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Falta público e salas de espectáculos

Debate sobre cultura em Santarém põe o dedo na ferida

“Preciso de alguém nesta sala que me desentupa uma sanita e me arranje dois aquecedores”. Foi desta forma que Gomes Vidal, homem ligado ao teatro, abriu a sua intervenção no período destinado ao público, no debate organizado na noite de quinta-feira 4 de Dezembro, pelo movimento cívico Santarém 21, que se realizou no auditório do Instituto da Juventude, em Santarém.

Com esse apelo, quis demonstrar com clareza as más condições em que trabalham dois grupos de teatro da cidade, que ensaiam numa cave fria e onde a casa de banho está fora de serviço. A vereadora da Cultura, presente na sessão, anotou o apelo e prometeu solucionar em breve, pelo menos, a questão da casa de banho.A falta de salas de espectáculo condignas, a par com a falta de público com que se confrontam os produtores culturais, foram duas das principais pechas apontadas pelos oradores convidados e pelo público. “Esta é uma cidade produtora de cultura por excelência. Temos muitos agentes culturais, temos cinco grupos de teatro, não temos é consumidores, quando os primeiros deviam ser os que estão nesta sala”, afirmou Gomes Vidal, que defendeu: “Têm de se dar condições e arranjar maneira de que as pessoas vão ver os espectáculos”.Heitor Mendonça, ligado ao movimento associativo de Pernes, reforçou que “é necessária a sensibilização do público”. Mas, “os públicos criam-se?”, questionou, pertinentemente, Nelson Ferrão, do Departamento de Cultura da Câmara de Santarém.O antropólogo Aurélio Lopes, um dos oradores convidados, acha que sim: “Temos dez milhões de consumidores. O problema é que não consomem o que a gente quer. Se acreditamos que o público se cria tem de se fazer alguma coisa nesse sentido”. E Armando Paulo, outro dos convidados, referiu que é necessário que os próprios grupos e associações vão para a rua e improvisem no sentido de divulgar os seus espectáculos e cativar o público. Como fez este ano a Orquestra Típica Scalabitana, a que está ligado, e que no concerto de aniversário conseguiu ter 800 pessoas a assistir ao espectáculo no CNEMA graças a uma acção de rua. Tudo para dizer que falta dinâmica e liderança ao movimento associativo para traçar novos caminhos, ideia aliás secundada por outros participantes.Para o presidente da Assembleia Municipal de Santarém e dirigente associativo, José Miguel Noras, “o problema não está tanto na divulgação, mas sim na liberdade de cada um, que faz o que quer”. Mas para essa manifestação de vontade, reconheceu, “muito contribui o mar-keting”, que, na sua opinião, ajuda mais à angariação de público do que a pureza da ideia e da sua criação.Já Rodrigo Dentinho entende que para se ter público são necessárias realizações mais ligadas às pessoas, que tenham mais a ver com os seus gostos e modo de vida. “Ninguém aprende a gostar de jazz, ou de tauromaquia quando tem 30 anos. É desde novo que se criam essas apetências culturais”, defendeu.A vereadora da Cultura reconheceu o problema mas lembrou que se estão a criar algumas correntes de público, exemplificando com um espectáculo de dança contemporânea realizado no Verão, onde acorreu muita juventude. Já quanto à carência de espaços culturais, reconheceu que o actual panorama “é um bocadinho confrangedor para quem quer apostar em fazer alguma programação”.

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