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Vindimar no país do sol

Vindimar no país do sol

Associação juvenil de Arrouquelas recebe jovens deficientes da Estónia

Jovens com deficiência proveniente da Estónia, viram videiras pela primeira vez.

Passam alguns minutos das 09h30. Está uma manhã solarenga de sábado. O clima contrasta com o rigor das temperaturas da Estónia, terra natal do grupo de jovens que durante dez dias foi recebido na localidade de Arrouquelas, Rio Maior.Frente à sede da H2O - Associação de Jovens de Arrouquelas, que realiza o intercâmbio com a instituição de apoio a pessoas com deficiência, o grupo prepara-se para participar numa das mais tradicionais fainas agrícola da região: a vindima. Uma carrinha de caixa aberta estaciona e os vindimeiros vão tomando os seus lugares. É a primeira vez que os jovens têm contacto com “a árvore onde crescem as uvas”. Mergulham as sapatilhas no terreno arenoso do campo e começam a procurar os grandes cachos de uvas por entre as parras. Para trabalhar com a tesoura foi preciso aprender algumas noções sobre a arte. “Tivemos a teoria e agora estamos a experimentar na prática. É divertido”, comenta Ingrid Põldemaa, 28 anos.Para quem vem da terra do frio - onde no Inverno se forma uma estrada de gelo sobre o mar – é difícil permanecer mais do que hora e meia ao sol que bate a pique. “É engraçado, mas acho que não era capaz de estar a vindimar durante todo o dia por causa do calor”, confessa, Lissi Kurg, 27 anos, que aproveita o intervalo de uma carreira para satisfazer a sede. “Há algum português que queira água?”, pergunta solícito o aguadeiro de serviço.Na Estónia não se fazem vindimas, mas apanham-se batatas e os frutos silvestres. “Apanhar batatas é mais difícil”, avalia Lissi, que admira as suas mão “doces” do sumo da uva. Rain Plado, 21 anos, aprecia um copo de abafado, que não larga até à hora do almoço. “Foi a primeira palavra que aprendi em português”, atesta. O início da jornada de trabalho foi pujante – 20 cestos cheios na primeira meia hora – mas pouco depois os sinais de cansaço começavam a notar-se. “Não misturem o tinto com o branco”, avisa uma vindimeira mais experiente. Os jovens portugueses fazem o papel de respigadores. Vão ensinando cuidadosamente a técnica aos convidados enquanto se certificam de que não escapam cachos ao longo do carreiro. “Está a ser a melhor vindima da minha vida”, confidencia o anfitrião Tiago Lila, 18 anos.No terreno de Maria de Lurdes Lisboa, que teve ajuda redobrada na vindima durante a manhã, os vizinhos também colaboram. Os mais antigos vindimam um pouco adiante dos estónios e limitam-se a observar. Só os membros da H2O estabelecem contacto recorrendo ao inglês. “Quando as palavras falham recorre-se aos gestos”, exemplifica Filipa Caetano, 18 anos.As diferenças culturais não são acentuadas com excepção de alguns pormenores: os amigos não partilham a mesma roupa de cama e não se cumprimentam com beijos. “Os portugueses são mais abertos, emotivos e calorosos. Fazem-nos sentir iguais”, descreve Lauri Leevit, 23 anos.Durante 10 dias estónios e portugueses trocaram experiências, anedotas e lendas. “Eles fazem sauna ao domingo à noite para purificar o corpo e a mente e nunca saem depois da meia noite porque têm medo de encontrar o diabo na encruzilhada”, contam os portugueses. Os cozinhados típicos, como o bacalhau no forno, e o sol apaixonaram os estónios, que assim que se levantam abrem as persianas para deixar entrar a luz. No quintal de Catarina Vivo, 24 anos, alguns dos visitantes provaram pela primeira vez pinhões e figos. “Para eles somos um país exótico. Quando lhes servimos o pequeno almoço com frutas até tiraram fotografias às mesas”.Ana Santiago
Vindimar no país do sol

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