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Terror e fotografias

Terror e fotografias

Protesto da CDU do Entroncamento contra homenagem a anteriores presidentes da câmara

Uma galeria de fotografias dos presidentes da Câmara do Entroncamento levou a um protesto do vereador da CDU que defende que os de antes do 25 de Abril deveriam ter sido excluídos. Uma novidade na visão daquele força política que nunca contestou a continuidade dos nomes dos visados na toponímia local.

O único vereador da CDU no executivo municipal do Entroncamento, António Ferreira, apresentou um protesto, na reunião de 2 de Dezembro, contra a colocação no salão nobre do edifício dos Paços do Concelho das fotografias dos presidentes de câmara anteriores ao 25 de Abril de 1974.A galeria dos Presidentes de Câmara do Entroncamento foi apresentada na sessão pública que assinalou o 58º aniversário da elevação do Entroncamento a concelho, dia 24 de Novembro. Na altura o presidente do actual executivo, Jaime Ramos (PSD) afirmou que pretendia com o gesto homenagear e perpetuar a memória daqueles que “deram o melhor de si para ajudar o Entroncamento”, mas a CDU entendeu fazer distinções e afirma no seu protesto que “homens de confiança de um regime de terror (…) não deveriam ser colocados juntos com “Ilustres Figuras da Democracia Local”.O protesto da CDU não foi secundado por nenhum dos restantes vereadores e mereceu alguns reparos. João Fanha Vieira (PSD), lembrou ao eleito da CDU que “A história de Portugal não começou no dia 25 de Abril de 1974.”, e considerou lamentável “associar pessoas de bem sem as quais o Entroncamento nem sequer seria concelho, a um regime de terror”. O autarca diria ainda, no comentário ao protesto que “a história não é para apagar. É para recordar”.Henrique Leal, vereador do BE, fez notar que não ter sido consultado para a colocação das fotos mas esclareceu que considera possível “preservar a memória contextualizando-a em relação à época” e que para ele a memória da história não tem que ser necessariamente partidarizada.Jaime Ramos é o 10º presidente da Câmara Municipal do Entroncamento. Desde a sua fundação, em 24 de Novembro de 1945 até ao 25 de Abril de 1974, o concelho teve 4 presidentes. Jacinto Marques Agostinho (1946-1947), José Duarte Coelho (1947-1959), Manuel Pedroso Gonçalves (1960-1961) e Eugénio Dias Poitout 1962-1974).O protesto da CDU pode ser interpretado como uma novidade na forma como aquela força política encara os anteriores presidentes de Câmara uma vez que em mais de 29 anos de democracia não há notícia de qualquer iniciativa das forças políticas que integram a coligação, nomeadamente do PCP, para que os nomes daqueles autarcas e de outros “homens de confiança” do anterior regime, fossem retirados da toponímia local. Só para dar alguns exemplos mais significativos, o largo que os vereadores da CDU têm atravessado ao longo das últimas três décadas para entrar no edifício da câmara tem o nome do 2º Presidente da Câmara, José Duarte Coelho, que também foi o primeiro presidente da Junta de Freguesia do Entroncamento quando esta foi constituída em 25 de Agosto de 1926. E o viaduto que atravessa as linhas de caminho de ferro, nas traseiras dos Paços do Concelho ostenta o nome do último presidente antes da revolução dos cravos, Eugénio Dias Poitout.O próprio “santuário por excelência da democracia no Entroncamento”, nome atribuído aos Paços do Concelho no texto de protesto do vereador da CDU, foi mandado construir quando o Entroncamento ainda era freguesia e no salão nobre figuram mármores que perpetuam dezenas de pessoas ligadas ao anterior regime. O mais significativo está à direita da mesa de honra, tem a data da fundação do concelho, e presta homenagem ao seu “criador”, Tenente-Coronel Júlio Botelho Moniz, Ilustre Ministro do Interior, bem como ao Governador Civil de Santarém da altura, Tenente-Coronel José Maria Rebelo Valente de Carvalho.
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