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Militante Manuel Serra D’Aire

A tua visão clínica detectou com sólida argumentação e refinada ironia as contradições de que enferma a posição política do vereador da CDU na Câmara do Entroncamento, que não quer ver, nem pintados, os retratos dos presidentes de câmara do antigo regime expostos no salão nobre do município dos comboios.Mas permite-me que dê uma achega para te dizer que se há alguém que deve estar a dar voltas no túmulo por causa dessa opção são os malogrados autarcas retratados. Depois de tanta obra feita sem leis de finanças locais nem fundos comunitários, sem mordomias nem ordenados chorudos, têm agora como prémio estar na formatura com autarcas que, embora eleitos, permitiram uma série de aberrações que transformaram o Entroncamento na Amadora do Ribatejo. Também não deixa de ser curioso que sejam os comunistas a levantar a lebre e a insurgirem-se contra a citada exposição fotográfica. Como sabes, eu até alinho com alguns dos seus ideais, da sua doutrina, mas a aplicação prática, meu caro, é que deixa muito a desejar. A prática e o excesso de queijo que mirra a memória dos praticantes dessa e doutras fés. Porque se é verdade que nos tempos de Salazar até os mortos votavam (e se Paulo Portas continuar no poder por muitos anos ainda hão-de voltar a votar), na extinta União Soviética ninguém votava, nem vivos nem mortos. E ai de quem piasse. Tanto lá como cá...Mas isso não invalida que não compreenda o protesto da CDU. Que na minha óptica até peca por defeito. Se eu fosse do Entroncamento sugeria que em vez dessas fotografias austeras de homens com patilhas de palmo colocassem lá coelhinhas da playboy em poses ousadas, mesmo que me acusassem de estar feito com os imperialistas americanos e os seus aliados ingleses.Rebobinando um pouco o filme: sabes que nestas coisas o pior que pode acontecer a um político é ninguém o conhecer, ninguém falar dele, nem que seja para lhe chamar nomes. O anonimato é mais triste do que o futebol do Benfica e do Sporting juntos. Já dizia o Andy Warhol que todos temos direito aos nossos minutinhos de fama. Nem que seja mergulhando no Tejo, como o professor Marcelo, protestando contra retratos ou inventando orçamentos participativos, como o presidente de Santarém. E se nem assim se conseguir, contratam-se agências de comunicação ou faz-se o pino no meio da Linha do Norte. O que é preciso é que falem deles.Só assim se compreende também que o presidente da Câmara do Cartaxo se tenha lembrado agora que os diques do seu concelho já não eram limpos há seis anos. Porquê agora e não no Verão passado? Ou há um ano? Ou há dois? Não sei! O que sei é que, por manifesta e feliz coincidência, obviamente, no dia seguinte ao alarme já andavam homens a limpar aquelas estruturas. Foi o responsável da protecção civil distrital quem os apanhou com a mão na massa e o proclamou depois aos sete ventos, com ar de quem tinha ganho a taluda do Natal. São estes verdadeiros milagres da época natalícia que nos fazem crer que pode haver um mundo melhor - onde, por exemplo, os diques sejam limpos a tempo e horas e as pontes não caiam -, e que o Pai Natal, afinal, existe mesmo...Um abraço natalício para ti e para todo o nosso vasto auditóriodo Serafim das Neves

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