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Faenas de Outono

Aurélio Lopes

“E enquanto a hipótese de afirmação regional se vai tornando cada vez mais uma utopia, vai-nos valendo o pitoresco dos nossos devaneios. Podemos até, como dizem alguns, estar a ser patetas, deixando esvair por entre os dedos as derradeiras esperanças de sermos mais que a periferia da grande metrópole ou mero local de passagem para a Europa. Mas, pelo menos, somos patetas alegres!”

Quando o tempo franze o sobrolho, as folhas caem e a chuva faz sentir a sua presença, aproxima-se o ocaso do ano que é também ocaso da natureza.São tempos macambúzios, despoletadores muitas vezes de temperamentos ainda mais macambúzios. Num Ribatejo cada vez mais virtual, emergem nesta altura atitudes e comportamentos que mais parecem tirados de uma qualquer “play station”. Mas por muito que se assemelhem à ficção constituem flashs inequívocos de realidade! Lamentável, com certeza, mas realidade! São as “faenas” da nossa fatalidade!1 – Por exemplo, para o dinheiro gasto pela autarquia cartaxense (em tempo de vacas magras) na inauguração das obras de beneficiação da praça de touros local. Para a presença “vip” do “jet set” disponível que deu a cara por este evento (provavelmente por não ter mais nada para dar!), reveladora de um provincianismo autárquico que faz pequenas as grandes coisas!É nestas alturas que nos interrogamos se o Homem resulta mesmo de milénios de evolução!2 – Para o nado morto que foi desde o início, o assim denominado, em Santarém, “Orçamento Participativo”, bandeira eleitoral do Presidente Barreiro. Segundo o mesmo, aquele encontra-se agora “suspenso”! Não “abandonado” assinale-se! Apenas “alterado na sua metodologia!”Pelos vistos não consiste já (como anteriormente), em sujeitar anualmente os respectivos projectos orçamentais à apreciação das populações, em sessões públicas realizadas nas freguesias rurais mas, talvez agora, em sonegar anualmente os ditos à apreciação das populações em sessões privadas, realizadas nas freguesias urbanas! Metodologias!3 –Para a constatação noticiosa de O MIRANTE de que o Distrito de Santarém está cheio de cartazes colocados em árvores, postes e similares apesar de tal ser estritamente proibido! Ingénuo, o periódico, explica ainda que quase ninguém cumpre a legislação!Coitados! Não percebem que as leis em Portugal não foram feitas para serem cumpridas. Que constituem apenas um serviço público governamental de informação, acerca daquilo que pudemos ou não vir a fazer, consoante estamos, ou não, na presença das autoridades!4 – Para o Presidente da Junta de Freguesia de Salvador de Santarém comentando a ineficácia do Orçamento Municipal, ao considerar que “as prioridades que apontara para o orçamento de 2003, são as que apresenta novamente para 2004”. E conclui: “pois praticamente nada foi feito”!Ora esta!! Se nada foi feito, a verdade é que, pelos vistos, também não surgiram novas prioridades! Sim!! E o que é que isto quer dizer? Quer dizer, obviamente, que as necessidades estão estabilizadas e que o Presidente da Câmara tem, na verdade, tudo sob controle! É ou não é?! Meu Deus! A mania que esta gente tem de dizer mal!5 – Aliás estes presidentes de juntas são todos uns chatos! Desunha-se um executivo para trazer para Santarém a Semana Taurina, o Congresso de Cidades Taurinas e outros acontecimentos de inequívoca natureza cultural e ecológica (e dimensão nacional e internacional) e vêm estes rústicos com questõezinhas insignificantes como o arranjo da rua X, a sinalização da estrada Y, as infiltrações da chuva na escola Z! Apre!! Que boçais!! 6 – E já agora, calhando em conversa, uma “faenazinha” para o antigo toureiro português Vítor Mendes intervindo a convite do Rotary Club de Santarém e expressando o seu desgosto por “nunca ter sentido cá, (em Portugal esclareça-se) a vontade férrea de matar um touro e cortar-lhes as orelhas”. E, conclui,” nunca pude ser feliz”!Coitadinho! Não se arranjará aí um tourito para o rapaz matar! Ou pelo menos cortar umas orelhazitas! Sei lá, mesmo que fosse um já moribundo: assim, como assim, já às portas da morte. Ou então um dotado de tendências suicidas! No fundo, se virmos bem, quase se não transgredia a lei! Era, assim, mais como um caso... de eutanásia! 7 - Para o Secretário de Estado do Ambiente (um personagem pouco menos que ignoto que dá pelo nome de José Eduardo Martins), durante a visita efectuada à bacia do Alviela, reformulando aí, de forma sublime, o princípio do poluidor/pagador em poluidor/ investidor. Entenda-se, a partir de agora, quem poluir tem de investir. É obra!E dizer que andamos, há anos, tentando infrutiferamente fazer crescer os índices de investimento. Quando afinal a solução tem a genialmente das coisas simples! Pelo menos, a avaliar pelo desrespeito ambiental que por aí vai, agora é que vai ser investir!8 – Para a afirmação de Moisés Espírito Santo, durante o Congresso Tauromáquico, considerando que a globalização não afecta as identidades regionais e nacionais e afirmando, inclusive, que tenderemos no futuro a “pensar global mas continuaremos a identificar-mo-nos localmente!”Conclusão: não é aconselhável ir a congressos tauromáquicos! Lá diz o povo: quem anda com coxos aos três dias manqueja!9 – Para as definições claras e concisas de competências e obrigações, no que respeita à questão candente das barreiras e muralhas de Santarém!Assim, o CSOP, recomenda que as medidas de precaução a implementar sejam da responsabilidade da Câmara, do SNB e do SPC. A observação do comportamento das encostas, do LNEC, a Ribeira de Alfange, do INAG, com apoio, é claro, do LNEC e respectivo acordo da Câmara. Finalmente, o tratamento da zona arqueológica, ficará a cargo do IPPAR, com apoio do LNEC e consultados a Câmara e a DGEMN!Decididamente, se as barreiras voltarem a cair, só pode ser mesmo má vontade divina!10 – Finalmente para o polémico presidente do Benfica do Ribatejo concretizando a retirada do clube dos distritais de futebol, após ameaça nesse sentido se o árbitros não fossem sérios e honestos até ao fim do campeonato.Depreende-se, assim, que os ditos não devem ter sido suficientemente “honestos e sérios”. Pelo menos, é claro, para os interesses do Benfica do Ribatejo! Sei lá, se calhar foram “honestos e sérios” para os outros. Mas , que diabo, também não se pode agradar a todos!E enquanto a hipótese de afirmação regional se vai tornando cada vez mais uma utopia, vai-nos valendo o pitoresco dos nossos devaneios. Podemos até, como dizem alguns, estar a ser patetas, deixando esvair por entre os dedos as derradeiras esperanças de sermos mais que a periferia da grande metrópole ou mero local de passagem para a Europa. Mas, pelo menos, somos patetas alegres!

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