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Um homem de esquerda que não se sente político

Um homem de esquerda que não se sente político

António Peixinho, presidente da Junta de Freguesia de Ulme

Tem 55 anos, uma vida construída com muito trabalho e um grande desgosto que lhe bateu à porta na força da juventude. António Peixinho, presidente da Junta de Freguesia de Ulme, eleito como independente nas listas da CDU, viu a sua vida condicionada pela amputação de uma perna. Foi na guerra colonial, a 7 de Novembro de 1971, quando foi apanhado por uma mina anti-pessoal. Tinha 21 anos. Hoje usa uma prótese, faz uma vida normal, mas não se esquece das limitações que teve.

“Esse foi o momento mais marcante, pela negativa, na minha vida”, desabafa, contando que não podia jogar à bola com os colegas, como fazia quando era criança. Para tentar esquecer esses momentos e não ser afectado pelo stress de guerra tenta estar sempre ocupado, ao ponto de dizer que não tem tempos livres. Nem para ler livros. A única leitura que faz é a de jornais. Considera-se uma pessoa calma que gosta de programar todos os passos que tem que dar, apesar de não fazer grandes planos para o futuro. “Vou vivendo a vida conforme as coisas vão acontecendo”. Confessa que não já não se chateia com nada e tenta não se irritar. Não tem por hábito ir ao café, preferindo passar os fins-de-semana com a mulher a arranjar o quintal de casa. Gosta de conviver, mas começa a ficar desanimado com o comportamento da sociedade. “Neste momento, sinto que as pessoas vivem só para elas. Para conviver, é preciso que as pessoas estejam abertas e que não estejam a pensar só em enganar o parceiro”, comenta.António Peixinho começou a trabalhar aos 12 anos de idade, a guardar gado com o avô. O dinheiro que ganhava servia para ajudar nos gastos da casa, até porque na altura a vida não era fácil. Mais tarde, foi trabalhar para a fábrica de papel de Ulme, onde esteve até 1986, altura em que a empresa faliu.Entrou na política activa em 1982, altura em que foi eleito presidente da junta de freguesia nas listas do PCP. Exerceu o cargo até 1989, quando perdeu as eleições. Voltou ao cargo em 1993, até agora. Não se considera um político, mas garante que nunca se candidataria por outro partido, porque se sente um homem de esquerda. “Nunca assumi um cargo activo num partido porque não me sinto político. Sou uma pessoa ligada à terra e gosto de resolver os problemas das pessoas e da freguesia sem estar amarrado a ideo-logias, ou a mandamentos de um partido. Não estou cá para defender os interesses do partido. Dou-me com toda a gente de todas as tendências políticas”, reforça.Dos tempos de infância recorda os momentos em jogava futebol com as outras crianças da terra, no intervalo do trabalho. Era capaz de andar, se tivesse disponibilidade para isso, um dia inteiro atrás da bola. Também na altura pouco havia para fazer. Uma vez por outra, em média uma vez por mês, ia ao cinema à Chamusca. As dificuldades que teve ao longo dos seus 55 anos leva-o a dizer que gostava de ter uma vida melhor. Chegou a jogar todas as semanas no totoloto para ver se ganhava algum prémio, mas desistiu há dois anos desanimado por nunca ter ganho nada. “Cheguei à conclusão que só se consegue ter alguma coisa com o trabalho”, comenta. Tem como defeito, ou virtude, dependendo das perspectivas, pensar muito nos problemas. Não é extrovertido nem gosta de grandes farras. Só bebe vinho às refeições. Talvez porque leva à risca o seu lema de vida que é o de controlar as situações e não dar passos maiores que as pernas.
Um homem de esquerda que não se sente político

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