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Um barril de pólvora no centro da cidade

Bombeiros de Torres Novas reconhecem o risco na zona histórica

A zona histórica de Torres Novas, como a de outras cidades e vilas do país, é um barril de pólvora em caso de incêndio. Os acessos estreitos, a eventual insuficiência das bocas de incêndio e a falta de um plano de intervenção prévia são dores de cabeça para os bombeiros e responsáveis da protecção civil.

Travessa dos Sete Cotovelos ou Largo da Rua Nova são topónimos bem conhecidos de Valverde e uma dor cabeça para os bombeiros da cidade. O velho bairro ao fundo da Calçada António Nunes é um emaranhado de ruelas sinuosas, meias portas e casas de tabique, um manancial de obstáculos para quem tem a missão de salvar pessoas e bens. As intempéries vêm causando estragos, os escombros amontoam-se e, apesar de alguns prédios terem sido recuperados, o perigo de derrocada ou a ocorrência de um incêndio continuam presentes. Os materiais utilizados na construção das habitações e a disposição espacial dos bairros, com ruas demasiado estreitas e aglomerados muito concentrados, potenciam as situações de risco.Para estas zonas não existe um plano de intervenção prévia em caso de incêndio. O Plano Municipal de Emergência (PME), um dos primeiros a ser feito no país e referenciado como exemplo, indica estas zonas como problemáticas. Os bombeiros reconhecem as dificuldades: “Sempre que houve um incêndio no centro de Torres Novas tivemos de pedir auxílio a outras corporações”, diz José Carlos, ajudante de comando dos Bombeiros Voluntários de Torres Novas.As bocas de incêndio existentes em Valverde poderão ser insuficientes para dominar as chamas e a velha fonte que outrora abastecia o bairro há muito que foi fechada: “Há bocas de incêndio, mas não sei qual é o seu caudal”, afirma o ajudante do comando, acrescentando que dificilmente os carros de combate a fogos de que dispõem podem entrar no bairro.Francisco Paiva, autor do PME, antigo comandante dos bombeiros torrejanos e um dos responsáveis pela Protecção Civil Municipal, considera necessária a elaboração de planos de intervenção prévia para estas zonas: “O Plano Municipal de Emergência indica as normas a seguir a nível do município, depois há zonas que devem ter o seu plano prévio de intervenção da responsabilidade dos bombeiros”.Segundo Júlio Cardoso, segundo comandante dos voluntários de Torres Novas, esta necessidade é reconhecida, mas até à data não foi possível sistematizar as acções a tomar: “Em caso de incêndio fazemos uma grelha de actuação”, acrescenta José Carlos.O bairro de Valverde tem sido poupado a este tipo de ocorrências, mas no Quinchoso, perto de S. Pedro, houve vários fogos e as dificuldades foram muitas. Num dos incêndios uma viatura estacionada numa rua estreita impediu a passagem do carro de fogo e, em situações destas, não há escada Magirus que resolva.Por outro lado, no que respeita a assaltos ou furtos, muitas vezes relacionados com toxicodependência, a vivência nestes bairros “está mais calma”, segundo o chefe Castro da Polícia de Segurança Pública: “Não temos tido queixas de maior, a situação no Quinchoso tem levantado mais problemas, mas ultimamente não tem havido grandes problemas”.Nestes bairros, a ronda policial é feita como em qualquer outra zona da cidade: “Não temos pessoal para estar um dia inteiro nesses bairros, passamos por lá, como fazemos por toda a cidade”.Recuperação dos imóveisOs diversos programas criados a nível da Administração Central – Recria, Rehabita ou Solar – para recuperação das habitações degradadas tem se revelado ineficazes para solucionar o problema. Exige-se que a casa esteja em regime de arrendamento, o que nem sempre acontece, há habitações devolutas e outras que embora arrendadas não têm nenhum contrato de arrendamento.Apesar de tudo, em qualquer dos bairros torrejanos começam a aparecer habitações recuperadas. Segundo fonte do Gabinete de Acção Social da Câmara Municipal de Torres Novas, os pedidos para recuperar tem surgido principalmente do bairro de S. Pedro. Para Valverde, Calçada António Nunes e o denominado Bairro dos Pobres existe um projecto de recuperação, que ainda não pode passar à prática por falta de verbas. Mas não é só a escassez de financiamento, há alguma dificuldade para solucionar a situação a nível social. O Bairro dos Pobres foi criado por uma instituição da igreja para famílias carenciadas e há moradores que lá habitam há mais de 40 anos sem nunca terem pago renda a ninguém. As famílias foram crescendo e de forma anárquica construíram-se anexos, sem que ninguém pusesse cobro à situação, noutros casos os moradores melhoraram as suas moradias, investiram e dificilmente querem deixá-las. Entretanto, por restrições orçamentais o projecto de construção de 34 fogos continua no papel.Margarida Trincão

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