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Uma manta de retalhos

Uma manta de retalhos

3º Congresso do Ribatejo começou na sexta-feira em Santarém sem projectos mobilizadores

O Congresso do Ribatejo arrancou em tom morno, apesar da boa vontade da Casa do Ribatejo, que promoveu o evento. A antiga província é hoje uma manta de retalhos dividida por quatro distritos onde falta coesão e projectos mobilizadores.

A sucessão de discursos que marcou a sessão de abertura do 3º Congresso do Ribatejo, realizada na sexta-feira em Santarém, causou efeitos devastadores na plateia, onde algumas das cerca de cem pessoas presentes acabaram vencidas pelo sono. Um facto que ilustra a ausência de ideias mobilizadoras e de palavras arrebatadoras no início de um congresso que se vai prolongar por 2004 em torno de um conceito abstracto que cada vez tem menos correspondência no terreno, em termos administrativos.Apesar de se estar na antecâmara de mais uma reforma administrativa que vai retalhar ainda mais a realidade física outrora consagrada em província, que foi o Ribatejo, quem esperava grandes cometimentos desiludiu-se. Embora o presidente da Associação de Municípios da Lezíria do Tejo e da Câmara de Almeirim, Sousa Gomes (PS), tenha deixado garantias que não é por a Lezíria do Tejo se agregar ao Alentejo ou o Médio Tejo à Região Centro que a identidade ribatejana vai desaparecer.Sousa Gomes referiu que essa opção dos autarcas foi “consciente”, tendo em conta a necessidade de as autarquias da região se separarem da Região de Lisboa e Vale do Tejo para continuarem a ter acesso a fundos comunitários para lá de 2006. Mas deixou bem claro: “Não quisemos, não queremos, nem nunca viremos a querer deixar de ser ribatejanos ou deixar de pertencer ao distrito de Santarém”. Depois dessa profissão de fé, a única que se ouviu nesse fim de tarde, vieram as reivindicações. Sousa Gomes quer que o Plano Operacional de Economia volte a ser aberto à nossa região e que se criem condições para promover os produtos da nossa agricultura. Defendeu ainda que as condições de financiamento dos nossos projectos sejam iguais às das outras regiões do país e que as grandes iniciativas da administração central se estendam a áreas como a da saúde, com a construção de uma unidade hospitalar na margem sul, e a da rede viária, com o cumprimento “em ritmo conveniente” do Plano Rodoviário Nacional.Outra excepção à linha discursiva de sublimação de memórias, e de exaltação a uma realidade regional conhecida pela esmagadora maioria dos presentes, acabou por ser protagonizada pelo antropólogo e professor Aurélio Lopes. Sobretudo porque deixou bem claras as responsabilidades dos políticos e/ou autarcas pelo que não se tem feito em prol da coesão regional. Começando pela incapacidade em organizar um congresso do Ribatejo, que acabou por ser promovido pela Casa do Ribatejo, uma entidade muito elogiada pelos oradores.Aurélio Lopes colocou o dedo na ferida ao aludir à “falta de liderança política forte”, à “ausência de solidariedade entre políticos” e ao “afastamento entre deputados ribatejanos e população e vice-versa”. Factores que, na sua perspectiva, permitiram o “surgimento de lobis que se preparam para esquartejar o distrito de Santarém e aquilo que já foi o Ribatejo”.Na plateia não se encontrava Miguel Relvas, o secretário de Estado da Administração Local mentor da anunciada reforma administrativa, que vai permitir a criação de novas comunidades urbanas e áreas metropolitanas. Mas no grande auditório do Centro Nacional de Exposições não faltaram caras conhecidas, desde autarcas a deputados, passando pelo ministro da Cultura, Pedro Roseta, que presidiu à sessão, e pelos governadores civis de Santarém e Setúbal. O presidente da assembleia geral da Casa do Ribatejo, Garcia Correia, explicou que aquele era o ponto de partida para o debate sobre a região nos 28 concelhos que a integram. Mas ao certo ainda ninguém sabe muito bem o que vai ser discutido, onde e por quem.
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