirma.Talvez por não se ter adaptado bem à sua nova vida, Liliana Silva acaba por pôr os “bichinhos” de lado. E também a escola. Deixa os estudos secundários para concluir e entra no mundo do trabalho. “Por um lado não me sentia integrada na escola, por outro sabia que a minha mãe estava a passar por algumas dificuldades e decidiu sair da escola e arranjar trabalho”.Trabalhou numa pastelaria durante mês e meio – “foi horrível porque vinha muito mimada da escola e sentia-me mal cada vez que olhava para as mãos encardidas. Além disso não percebia nada de tirar bicas e tinha de me levantar todos os dias muito cedo”, queixa-se Liliana.Mas um dia, no meio de todo o azar, a sorte bateu-lhe à porta. “Uma amiga da minha mãe, que tinha alugado um espaço para um consultório dentário, disse-lhe que a dentista tinha pedido para lhe indicar alguém que a ajudasse e que tinha indicado o meu nome”.Há sete anos atrás, Liliana Silva aceitou o desafio e tem cumprido a missão. Desde essa altura, que se reparte entre Vilar dos Prazeres e Ourém, onde a dentista tem consultório.Quando entrou para a profissão, Liliana não fazia ideia do que a esperava. E diz que fez algumas asneiras de início, salientando a paciência que os médicos, com quem trabalha, tiveram, ensinando, alertando, mas nunca criticando.Além da esterilização de todo o equipamento, a assistente dentária tinha também que saber quais os materiais que eram necessários em cada consulta. “O que no começo foi difícil, porque os dentistas têm por hábito chamar os materiais que precisam pelo nome e não pelas funções. É que há muitos materiais parecidos mas com funções muitos diferentes”. Para fazer tudo certo, Liliana começou a ler livros e revistas específicos da actividade. Quando a dentista fez um curso sobre implantes levou Liliana consigo – “a doutora precisava que alguém a auxiliasse quando começasse com os implantes e decidiu que eu iria ter o curso de assistente de cirurgia”.Mas a teoria é sempre muito diferente da prática. “Quando assisti à primeira cirurgia a doutora disse-me que fiquei de tal maneira branca que as minhas sardas desapareceram por completo”, refere Liliana em tom de brincadeira.Trabalhar com a parte estética é, dentro da actividade, o que a assistente de medicina dentária mais gosta de fazer. “O resultado é mais visível. Quando se vê o antes e o depois fica-se com a noção de que se fez um bom trabalho”. No consultório onde Liliana trabalha não se dispensa a segurança e higiene no trabalho. “Utilizamos todo o tipo de protecção, desde luvas, bata, touca para o cabelo, máscara e protecção do pé. Temos de estar conscientes que cada paciente que aqui entra é um paciente de risco. Não está escrito na cara os problemas que cada pessoa pode ter e se somos rigorosos ao nível da higiene e segurança é para bem deles próprios”.Liliana acha que a maioria dos portugueses ainda pensa que o dinheiro gasto no dentista é dinheiro mal empregue. “Continua a preferir-se gastar dinheiro em coisas materiais e esquecem-se da boca, porque fecham os lábios e ninguém vê o que lá vai dentro”.A assistente de medicina dentária nunca tem um dia igual ao outro. Além dos tratamentos mudarem de paciente para paciente também trabalha por turnos. Todos os dias o horário muda. Se num dia Liliana trabalha das 9h ao meio-dia e depois das 14h às 17h no dia seguinte entra também às 9h, mas a hora de almoço está sempre dependente dos pacientes, embora tenha sempre de fazer um intervalo de três horas, e a hora de saída também nunca é certa. A assistente não se importa de fazer este tipo de horários porque, diz, lhe dá mais tempo para tratar das coisas de casa, embora o marido a ajude bastante. Será porque o casamento tem menos de um ano?Margarida Cabeleira

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