uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Demagogias

Aurélio Lopes
Há algum tempo atrás, numa reunião extraordinária da Assembleia Municipal de Santarém convocada para discutir a problemática da venda do Teatro Rosa Damasceno, um representante de uma das forças da oposição mais importantes do concelho, afirmava a dado passo de um discurso pretensamente dramático e emotivo: “A população desta cidade está chocada com este negócio”!Ora, considerando que numa população potencial de sessenta e cinco mil pessoas, estavam presentes na melhor das hipóteses oito dezenas, que destas mais de cinquenta aí estavam por imperativos de função e que, as restantes trinta, (correspondendo a menos de 0,05%) manifestaram ainda diversas (e diversificadas) opiniões sobre o assunto, depreende-se, facilmente, que o tal “choque” não constituía, concerteza, nenhum terramoto!Na verdade o discurso político é cada vez mais virtual! A sua coincidência com a realidade cada vez menor e ocasional. O político é cada vez mais aquele que pensa um coisa, diz uma diferente e, muitas vezes, faz uma terceira!O discurso demagógico (mais ou menos refinado e subtil nos círculos de poder central, mais prosaico e rústico nos meios autárquicos próximos de nós), corporiza inevitavelmente uma estratégia em que o marketing dita lei. Em que o politicamente correcto é mais correcto que o correcto politicamente.O discurso e o acto ligam-se assim numa simbiose do interesse político grupal e individual. O interesse público surge como coisa menor; remetido que é para um “faz de conta” permanente, feito imagem conveniente e mediaticamente eficaz. Assim se compreende o anterior ministro Jorge Coelho, durante a inauguração da Ponte Salgueiro Maia, quando agastado com a demora do “Engenheiro” em colocar-se à disposição dos média para entrar em directo no horário nobre noticioso, desabafa furibundo: “Assim não viemos cá fazer nada!”Assim se compreende, por exemplo, na já citada Assembleia Municipal, o frenesim dos responsáveis da Mesa (empenhados pelo menos em justificar a sua convocação) tentando desesperadamente eleger alguém que representasse esse órgão no processo negocial. Isto, quando qualquer das partes que de alguma forma poderiam ser envolvidas no negócio (Câmara Municipal e Clube proprietário do imóvel), o consideravam já, de forma pública e reiterada, como definitivamente terminado.Assim se compreende o Primeiro Ministro garantindo publicamente a sua confiança no Ministro dos Negócios Estrangeiros quando este estava já de malas aviadas, ou o deputado Paulo Pedroso transformando uma situação de liberdade condicionada (enquanto espera julgamento, não o esqueçamos) num acto de redenção política para português ver, envolvendo até a própria Assembleia da República.Ou, finalmente, o impagável presidente da Câmara de Proença a Nova, explicando na televisão que o seu filho tinha de facto levado trinta sacos de ração incluídos nos donativos oferecidos às vítimas dos incêndios, mas não para si e sim para um cidadão ucraniano em situação económica dificil!Trinta sacos de ração! Deve estar mesmo em dificuldades o tal ucraniano!Enfim! È um fartar vilanagem...Espero bem que Cristo (apesar da gafe do Professor Marcelo) não se lembre de descer de novo do céu à terra! Estou convencido que, desta vez, não haveria ressurreição que lhe valesse!

Mais Notícias

    A carregar...