uma parceria com o Jornal Expresso

Edição Diária >

Edição Semanal >

Assine O Mirante e receba o jornal em casa
31 anos do jornal o Mirante

Passar o dia de ferro na mão

Anabela Simões é engomadeira de profissão

O ferro de engomar é a ferramenta que Anabela Simões utiliza no seu dia a dia. Passa o dia a endireitar calças, camisas, vestidos, batas e lençóis. A maioria das pessoas prefere delegar a tarefa, mas a engomadeira de Azambuja confessa que sempre gostou de tratar da roupa.

São sete e meia da manhã quando Anabela Simões chega à engomadaria Belimpa, no Pátio Singelo, Azambuja. Espera-a um longo dia de trabalho que se repete durante toda a semana. No espaço envidraçado acumulam-se dezenas de camisas e calças penduradas em sacos transparentes que aguardam a chegada dos clientes. Cheira a detergente e a roupa acabada de passar.Para muitas donas de casa o repetitivo trabalho de engomar a roupa é dispensável, mas Anabela Simões, 40 anos, confessa que sempre gostou de passar roupa a ferro. “Acho interessante tratar da roupa que as pessoas vão depois vestir”, confidencia.Assim que chega ao local de trabalho a engomadeira ocupa-se do serviço de lavandaria e limpeza à seco. Só uma hora depois se coloca em frente ao ferro de engomar para passar um dia inteiro a endireitar roupa. “É um trabalho um bocadinho cansativo, mas quando nos habituamos já nem nos lembramos que passamos o dia inteiro a passar a ferro”.Por dia passa cerca de uma centena de peças de roupa. Camisas, calças, vestidos, lençóis e batas. “Até há pessoas que entregam meias”, elucida a engomadeira. O tempo que uma peça leva a engomar depende da complexidade de cada tecido e pode demora entre cinco minutos a um quarto de hora. Os ferros são muito potentes e por isso usa uma protecção para evitar queimaduras nos tecidos. “Há peças de grande responsabilidade que vêm cá para ser endireitadas, como os vestidos de noiva”.Anabela Simões trabalha com um ferro ligado a uma caldeira eléctrica com pedais de insuflação para facilitar o trabalho de endireitar a roupa sem vincos. “Muitas clientes dizem que era de um ferro destes que precisavam, mas acho que isso não depende só do ferro, mas também de quem passa”.Depois do almoço, por volta das 14h00, Anabela enche a traseira da carrinha com a roupa acabada de engomar e vai fazer a distribuição. Quatro fábricas da zona industrial de Azambuja requisitam os seus serviços para lavar e engomar as batas dos funcionários.A entrega e recolha ao domicílio ocupam-na normalmente ao final da tarde quando os clientes chegam a casa. Dividiu o concelho por zonas e todos os dias faz uma ronda por cada freguesia. Ontem foi o dia de Azambuja e hoje é a vez de levar a roupa engomada aos clientes de Virtudes. “Mas também temos muitos clientes que vêm cá buscar a roupa”, esclarece Anabela Simões.O ambiente quente do vapor do ferro de engomar é agradável no Inverno, mas obrigou Anabela Simões a instalar um sistema de ar condicionado para suportar as temperaturas do último Verão. Mas é o Inverno que traz mais dificuldades quando tem que fazer entregas de roupa muitas vezes debaixo de chuva.O dia de trabalho na engomadaria prolonga-se normalmente até às 22h00. Só é interrompido para uma ligeira refeição que às vezes Anabela Simões toma mesmo no estabelecimento. Reside na vila de Azambuja, mas às vezes o trabalho é muito e não há tempo para desperdiçar. A engomadeira trabalha de segunda a sábado e ao domingo, sempre que pode, vai adiantar trabalho. Em sua casa o ferro nunca funciona porque trata de toda a sua roupa no local de trabalho. As quintas e as sextas-feiras são os dias mais intensos.A actividade não é muito rentável porque para ter lucro é preciso passar muitas horas a engomar. “Não podemos cobrar muito dinheiro por passar a ferro”, reconhece.Anabela Simões acredita que a maior parte das pessoas deixa a roupa na engomadaria porque a vida acelerada dos dias de hoje não permite que tenham disponibilidade para estar em frente ao ferro. “As pessoas cada vez têm menos tempo e precisam deste tipo de serviço”. No serviço de lavandaria e engomadaria, o profissional tem que estar em aprendizagem constante porque estão sempre a surgir tecidos novos no mercado. A engomadeira já trabalhou no ramo da restauração, mas há cinco anos decidiu estabelecer-se por conta própria com uma pequena empresa de lavandaria, engomadaria, tinturaria e limpeza a seco. Para aprender a lidar com as máquinas fez um breve curso numa lavandaria em Vila Franca de Xira.O atendimento ao público é o que agrada mais à engomadeira, apaixonada pelo “trabalho de balcão”. Para trabalhar na profissão é fundamental gostar do que se faz. “Quem não gosta de passar a ferro dificilmente se faz uma boa engomadeira”.Ana Santiago

Mais Notícias

    A carregar...