João Santos tem 72 anos e é viúvo. O idoso adora estes encontros e garante que para além do conforto do estômago e do convívio servem também para conhecer outras pessoas e travar conhecimentos “que podem dar em namoro”. Quando o nosso jornal chegou ao pé dele, andava com o olho numa idosa. Embora não quisesse revelar a sua identidade, lá foi dando algumas descrições da pessoa. “Parece estar só”, confessou a O MIRANTE. “Vou ver se consigo convencê-la a ir dançar. Sei que não é fácil, mas tenho pelo menos de tentar a minha sorte”, referiu. Cerca de mil idosos vindos dos quatro cantos do concelho de Benavente reuniram-se no dia 3 de Setembro, na Herdade do Zambujeiro, em Santo Estêvão, para uma jornada de convívio e confraternização. Eram cerca de 10 horas da manhã quando os primeiros autocarros começaram a chegar. Depois de um pequeno passeio pelo local, rapidamente, apressaram-se a escolher as mesas, onde mais tarde, foi servido o almoço. Alguns optaram por ficar mais perto do palco para não perderem de vista o baile que durou até às 18 horas, outros preferiram locais mais repousantes à sombra de alguns sobreiros. Para alguns, o oitavo encontro de idosos do concelho de Benavente foi uma novidade, mas para a maior parte o que mudou foi apenas o local. Nos dois últimos anos, o encontro realizou-se nos Camarinhais, em Benavente. No entanto, “como a Herdade do Zambujeiro tem mais condições, a Câmara Municipal de Benavente não hesitou na escolha”, explicou o vereador Hélio Justino.À festa, não faltaram as habituais sardinhas, salada, pão e vinho. E para a felicidade de muitos idosos, este ano, a organização serviu aos convidados alguns porcos no espeto. Enquanto o Rancho Folclórico Saia Rodada de Benavente actuava e os bombeiros estavam de prevenção, funcionários da autarquia, dos lares e centros de dia e os Escuteiros de Samora Correia faziam o serviço às mesas e apoiavam alguns idosos com mais dificuldades.Manuel Rosa tem 90 anos de idade e veio de Benavente. É dos que não perde um encontro. Diz que a festa é formidável e que a comida é muito boa. Ao seu lado, estava a sua esposa. Hermínia Rosa contou-nos que não podia ir dançar porque estava muito doente. Prefere o convívio à mesa com os seus amigos. Neste convívio joga-se às cartas, contam-se anedotas, fazem-se adivinhas e recordam-se histórias do passado. Naquele instante, os idosos falavam dos problemas ambientais que têm afectado Portugal. Rodeado de árvores e de campo, Manuel Rosa aproveitou para dizer que no seu tempo tudo era diferente. A natureza era mais alegre, os pássaros cantavam com mais prazer e as pessoas sentiam-se muito melhor quando estavam em contacto com a natureza. Um pouco mais à frente fomos encontrar Celina Espírito Santo. Tem 84 anos e também vive em Benavente. E quando nos preparávamos para lhe fazer a primeira pergunta, interrompeu-nos para dizer que apesar de ter aquele nome, nada tinha a ver com o Banco Espírito Santo. Acrescentando: “É pena!” Ficámos a saber que esta já era a terceira vez que Celina participava em encontros desta natureza. “É uma forma de se conviver com muita gente e de se comer à fartazana”, adiantou a idosa. Joaquim Crespo mal podia andar, mas não quis perder mais uma festa. Conta que é a segunda vez que participa no encontro. Como gostou do primeiro, não quis perder esta segunda oportunidade. Rita Jesus foi das idosas mais conversadoras que a reportagem de O MIRANTE encontro no local. Com 83 anos, mas a aparentar ter uns 60, Rita Jesus revelou-nos que ainda ia “dançar uma moda”. “É que as músicas do baile são do meu tempo, e sempre são melhores do que as músicas modernas”, referiu. Apesar de ser viúva e este ser um local onde se podem travar conhecimentos, longe dela pensar encontrar companhia. “Com esta idade não preciso de homem. O que preciso é paz e descanso, e de alguns convívios destes”, assegurou. Mário Gonçalves