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Ajudar quem tem azar na estrada

Ajudar quem tem azar na estrada

José Matos, um homem dos sete ofícios que anda ao volante de um reboque

Aos 39 anos de idade poucos serão os homens com tantas experiências profissionais como José Manuel Lopes de Matos. Depois de ter percorrido Portugal de lés a lés, de trabalhar em Marrocos e na Tunísia, este homem dos sete ofícios descobriu finalmente algo que lhe dá um imenso prazer profissional – conduzir reboques de assistência em viagem.

José Manuel Matos começou a trabalhar muito jovem, aos 13 anos, numa oficina de serralharia de Tomar. Gostava do ofício mas não de ficar fechado o dia todo entre quatro paredes. “Não queria estar preso muito tempo no mesmo sítio”.Foi por isso que, assim que pôde, deixou aquele trabalho e partiu à aventura de descobrir Portugal. Durante os três anos que foi motorista de pesados correu o país de lés a lés e gaba-se hoje de haver poucos locais por onde não tenha passado.Um trabalho que não parou sequer quando teve de cumprir o serviço militar obrigatório. “Fazia percursos ao fim-de-semana, para ganhar mais algum”. E bem precisava. Naquela época, com 19 anos, tinha já um rebento para sustentar. “Casei com 19 anos, no mesmo dia em que baptizei o meu André”, diz.Aos 21 anos decide tentar um negócio por conta própria. Mas a vida de empresário só durou um ano. “Abri uma serralharia mas não tinha vida para aquilo. Voltei à sensação de estar fechado, enclausurado”. Foi trabalhar com maquinaria pesada. Andou com retroescavadoras, carregou camiões e até abriu poços, numa empresa de prospecção de furos artesianos.Mas ainda não era com aquilo que sonhava. Sempre em busca da profissão que o realizasse aceitou uma proposta da Telcabo, “porque era uma grande empresa, estável e ganhava-se bem”.Recebeu formação específica na área das telecomunicações para poder instalar telefones, “mas quando era preciso também abria valas”. Em todo o seu percurso profissional foi ali que aguentou mais tempo – seis anos. Temporariamente deixou a empresa para voltar a trabalhar com máquinas mas regressou ao fim de seis meses. Foi nessa altura que começou a grande aventura, aquela que mudou o rumo da sua vida. “A Telcabo tinha ganho a obra de instalação da rede móvel em Marrocos e convidou-me para trabalhar no país”, refere José Matos.Aceitou o convite com uma condição – o seu filho de 17 anos, que também já estava a trabalhar na empresa, tinha de o acompanhar. “Era a forma de não o abandonar, de saber onde ele estava e também de ele ganhar mais algum dinheiro”.Esteve por terras de Marrocos – com uma pequena incursão à Tunísia – durante três anos.A princípio, a adaptação foi difícil. Tudo era diferente, dos costumes, aos trajes, da cultura à alimentação. “No início só comíamos sandes porque não gostávamos da comida”, refere, adiantando que a pouco e pouco foram conhecendo os melhores restaurantes e acabaram por apreciar a alimentação.Em Marrocos, José Matos também pouco parava no mesmo local, apesar do ponto de partida e chegada ser Casablanca, onde residia. “Cheguei a percorrer 1200 quilómetros, atravessando o deserto durante a noite”.Foi, como muitos outros colegas, “assediado” por mulheres marroquinas que queriam a todo o custo sair do país e conhecer outras culturas mais abertas. Acabou “encantado” por Fátima, com quem casou há menos de um mês, já em solo português.O filho seguiu-lhe os passos e hoje também está casado com uma marroquina.O regresso a Portugal, há um ano atrás, foi difícil. Veio sem nenhuma perspectiva de emprego e foi um amigo que lhe deu a mão. Hoje conduz um reboque de assistência em viagem e descobriu, finalmente, uma profissão que lhe dá imenso prazer - por poder ajudar alguém que precisa, pelos conhecimentos que a profissão traz e pela arte de conduzir.E porque uma aventura nunca vem só, José Matos decidiu converter-se ao islamismo. Começou o Ramadão no domingo, dia 22 de Outubro, e até 21 deste mês o horário das suas refeições deixa qualquer cristão com o estômago às voltas.O dia começa às 17h45 quando toma a primeira refeição, leite e bolos. Às onze da noite é a hora do almoço, que come normalmente, e o jantar é servido às 04h30 da manhã. Assim que o sol nasce faz jejum até ao pequeno-almoço (17h45).No pouco tempo que conduz o reboque da “Batichama”, empresa de Venda Nova, Tomar, José Matos diz já ter visto de tudo. De carros completamente destruídos com os ocupantes a saírem ilesos, a mortes estúpidas. Ainda há pouco tempo tiveram de cortar um automóvel ao meio para que a condutora pudesse sair.O horário de trabalho é imprevisível. De dia, de noite, aos feriados e fins-de-semana. Porque os acidentes não acontecem com dia e hora marcada.E já está novamente de malas aviadas, desta vez para França. A proposta veio de Lyon e, segundo o condutor de reboques, é irrecusável. Até porque vai continuar a rebocar acidentados. E a ganhar bem mais.Margarida Cabeleira
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