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Entre a pólvora e o rastilho

Rui Martins habituou-se desde muito cedo ao negócio da família

Rui Carlos Pestana Martins cresceu num meio “explosivo”, habituando-se desde muito cedo a lidar com o negócio da família – produção de rastilhos e pólvora. Hoje dá a cara pela empresa, gerindo a parte comercial. Mas diz continuar a ser um amante dos foguetes e do fogo de artifício.

Aos 16 anos Rui Martins já trabalhava na empresa do pai, conhecido em Torres Novas como o “Jacinto fogueteiro”. “Andava no 12º Ano e como só tinha aulas de tarde passava as manhãs aqui”, refere o actual responsável pela parte comercial da empresa. Apesar de o seu pai ser conhecido como fogueteiro, a verdade é que precisamente desde que Rui Martins nasceu, há 31 anos, a empresa não faz qualquer foguete.“No tempo do meu avô, que criou esta empresa, é que se faziam artefactos de pirotecnia, mas há muitos anos que essa actividade foi posta de lado”.Ser filho do patrão não trouxe qualquer benesse a Rui Martins – “comecei pela produção, como qualquer principiante”, diz quem tem muitas horas de fabrico de rastilho e pólvora.Esta última é, aliás, a actividade considerada mais perigosa dentro da empresa. “A pólvora é um produto facilmente detonável devido à sua composição, à base de nitrato de potássio, enxofre e carvão, por isso costumo dizer que tem de ser tratada como um recém-nascido, com muito carinho e atenção”.Não é por acaso que a pólvora está classificada como sendo um dos explosivos mais perigosos e geralmente é o seu mau manuseamento a causa de grande parte dos acidentes de trabalho neste sector.Rui Martins garante que na empresa todas as normas de segurança são acauteladas. Os funcionários que estão no sector da fabricação da pólvora têm de andar sempre vestidos com calças e camisolas de algodão puro, um material que não é combustível e usam sempre máscaras e óculos por causa do pó que o produto solta.Mas mesmo cumprindo todos os trâmites em termos de segurança acontecem acidentes. A fábrica de Torres Novas registou dois acidentes mortais, curiosamente quando já não fabricava produtos pirotécnicos. “E olhe que somos frequentemente fiscalizados pela secção de explosivos da PSP”, refere Rui Martins.No segmento dos rastilhos a segurança não é tão apertada mas há sempre que ter algum cuidado. A pólvora fabricada na empresa é toda para auto-consumo, isto é, vai direitinha para a confecção do rastilho.Embora já algum tempo afastado da produção, Rui Martins não esquece como se faz um rastilho. “Para a pólvora arder lentamente é necessário confiná-la a um determinado espaço”, refere, acrescentando que a “alma” da pólvora (a que provoca combustão) é rodeada por uma liga de fio de juta e algodão, sendo depois envolvida em plástico.O algodão e a juta são comprados em grandes bobinas, que são rebobinadas para outras mais pequenas. Faz-se depois uma espécie de pequeno canudo para onde cai a pólvora, sendo então tudo envolvido em plástico.O rastilho pode ter vários diâmetros, dependendo da sua posterior finalidade. O mais pequeno, com um diâmetro de 5,5 milímetros leva oito gramas de pólvora, e é comprado essencialmente para o fabrico de foguetes.O rastilho maior, com dez milímetros de diâmetro, destina-se ao fogo de artifício e ao chamado fogo de noite, e contém 42 gramas de pólvora.Um metro de rastilho demora cem segundos a arder, diz Rui Martins, enquanto os olhos brilham – “Sou um amante da pirotecnia. Fascinam-me os foguetes e o fogo de artifício em geral”.Enquanto trabalhou na fabricação da pólvora e dos rastilhos Rui Martins nunca abandonou o sonho de estudante – tirar um curso de marketing. Um sonho que se tornou realidade, afastando-o de vez da área da produção. Hoje é Rui Martins que dá a cara pela empresa do pai, que visita clientes de norte a sul do país e também no estrangeiro, já que 60 por cento da produção da empresa é para o exterior.“No mínimo faço cerca de 150 mil quilómetros por ano porque vou muitas vezes de automóvel ao estrangeiro para levar amostras”, diz, adiantando que às vezes tem “horário de padeiro”. “Gosto de estar às oito em ponto no cliente que tiver de visitar geograficamente mais a norte o que me leva a levantar da cama muitas vezes a meio da noite”.Rui Martins não se pode regular pelo horário de funcionamento da fábrica – “um bom comercial não pode ter horários definidos”.Nas visitas que faz aos clientes diz ter já visto toda a espécie de fábricas, “desde as boas, às assim assim e às francamente más”. E confessa mesmo que já entrou em algumas com o credo na boca.Imposições de um ofício comandado pelos explosivos...Margarida Cabeleira

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