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Deixar as ruas num brinco

Deixar as ruas num brinco

Maria Fernanda Alves é cantoneira de limpeza em Azambuja

A cantoneira de limpeza Maria Fernanda Alves percorre as ruas de Azambuja com o aspirador automático. Todos os dias luta contra a falta de civismo daqueles que deixam papéis no chão e enchem as papeleiras do multibanco com sacos do lixo. A sua missão é deixar as ruas num brinco.

Alguns minutos antes das oito da manhã a cantoneira de limpeza, Maria Fernanda Alves, 41 anos, chega às instalações da Junta de Freguesia de Azambuja. É lá que se encontra o utensílio de trabalho que utiliza no dia a dia – um aspirador automático de rua.A cantoneira liga o aparelho, que provoca um ruído abafado, e percorre cuidadosamente os passeios com a ajuda do moderno equipamento urbano de limpeza. Só tem que direccionar o tubo do aspirador. A máquina, que funciona a gasolina, move-se automaticamente ao ritmo da limpeza.O dia de trabalho de Maria Fernanda Alves começa perto do quartel dos Bombeiros de Azambuja e prolonga-se pela rua principal da vila até à zona do Espaço Público de Actividades Culturais. Durante duas semanas por mês a cantoneira esmera-se na limpeza das ruas com a ajuda do aspirador. “A máquina é mais eficaz. Apanha melhor e não faz pó”, explica.Nas traseiras do aspirador está sempre à mão uma vassoura porque a máquina não sobe todos os passeios. A maior dificuldade é manusear o tubo do aspirador que às vezes se torna pesado.Nos dias em que o aspirador não está disponível tem que recorrer ao auxílio do velho carrinho que sustenta os baldes e a vassoura. É nesses dias que se desloca para a zona mais alta da vila.A proximidade do local de trabalho permite-lhe tomar as refeições sempre em casa. Por volta das 16h00 está novamente de regresso. Sobram-lhe ainda várias horas para se ocupar dos trabalhos domésticos. O trabalho concentra-se de segunda a sexta-feira e só em dias de festa a funcionária é recrutada para operações de limpeza ao fim de semana. Todos os dias Maria Fernanda Alves luta contra a falta de civismo daqueles que colocam sacos de lixo nas papeleiras das caixas multibanco e deixam papéis e jornais no chão. “Há quem deite papéis no chão com o contentor mesmo ao lado”, revela. A zona da estação ferroviária de Azambuja é mais suja. A cantoneira encontra muitas vezes restos de limão e seringas por baixo da passagem aérea. É por causa dos riscos que enfrenta diariamente que não dispensa as suas luvas. Por enquanto, ainda não possui equipamento próprio para o trabalho de limpeza. Utiliza apenas a roupa própria que protege com uma bata.Há cinco anos que Maria Fernanda Alves trabalha como cantoneira de limpeza para a Câmara Municipal de Azambuja. Sente-se realizada com um trabalho que considera tão digno como qual-quer outra profissão.Antes de concorrer para o lugar foi distribuidora de gás durante vários anos. Revela com orgulho que foi quem estreou a carrinha que ainda hoje percorre as ruas da vila a fazer as entregas. O trabalho pesado de transportar botijas cheias de combustível sozinha para terceiros e quartos andares nunca a assustou. “Acho que as pessoas me admiravam mais nessa altura”, confessa. Só decidiu mudar de vida porque encontrou uma melhor oportunidade de emprego.Antes disso já tinha experimentado o duro trabalho do campo nas plantações de tomate e vinha e o serviço de despejar os contentores no camião do lixo. Quando andava suspensa no camião tinha por hábito espreitar para o interior do caixote. “Tinha a sensação de alguém poderia ter abandonado lá um bebé”, recorda. Mas o sonho da mulher que já foi condutora de ambulâncias nos Bombeiros de Azambuja era tirar a carta de condução de veículos pesados e passar os seus dias a viajar, lá em cima, ao volante de um autocarro.Ana Santiago
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